No outro dia, a Carolina foi a um concerto da fadista Mariza e escreveu que não gostou da postura da artista, por ser pouco humilde. Nunca vi a Mariza na vida, por isso não sei se a Carolina tem ou não razão, mas dei por mim a pensar no factor humildade e no quanto esse factor têm influência naquilo que pensamos dos outros — principalmente quando são artistas e pessoas com uma vida mais pública do que as restantes almas deste mundo.
Já tive oportunidade de conhecer algumas pessoas da praça pública. Não tantas quanto gostaria, é certo, mas suficientes para conseguir apontar nomes de pessoas que me surpreenderam e nomes de pessoas que me desiludiram. Nas surpresas, destaco sempre o David Fonseca e o Filipe Pinto, assim como o Vasco Palmeirim, o Ricardo Araújo Pereira e mais umas poucas, muito poucas. O Filipe, por exemplo, foi uma surpresa autêntica: no final de um mini-concerto na FNAC do Colombo, quis ir conhecê-lo. Gostei dele desde que o vi na televisão pela primeira vez mas não sabia como é que ele era com o público. E foi uma surpresa agradável: perguntou-me se vivia em Lisboa e quando lhe disse que estudava ali, recém-licenciada, perguntou-me qual tinha sido o curso e, em poucos minutos de conversa, foi inspirador e simpático, partilhou ideias e desejou-me boa sorte de uma forma tão genuína que quis abraçá-lo — embora não o tenha feito.
Mas todas as moedas têm dois lados e já me deparei com pessoas com mania de estrela. Mania mesmo, daquela que dá vontade de pregar um estalo à pessoa e dizer-lhe que há gente mais importante e que não é nenhuma estrela, é apenas uma besta. Parece agressivo mas aconteceu e foi uma desilusão total. Já vi muitas figuras públicas serem menos simpáticas e terem posturas frias e desagradáveis, mas nunca tinha assistido ao crescimento público de alguém e nunca tinha tido aquela sensação de desilusão pura.
Não gosto de falsos humildes e também não gosto de falsos simpáticos. Mas acho que, às vezes, há quem se esqueça de que só atinge patamares mais elevados na sua carreira pública por vontade das pessoas. Vejamos os músicos, por exemplo. Podem fazer música incrível que, se não tiverem alguma empatia com o público, não chegam muito longe. Tal como acontece o contrário: podem ter uma capacidade musical horrível mas se conseguem chegar ao público então conseguem chegar mais longe. É por isso que me revolta e magoa a forma como alguns se esquecem disso; não só na música, mas na vida em geral.
Há uns meses vi alguém, que pensava ser uma pessoa humilde, ter uma atitude agressiva e grosseira com o seu público. Fiquei chocada, triste, desiludida e chateada. Se estivesse mais perto teria certamente ripostado. Se fosse comigo tinha certamente respondido de volta. Tive realmente vontade de berrar àquela pessoa, de lhe pegar nos ombros e a abanar, enquanto lhe dizia que aquela vida podia acabar e que o que hoje é vitória, amanhã é história. E que quanto mais alto julgas que estás, mais perto de cair ficas… e a queda é grande, muito grande.
Acredito que um músico ou um actor não tenham sempre paciência para estar rodeados de pessoas a pedir selfies e autógrafos e a fazer perguntas sobre tudo e nada. Acredito e compreendo. Mas é aí que se distinguem as pessoas: as que fazem um esforço para, mesmo em dias menos bons, serem simpáticas e cordiais e as que fazem das atitudes de dias menos bons as atitudes de todos os dias. E é assim que deixamos de gostar delas e, pior, é assim que deixamos de as respeitar.
Claro que há casos e casos, mas, para mim, uma pessoa que é conhecida em meia dúzia de sítios em Portugal que decide agir como se fosse o Justin Bieber… bem, primeiro: ser o Justin Bieber não é necessariamente sinónimo de algo bom; segundo: por mim podem ir para um certo sítio porque não há paciência para pessoas assim. E, sinceramente, às vezes não percebo a necessidade de certas atitudes. É que até se podem esquecer mas mais importante do que a forma como tratam os fãs enquanto fãs é a forma como tratam os fãs enquanto pessoas. E ninguém quer perder tempo com alguém que não trata as pessoas todos como igual e com respeito.
Afasto-me de pessoas assim e vou sempre fazê-lo: sejam pseudo-estrelas, sejam pessoas normais que, por um ou outro motivo, acham que a vida lhes deu aquilo de que precisavam para se armarem em pseudo-estrelas. Pés no chão, meus caros, pés no chão!