como tentar melhorar a ansiedade financeira

O assunto é sensível, mas acredito que já temos alguma intimidade para falar dele: vamos falar sobre dinheiro. No fundo, com um ano novo a começar, achei que era uma boa altura para tentar vir em modo jornada financeira e deixar uma visão geral sobre como estou a gerir o meu dinheiro depois de alguns anos mais exigentes para a minha conta bancária. Pouparsempre foi palavra de ordem na minha vida e acho que todas as dificuldades financeiras que fui passando me deixaram com um certo nível de ansiedade financeira, o que talvez motive esta minha necessidade de ser tão regrada quando o assunto é dinheiro.

Desde que comecei a trabalhar, nunca me senti totalmente segura. Em primeiro lugar porque todos os trabalhos na área que tive antes do atual pagavam apenas o ordenado mínimo, em segundo lugar porque só num dos meus anos de trabalho estive a viver em casa da minha mãe, em terceiro lugar: alguém se sente realmente seguro financeiramente?

Entre pagar o mestrado, o dentista, e usar o fundo de emergência que tinha até à exaustão durante algum do tempo em que estive desempregada, vim para um novo ano muito focada financeiramente. Por um lado, fiz vários investimentos caros no fim do ano; por outro lado, também mudei de casa e, por isso, passei a estruturar o meu orçamento de outra forma. Já tive PPR, já estudei muito sobre finanças e investimentos e sinto que, neste momento, estou a começar quase de novo na estrutura que criei para me orientar em 2025. Como sei que aquilo que mais me fez falta quando procurava dicas para organização financeira foi ter exemplos realistas mais semelhantes à minha realidade (salarial, familiar e até de mentalidade), decidi vir armada em especialista deixar algumas dicas que foram a base para o meu plano de 2025, como pessoa que paga renda de quarto, despesas da casa, despesas do carro e outras que tal com um salário abaixo do salário médio nacional.

Para começar: auditoria às contas

No último trimestre de 2024 registei todos os gastos e ganhos de forma a perceber exatamente para onde estava a ir o meu dinheiro. Também foi uma forma de voltar a ganhar o hábito de registar gastos regularmente, algo que já fiz anteriormente, mas deixei de fazer a certa altura.

Registei também o dinheiro que tinha em poupança e comecei a usar uma função da aplicação do Millennium BCP, o Apparte, para pequenas poupanças que têm objetivos mais imediatos.

Organizar um orçamento familiar

Faço-o no Excel, mas acredito que dê para funcionar com papel e caneta. Arranjei um template gratuito onde registo todos os ganhos (salário, subsídio de alimentação e dinheiro que me possam dar nos anos ou no natal) e todos os gastos, nas mais variadas áreas. Defini também, em cada mês, quanto dinheiro posso gastar em cada área. Incluí ainda o que poupo e uso tabelas específicas para ver a evolução de poupança.

Nos gastos registo:

  • Casa (renda, luz, água, gás, internet e supermercado)
  • Transporte (gasolina, via verde, transportes públicos e outros gastos com o carro)
  • Saúde (medicação, dentista, psicóloga, etc.)
  • Subscrições (Spotify, Kobo Plus, seguros tecnológicos, gastos com o alojamento do blog, cloud)
  • Comer Fora/Take Away
  • Beleza e Bem Estar (normalmente é apenas depilação e a ida ocasional ao cabeleireiro)
  • Consumo (roupa, cosmética, livros, cinema, etc.)

Criar um fundo de emergência

Dizem os especialistas que devemos ter de parte o valor suficiente para cobrir entre 3 a 6 meses de despesas (12 meses se trabalharmos de forma independente). Como usei o meu em desemprego, estou a recriá-lo, com o objetivo de chegar aos tais seis meses de despesas. Neste momento já tenho algum dinheiro de parte, mas pretendo duplicar esse valor até ao final do ano. Estou a usar uma conta-poupança muito simples, com crédito de juros mensal na conta.

Quando chegar ao valor que pretendo, vou voltar a fazer alguns investimentos — voltar ao PPR e investir noutros produtos financeiros. Como o ideal é assegurar o fundo de emergência primeiro, há sempre um tempo em que podemos aproveitar para estudar sobre os produtos financeiros disponíveis antes de arriscar em algum.

Poupança automática

No dia em que recebo salário tenho uma automação no banco para transferir automaticamente 50€ para a conta-poupança (que, neste caso, é o fundo de emergência). Apesar de no final do mês tentar sempre transferir algum dinheiro extra para a poupança, ter esta transferência automática é uma excelente ajuda para facilitar a poupança. O ideal seria poupar logo 10% do que ganho, mas neste momento é algo que não consigo fazer uma vez.

Subscrições revistas mensalmente

Já me disseram que é um trabalho extra e que é um bocadinho esquisito, mas em serviços de streaming ou leitura, só há um que pago todos os meses: o Spotify. De resto tanto no Kobo Plus como em serviços de streaming tenho o hábito de subscrever apenas quando sei que vou usar. Não só poupo algum dinheiro como acabo por gerir melhor o uso destas plataformas.

Objetivos financeiros definidos

Não sei se sentes o mesmo, mas eu gosto de ter uma ideia concreta daquilo para o qual estou a poupar. Quando estava a poupar para vir fazer mestrado para o Porto chamei à conta-poupança Plano Poupança Porto, uma lembrança clara do motivo para estar a juntar aquele dinheiro. Claro que às vezes estamos só a tentar poupar para ter uma almofada financeira confortável, mas isso para mim já é específico o suficiente:

  • Poupar para ter 6 meses de despesas no fundo de emergência;
  • Poupar para pagar o crédito que fizeste antecipadamente, na data X;
  • Poupar para comprar livros na Feira do Livro;
  • Poupar para dar entrada de uma casa.

Nem todos vão parecer objetivos fáceis de atingir, mas a ideia é estruturar e fazer o melhor possível.

Ter margem no orçamento para conseguir viver um bocadinho

Ser poupada, ter um orçamento muito certinho e cumpri-lo é ótimo, mas também quero ter liberdade para gastar um bocadinho mais num jantar, para comprar um livro fora do plano ou comprar um batom mais caro ou um vestido que adorei à primeira vista. É por isso que estruturo o meu orçamento de forma a tentar que sobre sempre o mesmo valor ao final do mês para ter uma espécie de extra para se houver alguma despesa extra ou um imprevisto no mês seguinte.

Curiosamente, dos tempos em que ganhava o ordenado mínimo para agora a grande diferença está mesmo no facto de os preços das rendas estarem cada vez mais caros e, por isso, o peso das despesas de casa ter aumentado. De resto, a filosofia é a mesma. O objetivo principal? Aligeirar a ansiedade financeira. Os outros lá se compõem.

partilha a tua teoria...