como é linda a puta da vida [miguel esteves cardoso]

Está bem que o leio no Público, mas não lia Miguel Esteves Cardoso em crónica — em livro — há quatro anos e as saudades fizeram-me pegar neste Como é Linda a Puta da Vida. Este livro tem um lugar especial no meu coração (e nas minhas prateleiras literárias) porque foi o primeiro livro do MEC que li e comprei, em 2013. Na altura talvez tivesse pouco mais de vinte livros e ainda estava a descobrir aquilo que gostava de ler, por isso pegava em muita coisa diferente. Lembro-me de pedir à minha mãe para comprar este e O Amor é Fodido, unicamente porque lia ocasionalmente as crónicas dele no Público e queria ler mais dele.

Descobri agora que, na altura, dobrava os cantinhos das páginas que tinham citações de que gostava. Que citações são essas? Tenho algumas apostas, mas nenhumas certezas. Desta vez fui de lápis e post-its, sem medos — como se vai sempre que se começa uma crónica do MEC.

O livro foi originalmente publicado em 2013, pelo que contém crónicas ali do início da década de 2010, e começa com um capítulo que sempre guardei na memória: o capítulo dedicado à Maria João, a mulher do MEC. É um capítulo com várias crónicas que acompanham muito do processo pelo qual a Maria João passou quando teve cancro — até ao momento em que lhe disseram que estava livre de cancro. Sempre me questionei se tinha sido esse momento o momento como é linda a puta da vida, porque para mim seria.

Quando queremos ser mais velhos do que somos, e fazemos tudo para ter vivido tanto como eles, é-nos roubada a juventude. Fiz bem com o arroz doce quente. As alegrias também se poupam e adiam. Devem guardar-se. Faz mal quem se antecipa tanto que lhe escapa a felicidade de saber o que lhe está a acontecer. Antes de ser tarde.

Como acontece em muitas das crónicas do MEC, há uma forte presença portuguesa: nos passeios, na comida, em Colares. A comida é, aliás, um tema recorrente, desde as cerejas ao peixe, até à história do arroz doce quente.

A minha relação com o talento cronista do MEC começou naquele verão de 2013 e mantém-se porque, como disse, o leio regularmente no Público. No entanto, sinto que em livro é sempre diferente, as crónicas saboreiam-se de forma diferente quando estão num livro. As de Como é Linda a Puta da Vida fizeram-me mesmo pensar nas pequenas coisas que fazem com a vida — mesmo quando é uma puta — tenha alguma beleza. Não sei bem o que pensou a Sofia de 18 anos, mas certamente não terá olhado para certas crónicas da mesma forma com que eu olhei agora.

O MEC é um cronista exímio e sinto que este livro foi um bom ponto de partida na altura e um bom regresso agora. Ao longo de todas as crónicas que já li dele, há sempre alguma nostalgia, algum saudosismo e uma espécie de relação de paixão e de crítica com Portugal. Este livro tem um bocadinho de tudo isso, em doses pequenas, não vá o leitor deixar-se fascinar por completo.

Título original: Como é Linda a Puta da Vida
Autor: Miguel Esteves Cardoso
Ano: 2013 

como é linda a puta da vida Miguel Esteves Cardoso

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