acho que foi a internet que me educou para aquela coisa de aproveitar o momento, ir pelas pequenas coisas e todos esses clichês pelos quais nos regemos. acho que nenhuma geração anterior tinha estas preocupações, estas vontades. até podia haver muito para viver, mas não parecia haver urgência em estar tão presente. quando deixámos de estar presentes? quando passámos a precisar de nos lembrarmos de estar presentes?
nem estou apenas a falar daquela necessidade estranha de nos lembrarmos de pousar o telemóvel e ouvir a conversa em que estamos envolvidos ou de nos lembrarmos de viver o momento para nós e não para o que queremos mostrar aos outros. acho que estou a falar de tudo. quando é que começámos a precisar de lembretes para viver?
pior: quando é captar momentos começou a ser tido como uma incapacidade de aproveitar o que estamos a captar? não conseguimos fazer as duas coisas? o pôr-do-sol não deixa de ser belo só porque tiramos dois segundos para o fotografar e não deixamos de o admirar só porque em algum momento o vemos por uma câmara.
fico a lembrar-me de um excerto da Ann Napolitano. lembro-me dele em momentos espaçados, muitas vezes não relacionados. a ver o pôr-do-sol na praia ou na Ribeira. a conduzir na vci enquanto julgo a manobra perigosa da carrinha à minha frente e canto the police em plenos pulmões apesar da hora tardia. a recuperar fôlego encostada ao ombro dele.
quando William e Sylvie se beijam pela primeira vez em hello, beautiful, a autora escreve assim: «com o corpo leve, ela experimentou uma nova forma de alegria e significado. pensou: é por isto que vivemos.»
é por isto que vivemos. naqueles beijos que sabemos que nos vão lixar para sempre. naqueles parágrafos que nos saem tão facilmente que parece que esperaram toda a nossa vida para serem escritos. naquelas corridas com o nosso animal de estimação.
vejo estes fins de dia na cidade que escolhi para chamar de casa e penso sempre, sem exceção, é por isto que vivemos. também é por isto que vivemos.
Também é por isto que vivemos: por estes rasgos de escrita que nos inspiram e nos parecem ler a alma!
Vou colar este texto na testa, porque é dos meus favoritos que já li aqui pelo teu blogue. Tão simples e tão bonito!
Oh pá!!! 😭😭😭