a maldição de rosas [diana pinguicha]

Todos os anos a Feira Medieval de Trancoso recria as Bodas Reais. É uma espécie de orgulho local que o rei d. Dinis tenha casado com d. Isabel de Aragão em Trancoso, tanto que não só está assinalado na capela onde supostamente ocorreu o casamento como existe uma estátua do casal perto da capela. Estátua essa que quis como fundo da fotografia deste livro, claro. Se tinha ali o Dinis e a Isabel à mão então ia utilizá-los. Além desta ligação à cidade que tão bem conheço, acho que todos conhecemos a história do milagre das rosas. D. Isabel ia distribuir pão aos pobres, foi intercetada por d. Dinis, que lhe perguntou o que levava no regaço porque não queria que ela desse comida ao povo. Isabel respondeu que eram rosas e quando o rei quis confirmar caíram então dezenas de rosas que antes seriam pão. Um milagre, portanto. No fundo todos crescemos com esta história.

Aquilo que a Diana Pinguicha quis fazer com A Maldição de Rosas foi recontar esta história e a ideia pareceu-me boa — têm surgido tantos retellings mitológicos, por que não um retelling tão português? Desta forma, o livro coloca-nos em 1288, no reino de Portugal, que sofre com a fome e a peste negra. Isabel de Aragão quer salvar o seu povo, mas é vítima de uma maldição: tudo o que come transforma-se em flores. Quando descobre que existe uma Moura Encantada que concede desejos, Isabel vai à sua procura. Tudo o que a Moura, Fatyan, lhe pede em troca é um beijo que a liberte do aprisionamento em que vive há mais de um século. Fatyan liberta-se e promete ajudar Isabel a controlar a sua maldição — ou será uma bênção — de forma a que possa ser usada em seu favor. Mas o beijo parece ser uma espécie de encantamento também, porque, como diz a sinopse, o amor acontece.

Com um sorriso, Isabel aconchegou-se ainda mais. Com Fatyan, ela tinha respostas, e pela primeira vez em anos também tinha esperança. Porque se Fatyan estivesse certa e ela conseguisse controlar a magia com sucesso, as muitas cores que salpicavam os campos que as rodeavam — o branco das estevas, o roxo e o amarelo dos amores-perfeitos — poderiam ser usadas para alimentar a vila. Muitas vilas, durante muito tempo. Em Portugal, as flores cresciam em todo o lado, inclusive nas planícies secas do Além-Tejo que se estendiam no horizonte. Controlaria aquela magia. Tinha de a dominar.

Por onde começar? Não funcionou para mim. A ideia de um retelling nacional atraiu-me e achei interessante a ideia de o fazer sáfico (também pelo que é dito na nota da autora), mas o resultado não funcionou para mim. Por um lado, achei que a escrita não era muito apelativa e havia muitas repetições e pormenores desnecessários. Por outro lado, não acho que a construção das personagens esteja muito bem feita, achei muitos diálogos infantis e sinto que houve um certo desfasamento entre a adaptação à linguagem atual e àquilo que seria realmente dito naquela época.

Tive pena de não conseguir gostar desta história nem ter qualquer ligação às suas personagens, mas também acredito que é, sim, importante haver histórias mais diversificadas que se calhar ajudam a dar a mão a quem se sente sozinho por ser diferente. Não senti que a concretização tenha resultado, mas a intenção está lá.

Título original: A Curse of Roses
Título em português: A Maldição de Rosas
Autora: Diana Pinguicha
Ano: 2020 (PT: 2023)

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