Uma das coisas que que mais me chateia entre o fim de um ano e o início de outro é a discussão que se cria à volta da quantidade de livros que uma pessoa lê ou quer ler num ano. Em primeiro lugar, é uma discussão pouco produtiva. Em segundo lugar, é uma discussão sem sentido. Em terceiro lugar, é uma discussão que parece sempre existir em tom acusatório, seja para que lado for.
Considero-me uma pessoa que lê muito, algo que só acontece porque leio relativamente rápido e dou prioridade à leitura. Mas continuo a ter uma vida, continuo a fazer outras coisas, continuo a ter uma série de atividades que não envolvem leitura. Simplesmente tenho dado prioridade aos livros — porque quero e porque posso.
Com tudo isto, decidi começar o ano a fazer um vídeo sobre criar mais momentos para ler, algo que acho que ajuda mais do que reclamar que quem lê muito não tem vida e quem lê pouco não sabe organizar-se. Para mim é, acima de tudo, uma questão de hábito. E os hábitos criam-se com paciência.
@asofiaworld li 110 livros em 2023. sim, é um número fixe. sim, leio relativamente rápido. sim, tenho uma vida. acho ótimo quando alguém quer ler mais, mas acho que este ler mais de ser criar mais momentos para ler e não algo focado unicamente na quantidade de livros que se lê. estas são algumas dicas para criar mais momentos para ler. #livros #lermais #tempoparaler #booktok #booktokportugal ♬ original sound - Sofia Costa Lima
Como criar mais momentos para ler
O meu foco no vídeo e, por consequência, neste texto é falar sobre criar mais momentos para ler. Para mim faz sentido estabelecer objetivos anuais de leitura porque a leitura já é algo comum na minha vida e porque esses números não me fazem sentir qualquer tipo de pressão — são apenas uma espécie de previsão. No entanto, há pessoas para quem estabelecer objetivos não faz sentido — porque não querem a pressão, porque não têm hábitos de leitura regulares, porque simplesmente não querem. E, como tal, discutir o que se quer ler não faz sentido. Mas, para mim, faz sentido tentar perceber como criar mais momentos para ler no dia-a-dia, ou seja, como tornar a leitura um hábito mais estabelecido.
- Andar sempre com um livro.
Sinto que é a base de tudo isto e resulta. Quem tem e-readers tem a vida facilitada porque não precisa de tanto espaço para andar sempre com um livro, mas também não é por aí que o gato vai às filhoses. Se tivermos sempre um livro connosco e nos depararmos com algum momento em que temos de esperar por alguma coisa ou em que não temos nada para fazer podemos optar por pegar no livro em vez de pegar no telemóvel.
- Não ter preconceitos com géneros literários.
Há quem ache que ler banda desenhada e novelas gráficas não é bem ler, há quem ache que livros de crónicas não são bem livros a sério. E por aí adiante. Estes preconceitos que se vão criando à volta de géneros literários não fazem bem a ninguém e podem estar a limitar, consciente ou inconscientemente, as escolhas de quem quer ler. Em vez de escolherem géneros de que gostam, estes leitores vão estar a escolher livros pelos quais não têm interesse porque os outros não são a sério. Mas são. Encontrem os géneros de que gostam e leiam-nos. Não importa quais são. Mais tarde podem abrir horizontes, porque também é bom, mas primeiro leiam aquilo que gostam de ler. Sem medos, sem preconceitos.
- Juntar-se a clubes de leitura.
Havemos de falar melhor sobre clubes de leitura um dia destes, mas acho que é um bom ponto de partida. Não tens de te juntar a todos, até porque pode tornar-se uma sobrecarga, mas escolhe um com o qual aches que te identificas mais. Vais querer participar nas discussões mensais, por isso tens motivação extra para ler, e as conversas constantes sobre livros podem ajudar-te a querer ler também aqueles livros.
- Ler um livro de cada vez.
Falei sobre isto recentemente, mas vou repetir. Para mim isto funcionou muito bem porque normalmente quando estou a ler algo e começo outra coisa é porque ou não estou a gostar do que estou a ler ou estou em alguma fase mais ansiosa. Além disso, sinto que acabo por ler mais rápido porque todo o tempo de leitura é dedicado apenas àquele livro. Mas isso sou eu de agora. Eu de há uns anos não era assim.
- Experimentar audiolivros.
Para mim ainda não é uma opção, mas optar por audiolivros pode resultar. A conduzir, a fazer tarefas domésticas ou até a fazer exercício físico, podes ter um livro a acompanhar-te e, assim, criar ali mais um momento para ler. Como ouço muitos podcasts acabo por ter esta relação com os podcasts e os audiolivros ainda não me atraíram, mas talvez um dia destes.
- Parar de comparar.
Acho que esta é a grande conclusão desta publicação e, sinceramente, a grande conclusão para as discussões sobre quantos livros se lê. Há quem leia mais rápido. Há quem chegue ao fim do dia e ainda consiga ler. Há quem só consiga ler ao fim-de-semana. Há quem consiga ler nas pausas de almoço e quem não o consiga fazer. Há quem tenha tempo para ocupar em transportes públicos. Se todos temos ritmos de vida diferentes e todos temos ritmos de leitura diferentes, claramente vamos conseguir ler, em quantidade, de forma diferente.
Isto não é uma competição. Não é preciso querer ler tanto como ou mais do que alguém. É preciso querer ler, isso sim. A leitura é suposto ser prazerosa. Se causa ansiedade é porque algo está errado.
Desde adolescente que adoro ler e leio sempre que posso. Há meses que leio mais que outros, e está tudo bem. Para mim o que importa é ler que é uma coisa que gosto tanto. 🙂 Não me importo se leio 50 e a vizinha só leu 10. Cada um tem o seu ritmo e tudo bem.