— Tens a certeza de que não faz mal estar aqui? — perguntou Eva.
— Sim. — respondeu Frederico. — Os meus pais só voltam amanhã.
— Se tens a certeza… — murmurou Eva, ainda não totalmente convencida.
— Vá, senta-te aqui. — pediu Frederico.
Eva adorava a casa de Frederico. Todas as divisões estavam decoradas de forma moderna, com móveis novos e bonitos. Em sua casa os móveis existiam há pelo menos vinte anos. Sempre que visitava Frederico desejava poder ter uma casa como a dele. Já Frederico ligava pouco a móveis, mas queria ter pais tão descontraídos e permissivos como os de Eva. Os dele era mais rígidos, mais chatos.
Eva sentou-se ao lado de Frederico, que se virou de imediato para ela.
— Já te disse que estás particularmente bonita hoje? — perguntou ele.
Eva revirou os olhos.
— Deixa-te disso, Fred.
Ele sorriu e beijou-a, mas Eva estava com dificuldade em se concentrar naquele momento.
— Estás preocupada com os teus pais, não estás? — perguntou Frederico.
— Eles vão matar-nos, Fred. — reclamou Eva. — Ou pior.
— O que é pior do que nos matarem? — perguntou Fred, numa tentativa de aliviar a tensão. Não resultou.
— Estou a falar a sério, Fred! Não sei o que vai ser de nós depois de amanhã.
Fred também estava preocupado com a situação, mas não queria que Eva notasse. Precisava de se manter calmo, por ela.
— Vai correr tudo bem, Eva.
— Como é que consegues estar tão calmo? A nossa vida muda amanhã!
— Estou calmo porque já tenho 18 anos, tu fazes 18 daqui a dois meses e porque estamos aqui um para o outro. E não muda assim tanto amanhã. Os nossos pais vão saber, mas não vai mudar assim tanto.
— E nos expulsam de casa?
— Eu tenho dinheiro de parte e tu também. Mas ninguém nos vai expulsar de casa.
— E a universidade?
— A universidade pode esperar.
— Não sei como é que consegues estar tão calmo!
Frederico sorriu.
— Se pensares na nossa filha vais ficar calma também. — disse.
— Não sabes se é uma menina.
— Vai ser.
— Estás demasiado confiante.
— Pois estou. Até já tenho nome escolhido.
— Ai é? Qual?
— Aurora.
— Aurora? — repetiu Eva.
— Aurora. — confirmou Frederico.
Eva pensou durante uns segundos.
— Aurora como aquela música do Carnaval? — perguntou.
— Qual música do Carnaval? — perguntou de volta Frederico, confusa.
— Aquela… se você fosse sincera, oh oh oh… — cantou Eva.
Frederico não aguentou e desatou a rir. Eva olhava-o, num misto de curiosidade e confusão.
— Porra, Eva, só tu para te lembrares de tal coisa! — acabou por dizer. — É como uma música, mas nada a ver com essa.
— Então qual é?
— Pensa nas bandas de que gostamos… — sugeriu Frederico.
Eva fez uma lista mental de todas as bandas de que ambos gostavam e depois tentou lembrar-se dos títulos das músicas, até que…
— Como a música dos Foo Fighters! — disse, sorrindo.
Frederico sorriu também. Depois o sorriso de Eva esmoreceu.
— Achas mesmo que vai correr tudo bem?
— Acho. — disse, seguro.
— E se for um rapaz?
— Podemos manter o tema Foo Fighters e chamar-lhe David.
— Espero que seja menina. — disse Eva.
— Também eu.
— Aurora…
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