Ho-Ho-Home.

Quando tinha uns 21 ou 22 anos apercebi-me de uma coisa que me acontecia desde… sempre. Agora talvez nem tanto, mas por vezes ainda me acontece. Desde pequena, sempre que entrava numa casa imaginava como seria viver lá com a minha mãe. Imaginava como a nossa vida seria melhor ou, pelo menos, diferente, se vivêssemos ali.

Não cresci a sentir-me em casa.

Cresci a viver em casa da minha avó, o que era tudo menos casa para nós. Depois, tornou-se insuportável e vivemos em Trancoso. Depois fomos para casa da minha bisavó, que não tinha condições para ser casa, por mais que quiséssemos que o fosse. Acabámos a voltar à casa da minha avó, sempre com a sensação de que não estávamos em casa, apenas numa casa.

Há praticamente cinco anos, voltámos a mudar de casa. Neste tempo, também fui vivendo em vários lugares em Lisboa: fui de Marvila a São Domingos, de São Domingos a Benfica, de Benfica ao Lumiar e depois, na despedida, ainda estive um mês em Massamá e meio ano nas Olaias. Tenho muita experiência de casas, mas poucas vezes me senti em casa, poucas vezes senti que estava em casa, na minha casa, na nossa casa.

Em inglês é muito fácil separar os dois termos: house e home. É mais fácil explicar. De todas as casas em que estive, senti-me em casa poucas vezes. Em Benfica, conseguia sentir-me em casa, mesmo não sendo a minha casa. Na casa para onde nos mudámos em 2016 também consegui sentir-me em casa, mas não era a nossa casa… até que passou a ser.

Agora já não preciso de imaginar

Em Maio, a minha mãe assinou a escritura de compra de casa. Um dos objectivos que mais aguardava para 2021 concretizou-se e, mesmo tendo partilhado na newsletter, queria também deixar aqui registado, como nos bons velhos tempos.

Cresci rodeada de pessoas que, na sua maioria, tinham uma casa e a davam como garantida. Para mim, para nós, nunca foi uma garantia. Ter uma casa era algo que almejávamos, mas nunca conseguíamos. Ver a minha mãe consegui-lo tantos anos depois, depois de tanta porcaria que já nos aconteceu, é dos sentimentos mais bonitos e felizes. A minha mãe merece ter uma casa, estar em casa, sentir-se em casa.

4 Replies to “Ho-Ho-Home.”

  1. Voltei a emocionar-me com esta novidade maravilhosa!
    De facto, há coisas que achamos que são óbvias e garantidas [e algumas deveriam ser], mas a verdade é que, dependendo do contexto de cada um, isso nem sempre se verifica.
    Foi uma conquista incrível, fico mesmo feliz por vocês <3

  2. Gostei muito de ler a newsletter, mesmo não te conhecendo pessoalmente deu para compreender a importância do acontecimento 🙂 Muitas felicidades para ambas!

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