Aqui há dias estava a gravar uns vídeos para o TikTok e dei por mim a perguntar-me o que pensariam os meus colegas de licenciatura se vissem o à-vontade que ganhei a falar com pessoas ou para pessoas. Certamente ficariam surpreendidos. Uns dias depois cruzei-me com um texto que escrevi em janeiro de 2016 em que fazia logo uma pergunta difícil no título: quantas coisas não fizeste por causa dos outros? Fiquei a pensar em tudo isto, claro.
Sempre fui muito calada na maior parte dos contextos sociais. Hoje sei que sou uma pessoa mais introvertida, mas não necessariamente tímida. Mas só depois de alguma terapia percebi que a ansiedade social que sentia na escola ou noutros contextos vinha de um lugar diferente, que não era a introversão. Tinha de vir. Com amigos, num núcleo seguro, eu conseguia ser muito mais eu. Só não conseguia fazê-lo noutros contextos — isso exigia um esforço tão grande que me deixava exausta.
Mas depois vieram as redes sociais, mais particularmente o Instagram e o Snapchat. Acho que o Snapchat teve um papel importante para eu ganhar algum à-vontade a falar na internet. Era um lugar mais controlado, com pessoas que me deixavam confortável, portanto eu ia mostrado mais coisas, falava mais, partilhava mais da minha personalidade. E comecei a fazê-lo mais no Instagram por causa disso.
No tal texto de 2016, com 21 anos feitos há umas semanas, falava sobre um comentário de uma amiga que dizia que gostava de ter coragem para mostrar as figuras que fazia — eu partilhava vídeos de lipsync, dancinhas pela casa, pensamentos aleatórios. E eu refletia sobre como me sentia numa fase de mudança em que dava por mim a pensar nas coisas que não tinha feito por causa dos outros, nas oportunidades desperdiçadas por medo do ridículo ou simplesmente por medo da opinião dos outros.
Agora, oito anos depois, penso na miúda de 21 anos que queria mesmo deixar o medo de lado mais vezes e arriscar mais e pergunto-me o que é que ela acharia destes oito anos. Acredito que ficaria orgulhosa porque naquele ano o batom vermelho tornou-se a minha cena. Usava-o praticamente todos os dias. Acredito que ficaria surpreendida por saber que não só fui para o Tinder como a certo ponto até fiz toda uma série num podcast sobre isso. Tenho a certeza de que ficaria contente por saber que tinha metido de lado as ideias feitas sobre não ter voz para rádio e sobre o medo de ser julgada por isso e tinha criado um podcast.
Ter trabalhado em atendimento ao público forçou a minha confiança em falar com pessoas. Quando estás a trabalhar na receção de um lugar tens de receber as pessoas e pronto, não há muita volta a dar. Aqueles meses ajudaram muito a firmar aquilo que sentia que vinha a acontecer há anos: eu estava a ganhar a confiança certa em mim. Confiança para fazer as coisas de que gostava, para partilhar opiniões socialmente sem quase me dar um piripaque, para criar conteúdos em vídeo.
Claro que às vezes ainda há uma vozinha que me diz que vão gozar comigo, claro que às vezes ainda tenho de reforçar que a minha opinião tem de ser ouvida, claro que às vezes deixo que o medo do ridículo ganhe. Mas deixo cada vez mais que o meu lado introvertido viva com o meu lado comunicador em harmonia.
Acredito que a minha escrita mostra muito mais de mim do que o meu podcast ou do que os vídeos que possa fazer, mas partilhar a escrita sempre foi muito mais fácil e natural do que tudo o resto. Na escrita não estás a ver diretamente a minha cara, não estás a ouvir a minha voz, não estás a lidar com o meu aspeto, só com as minhas palavras. Começar a partilhar mais do que as palavras era algo que eu queria e é algo que sei que tenho de fazer na era das redes sociais. Mas também é algo que gosto de fazer.
Claro que às vezes ainda há coisas que deixo de fazer por causa dos outros. Não vou ao cinema sozinha, fico dias, semanas, meses a remoer em sentimentos não confessados, não faço tantas histórias a falar. Mas quando o quero beijar quero e vou, quando quero fazer um vídeo faço e publico, quando percebo que não posso deixar a síndrome de impostor ganhar eu luto, quando tenho de ser a minha versão mais comunicadora eu vou e sou. A Sofia de 21 anos ficaria feliz por saber.
Acredito que tudo tem um propósito na nossa vida e tudo acontece no momento certo, nem antes nem depois. Estamos sempre a evoluir.