- Quando: 5 a 7 de dezembro de 2023
- Gatilhos: saúde mental
Vou desde já fazer aqui a minha declaração de interesses: conheço o Raminhos há muitos muitos anos. O 5 para a meia-noite era um dos meus programas preferidos e, pela internet, procurava constantemente sketches humorísticos. Lembro-me perfeitamente de encontrar um vídeo do Raminhos e, de repente, reconhecer o lugar onde ele tinha gravado. Conhecia bem aquela rua — era a rua onde os meus tios viviam em Lisboa. Tive o privilégio de o conhecer pessoalmente em 2010, eu uma miúda de 15 anos super tímida e ele uma pessoa tão pés-na-terra e com uma expressão garantidamente cómica.
O Raminhos fez a licenciatura que eu queria fazer, assim como a Catarina, e lembro-me de, na altura, falarmos sobre isso e ele me dar ainda mais vontade de seguir para a ESCS. O jornalismo já tinha ficado para trás para ele, mas o que me motivou foi ele dizer que eu ia aprender muito lá, acontecesse o que acontecesse depois disso.
Nos últimos anos, houve outra questão na vida do Raminhos que me inspirou muito: ele começou a falar abertamente sobre saúde mental. Talvez agora possa parecer que toda a gente fala sobre saúde mental, mas quando ele começou a abordar o tema, principalmente a Perturbação Obsessiva-Compulsiva, ainda era quase novidade alguém falar abertamente sobre estas questões. Somos Todos Estranhos vem, precisamente, no seguimento desta postura.
Depois de um prefácio escrito pelo dr. Cláudio Fernandes, psicólogo clínico, e da nota introdutória do autor, Somos Todos Estranhos divide-se em 13 capítulos ao longo dos quais acompanhamos todo o percurso do Raminhos desde a infância até compreender o que era isto que se passava na cabeça dele e tudo o resto com que tem de se lidar depois desse diagnóstico.
A abordagem do Raminhos para aprender a viver com ansiedade e perturbação obsessivo-compulsiva envolveu terapia, medicação e, percebemos no livro, uma busca por algo mais. Há uma abordagem mais ligada à meditação, ao mindfulness. Se, para mim, há muito da auto-ajuda que não funciona nem me interessa, a verdade é que cada um procura as ferramentas que melhor lhe servem e falar delas pode ajudar outras pessoas — é tão importante falar.
Não é um livro para dar respostas, mas é um livro que partilha uma experiência muito particular, com uma abordagem que pode ou não resultar connosco, mas que é tão válida quanto qualquer outra. Às vezes também é preciso perceber o que os outros fizeram para nos sentirmos mais tranquilos com o caminho que nós próprios escolhemos fazer.