No início do verão de 2015 sentei-me na secretária do quarto que partilhava com a minha mãe, em casa da minha avó, e comecei a pôr em prática todos os conhecimentos que tinha de HTML e CSS. Quando não sabia como fazer o que queria, o Google respondia às minhas questões. Eram horas a fio passadas a escrever código em vez de escrever palavras. Podia ter usado aqueles primeiros dias após o fim do 2.º ano do curso de jornalismo de qualquer maneira, mas aquilo que eu queria mesmo era começar do zero na blogosfera. Precisava de criar um espaço que pudesse crescer comigo como o anterior não estava a conseguir fazer. O anterior não parecia conseguir sair comigo da adolescência e encarar o início dos 20. Precisava de um espaço que abraçasse o início dos 20 e os percorresse comigo, disposto a crescer e a mudar conforme os anos fossem passando, enfrentando a crise dos 25, o aproximar dos 30. Precisava de concluir uma licenciatura, fazer uma pós-graduação, enfrentar desemprego, desilusões profissionais, o crescimento da ansiedade, uma pandemia, um mestrado, uma desilusão amorosa, várias cidades, várias pessoas. Quando no início do verão de 2015 me sentei a criar os alicerces de algo que viveria em asofiaworld.com sabia que estava a começar uma relação duradoura, daquelas que podem enfrentar muitas dores de crescimento, e tinha plena consciência de que estaria a criar um repositório de textos que podiam vir a envergonhar-me dez anos depois.
Celebramos hoje dez anos de crescimento juntos e acredito cada vez mais que só continuamos a crescer juntos porque sempre soubemos, de início, que o objetivo era esse — crescer juntos. É certo que, na altura, achei que seria um processo mais simples, linear. Seria sempre fácil mantermo-nos perto. Mas a relação com a escrita — como qualquer relação longa — passa por muitas fases, exige muito investimento, exige afastamentos e aproximações. Connosco houve uma fase de grande dependência, talvez nos primeiros cinco anos, e uma fase de grande conflito, experimentação e mudança nos últimos anos.
Lembro-me de que passei por uma fase semelhante quando cheguei ao curso de jornalismo. Nos primeiros semestres a minha escrita foi obrigada a mudar, a crescer, a tentar colocar-se ao nível jornalístico dos colegas soberbos que tinha. As duas primeiras questões eram fundamentais, claro. É passar da adolescência aos primeiros anos da idade adulta. A última questão era impossível: eu não ia ser jornalista como eles. No entanto, aquela mudança era necessária. Depois vem a vida e trata de definir que outras mudanças serão também necessárias.
Não tem sido tão certo para mim, nos últimos anos, que vá escrever na internet para sempre, ou lá o que é um prazo temporal enorme. Há um ano quase deixei de o fazer, algo que nunca tinha considerado com tanta seriedade até então. Um ano depois tenho a certeza de que preciso de parar, reagrupar e reestruturar. A grande dificuldade da criação tem sido a falta de tempo. Não consigo escrever para tudo quando quero e se, há uns anos, achava que trabalhava para a escrita mais do que qualquer pessoa que conhecia e era injusto quando não via frutos do meu trabalho, hoje em dia acho que não consigo chegar tão longe porque não estou a trabalhar para a escrita tanto quanto os outros. Honestamente, não tenho conseguido.
Coincidemente, escolhi o 10.º aniversário do blog como o dia ideal para colocar o out of office e dizer que regresso daqui a um mês. É uma pausa para mudar algumas coisas, para pensar em algumas coisas e para voltar com um calendário que sinta que consigo cumprir. É, ainda, uma pausa para tentar preparar antecipadamente os meses de outono, que sei que, profissionalmente, poderão vir a ser muito complicados e que não quero que prejudiquem aquilo que vai iluminando os meus dias. E é, também, uma pausa para estruturar um novo plano de treinos.
Sempre gostei de comparar a escrita ao desporto, porque ambos exigem treino e compromisso. O Meu Treinador, ensaio da Joana Bértholo sobre a natação de alta competição, vem-me à memória porque é sobretudo o compromisso que aprendeu na alta competição que a Joana leva para a escrita. Ora, quando um atleta passa meses com um plano de treinos fraco e pouco regular não pode voltar aos treinos como se nada fosse e treinar diariamente com a carga com que treinava nos tempos áureos. É preciso voltar ao início, voltar aos pesos mais baixos, submeter-se a um plano crescente e ir com calma para evitar lesões. Neste momento, eu sou a atleta que precisa de reestruturar o plano de treinos para parar de sair frustrada das sessões que não rendem como antigamente.
No fundo, voltamos à ideia da construção de uma relação longa: é tudo feito de compromissos e da certeza de que, no fim, estamos sempre disponíveis para trabalhar em conjunto, seja qual for o objetivo.
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