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O Nuno Markl é uma figura incontornável da rádio e do humor — e acho que ele gostaria de ver um texto começar precisamente a dizer que ele é uma figura incontornável. Enquanto escritor, já o tinha lido em três livros de O Homem que Mordeu o Cão e em Miopia e Astigmatismo, mas quando a Andreia o escolheu como autor de junho do Alma Lusitana achei que tinha aqui uma boa oportunidade para ir para um livro mais recente com o qual tinha curiosidade: Manual de Instruções.

Manual de Instruções parte de um argumento escrito pelo Markl para cinema, no entanto o argumento nunca foi transformado em filme e o Miguel Jorge sugeriu dar-lhe vida de outra forma — em banda desenhada. Nesta história, Alberto, a personagem principal, é o melhor escritor no seu género: o dos manuais de instruções. No entanto, no caminho para se tornar o melhor da sua área de escrita tornou-se o pior da sua área familiar: é um pai distraído e um marido desinteressado. Ao perceber que a sua vida familiar está a ir por água abaixo, Alberto encontra ajuda em duas personagens muito peculiares: o ladrão Jaime (que parece uma tartaruga ninja e ninguém que vai convencer do contrário) e a acompanhante de luxo Aurora, que o vão ajudar a dar a volta à sua vida da forma mais única possível.

Não conhecia o trabalho do Miguel Jorge e gostei muito, acho que conseguiu dar vida à história como se ela tivesse sido sempre pensada para banda desenhada. Quanto à história em si, não me convenceu completamente. Gosto da premissa cómica de ser o melhor escritor de manual de instruções e da forma como Alberto e Jaime se cruzam, mas senti que a história se perdia a certo ponto e parecia ser mais do mesmo, sem grande desenvolvimento, em que se cortavam partes facilmente e a história soava ao mesmo. Acho que poderia ter sido trabalhada melhor e talvez se tornasse uma história melhor para a premissa que tem.

Ainda assim, acredito realmente que o Nuno Markl tem um talento especial para contar histórias que, não sendo necessariamente cómicas, têm uma boa dose de humor, sem esquecer as grandes questões da vida. No filme que escreveu, Refrigerantes e Canções de Amor, há um bocadinho esta ideia de história de amor com humor, com personagens peculiares que, na verdade, são muito mais do que os seus traços cómicos. Acho que este é um tipo de histórias em que o Markl se sente particularmente confortável e sei que podem resultar se forem devidamente trabalhadas. Ficaremos para ver que histórias nos contará no futuro.