Preferes ouvir? Esta rubrica tem uma versão em áudio também!
Olá, olá! Parece-me que estás a pensar dar swipe right nesta publicação. Deixa-me apresentar-te o meu perfil. Chamo-me Sofia, tenho 28 anos, vivo na zona do Porto. Tenho 1,67m, não sei se é relevante, mas costumam perguntar-me. O que é que faço? Ora, estou a terminar um mestrado e escrevo umas coisas na internet. Que tipo de coisas? O que calha. Eu gosto mesmo é de contar histórias. Umas são verdadeiras, outras são ficcionadas. Então és escritora? Gosto de como ainda agora nos conhecemos e já me chamas escritora. Vou dar-te super like só por causa disso. O que é que faço por aqui? Bem, deixa-me contar-te uma história.
Sempre desprezei as dating apps. Uma vez, em 2017, instalei o Tinder e além de, no espaço de poucos minutos, me ter cruzado com os perfis de todos os meus ex-colegas de curso que estavam solteiros também me cruzei com alguém que tinha como foto de perfil uma alface. Sim, estou a falar a sério: uma alface. Porquê? Não sei bem. Talvez para as pessoas com quem desse match terem um bom ponto de partida para a conversa? Agora também já não vou a tempo de tentar saber.
No início de 2022 decidi arriscar novamente e criei um novo perfil no Tinder. Instalar uma dating app é como chegar a um planeta desconhecido em que a linguagem é semelhante, mas, mesmo assim, não a dominamos. Ora, entre a experiência das dating apps propriamente ditas, as conversas que tive com dezenas de pessoas (no Tinder, por causa do Tinder e sobre o Tinder) e esta mentezinha que nunca pára de pensar em coisas, decidi que estava na hora de trazer a mini-série temática que mais queria fazer e que mais me pediam para fazer (pronto, foram para aí cinco pessoas a pedir). Este é o Desengatados. Uma mini-série sobre dating apps, relações humanas e a vida no geral.
Pausa para gestão de expectativas
Antes de prosseguirmos deixa-me explicar-te a minha ideia e como quero que isto funcione. A mini-série terá um total de 13 episódios e todos eles terão uma versão escrita, disponível para leitura em asofiaworld.com/desengatados, e uma versão em áudio, disponível como segmento do Crise de Identidade, que encontras nas mais variadas plataformas de podcasts.
Como forma de preservar a identidade dos envolvidos, irei criar nomes falsos. Um jornalista não revela as suas fontes. Eu posso não ser jornalista, mas quase fui e isso deve contar para alguma coisa.
Acho que importa, também, fazer aqui uma ressalva: esta mini-série é de entretenimento, claro, mas também de partilha genuína e honesta, sem preconceitos e sem julgamentos. És livre para ter a tua opinião e para a partilhar, caso te sintas à vontade para tal. Apesar de ver cada vez mais partilhas sobre o Tinder e restantes aplicações, sinto que ou são puramente académicas ou são jornalísticas e não há tantos relatos reais — e, quando há, normalmente são só os falhanços. Ora, eu vou falar dos falhanços, claro, mas também tenho impressões positivas a partilhar e tenho, sem dúvida, muitas histórias que me ensinaram alguma coisa. Para mim, é esse o ponto fundamental do Desengatados: partilhar histórias.
Bem-vindo ao mundo encantado das dating apps, onde há reis, princesas, dragões...
Como já disse, sempre tive algum preconceito com este tipo de aplicações. Por muito que te diga que há de tudo no Tinder, a verdade é que sim, vais encontrar muita gente ali que está unicamente à procura de sexo. É o que é. Alguns estão tão exclusivamente à procura de sexo que a primeira coisa que te vão dizer é: ‘bora foder?
No entanto, acho que, realmente, há de tudo como na farmácia. Tens pessoas interessadas em conhecer pessoas — e isso pode ou não levar a sexo —, há pessoas que estão a testar as águas, há pessoas que estão a procurar-se nos outros e há pessoas que estão a tentar encontrar relações. Não tens interesse em relações puramente sexuais ou em coisas de uma vez? Deixa isso claro e faz mais uns swipes.
Acho que aquilo que sempre me fez ficar de pé atrás em relação às aplicações de género foi o fator visual. Obviamente, vais tentar ir pelas pessoas que consideras bonitas e isso pode ser um grande fator de insegurança. É sempre obrigatório colocar fotografias e acho que isto é um momento complicado para quem tenha mais inseguranças. Ora, se colocares fotografias com menos roupa se calhar vais ter muitos gostos, mas são fotografias de que gostas? São fotografias que te representam? Aqui fui sempre pelo básico: se me sinto confortável com a fotografia, gosto do que vejo então coloco.
Isto das fotos lembra-me um filme, o Amigos Improváveis. Se nunca viste aviso já que isto pode ser spoiler. Há uma cena no filme em que o Driss descobre que o Philippe troca cartas com uma mulher há muito tempo, mas nunca se viram nem enviaram fotos um ao outro. Driss quer ajudar o Philippe a escolher a fotografia certa, que não denuncie de forma óbvia o problema de saúde, mas que seja honesta. Acho um bom princípio para estas aplicações.
Claro que as fotos não são o único ponto… a não ser que te chames Carlitos* e a tua forma de andar no Tinder seja viver à base do desespero e puxar TUDO para a direita. Falaremos do Carlitos mais tarde, que agora não tenho tempo para te explicar quem é o Carlitos e por que motivo acho que ele é o John Mayer para a minha Taylor Swift.
Onde é que nós íamos? Aaah, a minha parte preferida é a biografia. Primeiro, porque leio todas. A sério. Sou dessas. E olha que algumas já foram fundamentais para tentar a minha sorte. Claro que isto de ter uma boa biografia é difícil. O que é uma boa biografia? Eu sei lá! Sei que as que melhor resultaram para mim foram uma em que dizia não preciso de ajuda, estou só a ver e outra que dizia emotionally unavailable. Acho que quando tinha na biografia provavelmente vou escrever sobre isto também houve conversas que começaram por aí.
Não vale a pena escreveres um soneto sobre ti, mas se tiveres alguma informação na biografia que possa ser interessante pode ajudar as outras pessoas a terem um ponto de partida para a conversa, na eventualidade de haver match.
Agora… temos de falar sobre isto. As informações que damos e que vemos. Eu nunca vou para perfis sem nome nem sem fotos em que se veja a cara. Amigos, deram-vos uma cara, mostrem-na. Depois… mesmo que tenham foto, às vezes vais acabar por perceber que são fotografias falsas. Apanhei alguns perfis falsos e notava-o sempre pelas fotos, principalmente quando se notava demasiado os píxeis. Também há o caso das idades. Quando te inicias nestas aplicações podes escolher o género das pessoas que queres conhecer, a distância a que se encontram de ti e as idades. Ora, imagina: eu coloco que a faixa de idades que quero conhecer é 26-33. E de repente aparecem-me homens que dizem ter 33, mas que têm aspeto de mais do que isso. Todos eles foram honestos sobre a idade em conversa. Todos eles diziam que se tinham enganado e já não dava para corrigir… vamos dar o benefício da dúvida. Por agora.
Voltemos aos perfis falsos. É, provavelmente, das coisas que mais me irrita ali. Primeiro roubar fotografias para quê? Houve um que me disse que não se achava bonito. Pedi-lhe uma foto verdadeira. Era bonito. Só era parvo. Mas, a sério, roubar fotografias para quê? Deixa-me contar esta.
Vamos chamar-lhe Miguel, porque honestamente também ainda não descobri se o nome que me deu é verdadeiro ou não. As fotografias que ele tinha no Tinder davam-me algumas dúvidas. Umas pareciam roubadas, outras não. Conversámos um bocadinho. Havia algo ali que, para mim, não estava a bater certo. Tentei marcar um encontro com ele num lugar público. Nada. As fotos que ele tinha no Telegram batiam com as do Tinder, mas eu continuava na dúvida. Muito tempo depois, adicionou-me no Instagram, com uma foto de perfil que eu reconheci de imediato: era uma tatuagem… que eu já tinha visto num jogador do Porto.
Assim que vi aquela foto, tirei print e pesquisei com o Google Lens. Lá estava ela: a fotografia do braço do Ruben Neves.
Que tipo de pessoa cria um perfil de Instagram com única fotografia… roubada? Pronto, logo a seguir ele apagou o perfil.
Okay, calma. Sei que, neste momento, talvez tenhas decidido que isto das aplicações não é para ti. Mas nem tudo vai ser mau. Prometo.
Primeiro, tens de perceber que aplicações funcionam para ti. Há imensas. Eu posso estar sempre a dizer Tinder, mas não é a única. Tens o Ok Cupid. Nesta, tens de responder a várias perguntas, que também vão determinar a percentagem de compatibilidade com cada perfil. Usei-o pouco, porque percebi que estava a gostar mais de responder às perguntas do que de procurar gajos e falar com eles. No entanto, como nesta podes mandar uma mensagem curta antes de teres match, também é um conceito engraçado.
Tens o Bumble, em que, quando há match, são as mulheres que têm de falar primeiro e, se não falarem, o match é anulado. Cansou-me rápido. Tens o Grindr, que é destinado à comunidade LGBT+, portanto não sei como funciona. E há mais umas quantas. Tens de explorar, ver as que funcionam melhor para ti, para o que queres e para as pessoas que encontras.
Ah, mas que tipo de pessoas vou conhecer? Repito: há de tudo. E, às vezes, não encontras o que queres ao primeiro match. Nem ao segundo. Nem ao terceiro. Nem ao vigésimo primeiro. Mas há mesmo de tudo. Portugueses, estrangeiros. Com curso superior, sem curso superior. Com objetivos de vida, sem objetivos de vida. Com capacidade de ter conversas interessantes, com capacidade de te fazer duvidar da vontade de conhecer pessoas. Solteiros, casados, divorciados, em conceitos relacionais modernos que possivelmente não compreendes nem vais compreender.
Ah, mas não posso conhecer pessoas à maneira de antigamente? Podes, claro! Força nisso! Apesar de haver alguns estudos** que dizem que é mais comum encontrar parceiros online do que offline, vamos ser honestos: ainda se podem conhecer pessoas como antigamente. Acho eu. Já não sei qual foi a última vez em que isso aconteceu. Se não tens interesse em saber alguma coisa sobre o mundo das dating apps… bem, não sei como é que ainda aqui estás! Ainda assim, encara isto como a oportunidade de embarcar nesta aventura sem riscos para ti. Neste momento, temos o perfil pronto, sabemos o que queremos, começámos a distribuir alguns gostos. Sabes o que vem a seguir, não sabes? Vamos conversar!
*Carlitos é, lembro, um nome falso.
** O estudo: https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.1908630116
Já estou deste lado, com a minha chávena de chá, pronta para ler sobre todas as histórias que tiveres para partilhar! Adoro a ideia desta mini série e acho que tem mesmo tudo para desmistificar alguns conceitos das dating apps – é fácil, sobretudo quando não as utilizamos, criar expectativas um pouco irreais ou enviesadas do que por lá pode acontecer. Nem tudo é um mar de rosas, mas também acredito que nem tudo seja terror.
Há coisas que não entendo e a partilhar de fotografias falsas é uma delas (tem só um pontinho por ter escolhido uma foto de um jogador do Porto ahahah). Por outro lado, acho genial a foto da alface, criatividade acima de tudo :p
Mal posso esperar pelas próximas conversas
Obrigada!!!!!!!!!!!!!
É um privilégio contar sempre com o teu apoio! 💙
Adorei este primeiro post e estou muito muito curiosa para ouvir/ler as histórias que tens para nós contar!
Awww, obrigada!!!!!!!!!!!!! Fico tão tão tão feliz!
MAS EU ESTOU PASSADA COM ISTOOOO 🤯🤯 das partilhas pessoais para ideia no notion e, finalmente, como serviço públicooo 💫💫✨✨✨ mal começámos a viagem e já amo, amo, amo! Não só por também ter as minhas histórias, mas pelo alívio que é saber que os novos nas dating apps terão este amparo que não tivemos, mais não seja para irem mais descontraídos 👌👌
Sofs….YOU GOOO!!
Termino este manifesto de entusiasmo com uma passagem que me fez abanar a cabeça afirmativamente…
“(…) com capacidade de te fazer duvidar da vontade de conhecer pessoas. ”
É isto!
Beijocassss 💋
Não sei se vão mais descontraídos… 🤣
Ao menos vão mais informados 🤣🤣🤣