desengatados: é um gajo do tinder, esperavas o quê? (o luto das relações que não são relações)

Peferes ouvir? Esta rubrica tem uma versão em áudio também!

Quando pensei o Desengatados estava destroçada. Tinha o coração partido há semanas e tinha até começado a escrever um novo livro de ficção, mas precisava de algo que não fosse ficcionado. Precisava de contar as coisas como elas realmente foram. Precisava de berrar ao mundo o que não podia berrar àquela pessoa. Depois voltei àquela pessoa e deixei o Desengatados a marinar. Não sabia o que lhe fazer porque não sabia o que estava a fazer. Eu continuava despedaçada, para ser sincera, mas não sabia para onde ia seguir por isso deixei-me estar. Quando recuperei o Desengatados achei que o ia fazer de forma a curar o coração partido, mas acho que o curei antes. Ainda assim, sempre soube que chegaria aqui, a este episódio.

Este episódio existia em todas as versões. Podia falar só das aventuras, das conversas e dos fails do Tinder sem falar desta história por completo, mas como? Quase todas as outras histórias tiveram alguma relação com esta. Nem que seja porque muitas delas foram partilhadas com a personagem principal desta história em alguma troca de mensagens.

Quando cheguei ao Tinder a 15 de fevereiro de 2022 eu não ia com uma ideia clara do que queria. Talvez por isso, dar match com o Carlitos não foi visto como um primeiro passo para algo; foi visto apenas como um match. Podia pensar muita coisa sobre o que ia acontecer estando no Tinder, mas juro que nunca pensei que me ia apaixonar por alguém. Aliás, eu na altura escrevi algo sobre já não esperar que tudo fosse amor. Não foi amor, mas lixei-me na mesma.

Vamos ao perfil do Carlitos

Eis tudo o que eu posso revelar sobre o Carlitos, apesar de este ser um nome falso e não correr o risco de ele me processar ou algo do género.

  • nascido em 1989
  • mede 2 metros (não estou a gozar)
  • é pai
  • é do Sporting
  • é manipulador
  • é mentiroso
  • prefere acusar os outros de algo em vez de admitir que errou
  • ofereceu-me, como prenda de Natal, uma discussão em que, entre outras coisas, quase me fez slut shaming.

Oh, sim, isto promete. Espero conseguir entregar.

Capítulo 1: Do match ao mattress

Vou admitir algo que nunca admiti: de todos os poucos matches que tive naqueles dias, o Carlitos foi o que menos de me interessou. Estava a discutir não-monogamias com um, a admirar os lindos olhos de outro e a desejar um match ou outro com uns rapazinhos bem bonitinhos que tinha visto. O Carlitos era bonito, mas não tanto como os outros. Falava comigo, mas não tanto como os outros. No entanto foi o primeiro a querer mudar a conversa do Tinder para o Instagram e, aí, começámos a falar muito mais. Andámos uns dias a tentar combinar um café, mas eu ia adiando porque ou não estava cá ou estava demasiado acobardada para ir a um date.

No final percebi que não precisava de estar preocupada com aquilo porque foi muito tranquilo, conversámos sobre livros, o meu mestrado e sobre a guerra. Não foi nada demasiado intrusivo nem desconfortável. Foi, isso sim, algo em que se notou uma bela química. Pena que eu tenha feito o secundário em Economia e já não saiba distinguir química segura de química tóxica.

Tal como já contei por aqui, dois dias depois desse café começámos uma situationship.

Capítulo 2: Desculpa, mas preciso mesmo de definir isto para perceber o que se passa entre nós

Durante uns dias eu tive medo de perguntar o que era aquilo que estava a acontecer entre nós. As minhas manhãs começavam com mensagens dele. Eu não gosto de coisas indefinidas. Por isso perguntei, a medo, quais eram as regras daquilo que estávamos a fazer. Foi aí, naquele início de março, que definimos que, entre as nossas regras, estavam duas fundamentais: podíamos sair com outras pessoas se assim o pretendêssemos, mas tínhamos de honestos em relação a isso e contar um ao outro. Depois ficou claro que era algo casual, tranquilo. Tudo bem, só que…

Capítulo 3: Isto não se faz em relações casuais…

É certo que, numa relação casual, não há propriamente um linha a seguir. É algo em que cada relação estabelece as suas regras de funcionamento e em que, se não houver uma comunicação clara, pode haver vários mal entendidos. No entanto quase todas as pessoas a quem mencionei isto concordaram: isso não se faz em relações casuais. O quê?

As mensagens constantes, as mensagens diárias de bom dia. Partilhas demasiado íntimas sobre a vida depende. Mas definitivamente não, ser chamada de bebé, meu bem ou amor não se faz numa relação casual. Não faz. Se eu fosse chamar amor à minha relação casual ele fugia a correr. Por que raio é que eu não fugi? Provavelmente porque eu não sabia como reagir a um desenvolvimento tão interessante, em que de repente tinha alguém a contar-me pormenores da vida que eu sabia que não era mera conversa de café. Só que, claro, eu estava a lidar com um jogador…

Capítulo 4: Ser encurralada e outros jogos de poder

Às vezes ignoramos red flags gritantes. É como quando está bandeira vermelha na praia e mesmo assim há alguém que decide que as ondas não são assim tão grandes e lá têm de ir os nadadores salvadores avisar que a bandeira vermelha é para respeitar. Neste caso eu seria a pessoa que se ia aventurar no mar, o que é engraçado porque eu não sei nadar. As ondas gigantes seriam os jogos que começaram a seguir. O nadador salvador… não sei, mas por acaso saí com um duas vezes. Só não foi nesta altura.

Continuando. Se soubesse o que sei hoje, teria terminado tudo aqui. Quando começaram os jogos, as pequenas manipulações. Havia coisas que ele queria fazer que eu não queria ou que não queria fazer já e ele parecia respeitar isso… até deixar de respeitar. Honestamente, a certo ponto senti-me pressionada. E disse-lho. Achei que o pedido de desculpas que se seguiu era honesto. Não foi. Eu devia ter ido embora. Mas gostava dele. Não achei que ele me fosse atirar contra uma das ondas mais complicadas. É que eu não sei mesmo nadar.

Houve uma noite em que eu estava à espera de Uber para ir para o jantar de aniversário de uma amiga quando, na nossa conversa, o Carlitos solta um: quero fazer a três. Pode parecer impossível, mas dei uma resposta muito prática: então faz. Se eu achei que esta conversa ia dar para o torto? Achei, mas queria ir jantar com a minha amiga, passar um bom bocado e não ter de ser confrontada com coisas que não tinham o mínimo interesse para mim. Problema: a conversa deu para o torto antes de eu chegar ao jantar. Não vou detalhar, mas foi algo do género:

Carlitos: Mas tu não queres.

Sofia: Faz sem mim, não precisas de mim. Acho giro quereres concretizar fantasias comigo, mas eu não quero portanto faz tu, diverte-te, usa preservativo e está tudo bem. (não estava tudo bem)

Carlitos: Mas queria contigo.

Sofia: A sério, podes fazer sem mim. (por favor faz sem mim porque eu não quero continuar esta conversa)

Carlitos: Não queres mesmo?

Sofia: Não gosto quando respondes como se eu te estivesse a impedir de algo. Faz o que quiseres. Não tens de fazer tudo comigo, muito menos coisas que eu não quero.

Achei que estava tudo bem. No dia seguinte não há mensagens. Estranho. Começo a questionar-me o que caraças se passa. Segunda-feira estou a preparar-me para ir a uma aula e ir apresentar outro trabalho. Nada de mensagens. Pergunto o que se passa. Diz que está tudo bem. Insisto. Ele diz que se calhar é melhor não continuarmos, está a perder interesse. What the actual fuck? Em menos de 48 horas passas de me comer com os olhos no metro para não teres interesse?

Ainda hoje agradeço o facto de a maquilhagem ser boa porque eu tinha meia hora para sair de casa e nessa meia hora estive sempre a chorar. Acabei a ir de Uber porque perdi o autocarro. Fui para a aula. Estávamos a ler textos sobre amor. Saí no intervalo e não voltei. Cheguei à apresentação e disse à professora que precisava de apresentar primeiro porque tinha de sair. Não suportava a ideia de estar a sufocar numa sala. Acho que foi a primeira vez que o meu melhor amigo me viu chorar por causa do Carlitos. Devia ter sido a última, mas não foi.

Eu não sucumbi. Podia ter sido um daqueles momentos em que dizia está bem, fazemos o que queres, só para ele voltar, mas eu não ia fazer isso. Vinte e quatro horas depois ele voltou. Não tocou novamente no assunto. Algo em mim dizia que aquele bocadinho que ele tinha estragado nunca mais seria recuperado. Não me enganei.

Capítulo 5: A queda

Foi um espaço de duas semanas. Estava tudo a melhorar e depois puf. Quando ele começou a espaçar as mensagens eu percebi que algo não estava bem. O calor não justificava. O trabalho não justificava. As explicações eram vagas. Foi quando toda a minha ansiedade se virou contra mim. Honestamente eu não percebia o que estava a acontecer e isso dava cabo de mim. Não percebia o que podia ter feito ou dito.

Na altura, uma rapariga com quem ele tinha tido uma cena algures no tempo, começou a falar comigo. Ele tinha-lhe dito que podíamos ser amigas. Eu achei que era um esquema. Eu estava certa. Na altura disse-lhe que ele andava estranho. Ela disse algo tipo ele às vezes é assim. E dois ou três dias depois deixou de me falar. Definitivamente era um esquema. Já te conto mais sobre isto.

Foi muito difícil passar por um final de semestre stressante com tudo aquilo a desmoronar-se. Aí, a culpa era minha: eu não me devia ter apegado, eu devia ter fugido, eu devia ter acabado isto muito muito antes. Mas não. Fugi do Porto para casa para poder concentrar-me no que tinha de estudar. Os dias em silêncio acumulavam-se.

Capítulo 6: Não sabes mesmo o que queres da vida, pois não?

O Carlitos fez anos no verão e eu mandei-lhe os parabéns. Nem esperava resposta. Ele agora nunca respondia. Falámos um bocadinho. E ele chamou-me amor. Estava tão chateada com ele. Nessa tarde, ao fim do dia, sentei-me no alpendre lá de casa e comecei a escrever. Não sabia o que estava a escrever, só sabia que precisava de escrever. Pelo menos na escrita eu podia controlar o que acontecia. Podiam não vir mais palavras do lado dele, mas pelo menos eu tinha muitas palavras a surgir do meu lado.

Entretanto eu arranjei trabalho na Maia, mudei-me para a Maia e achei que estar sozinha num lugar desconhecido ia ser tolerável porque conhecia alguém na Maia. Só que ele agia como se não houvesse nada.

Agora podes perguntar-me: mas se deixou de te falar então não acabou? Beeeem, mais ou menos. Ele nunca disse que queria acabar e eu entrei no jogo e não o disse também. Esticava a corda o mais possível: queres combinar algo? Podemos ir tomar café? Etc., etc. Ele dizia que não lhe apetecia estar com ninguém e, por mim, tudo bem. Mas então por que raio não te fazias homenzinho e dizias que querias acabar? Posso dizer que as únicas noites em que adormeci sem chorar naquele mês foram as noites em que dormi com a Lady aos meus pés.

No fim desse mês houve um momento estranho. Precisei de ajuda do Carlitos em algo e ele prontificou-se logo a ajudar-me. Depois disse-me: depois mando mensagem. Foi muito confuso. Tentei que ele me explicasse o que tinha acontecido, mas as respostas continuavam vagas. Aquilo que ele disse foi, só, que com tanta coisa a mudar na vida dele tinha querido estar sozinho. Disse-me, com todas as letras, que não tinha estado com ninguém desde a última vez que me vira, no início de junho.

Capítulo 7: A fase: vou tirar-te do sistema, estimo bem que te lixes

Aqui vem a minha fase de ganhar mais histórias. Decidi que a única forma de desligar as vozinhas na minha cabeça era ir para o Tinder e conhecer pessoas, distrair-me. Foi aqui que conheci várias das personagens deste Desengatados: o Ruizinho, o Jorginho, o Mitch, o Cristiano e, claro, o Franquito. Não era suposto eles passarem desta fase, mas alguns fizeram-no. Saí com o Mitch duas vezes. O Cristiano às vezes manda mensagem. O Franquito foi o que foi ficando, mesmo quando eu achava que se calhar era melhor ele ir. Mas ele ficou. Mesmo quando eu não fui a melhor companhia. Mesmo quando eu disse que precisava de estar sozinha. Desde setembro, ele foi ficando.

Capítulo 8: O quero-te de volta

Por incrível que pareça, foi a existência destas personagens que fez o Carlitos querer voltar. Deve ter sido aquele sentimento de este brinquedo é meu e só eu é que posso brincar. Ele soube de todos os rapazes com quem falei. Aos poucos voltaram as mensagens. Voltou a chamar-me bebé. Mas o que não voltou foi a minha confiança. Eu esperava todos os dias que ele deixasse de responder. Gato escaldado de água fria tem medo, não é? E eu tinha muito medo.

Capítulo 9: A despedida

Saímos mais duas vezes. Na última vez era início de outono. Almoçámos aqui em casa, fomos ver a praia a Leça (da Palmeira, terra mais bonita de Portugal), fomos ao cinema e ele levou-me a ver livros. No final fui deixá-lo ao metro e estávamos a conversar no carro sobre coisas da vida dele. Nesse dia ele partilhou tanto sobre a vida dele comigo. Parecia que estava realmente a mostrar-se. Tal como tinha parecido meio ano antes. E foi quando ele decidiu contar-me algo que tinha acontecido no verão.

A relação que o Carlitos e a ex têm é altamente tóxica. Portanto, obviamente, houve um dia no verão em que eles decidiram voltar. Foi uma decisão muito importante. Tão importante que dormiram juntos, acordaram juntos e… discutiram logo nessa manhã e acabaram outra vez. Entusiasmante, não é?

Enquanto ele me contava isto havia uma série de fios a ligar-se na minha mente. Aquele sentimento de então foi isto que fizeste no verão. Ele continua a falar, mas eu já não estou a ouvir. Não podes ser traída numa relação casual em que não há exclusividade… mas podem trair a tua confiança. Eu nunca me tinha sentido traída. Mas naquele momento senti. Ele despediu-se e eu tive a certeza de que aquele tinha sido o último beijo.

Capítulo 10: Apanha-se mais depressa um mentiroso…

O que aconteceu a seguir foi ele passar duas semanas sem mandar mensagem. Oh, o déjà vu! E então é sábado, estou a trabalhar na tese e chega uma mensagem ao meu Telegram. É do namorado da tal rapariga de junho. Vou respondendo por cortesia. Ele diz-me que estão numa relação aberta (olha outro!) e quer convidar-me para sair. Recuso gentilmente. Começamos a falar do Carlitos, algo que me irrita. Depois o rapaz diz algo sobre junho. Diz que foi em junho que começaram a relação aberta. E depois ele diz mais: ah, sim, ela e o Carlitos estiveram juntos em junho.

Em voz alta eu disse: filho da puta.

Na mensagem escrevi: em junho deste ano?

Ele confirma. Eu pergunto quantas vezes. Ele diz que foram duas ou três. Em junho. Lembras-te de no início do episódio eu ter dito que a nossa regra fundamental era que se estivéssemos com outras pessoas contávamos um ao outro? Pois, adivinha: eu descobri isto assim, por mensagem de um desconhecido.

Obviamente não fiquei calada e confrontei o Carlitos. Diz que não me contou porque não foi importante. Desta vez sou eu a deixar de responder. Dois dias depois pergunto apenas ao meu melhor amigo se é muito mau acabar por mensagem. Não quero olhar para a cara do Carlitos. Sai-me tudo. Digo-lhe que quero acabar. Que mereço mais do que aquilo. Que estou farta de ser um brinquedo nas mãos dele.

Foi difícil soltar-me e fugir, mas foi incrivelmente fácil dizer-lhe que não queria mais, que para mim era o fim daquela situationship de loucos. Íamos ficar amigos.

Até lhe mandei os parabéns no aniversário da filha e ele deu-me os parabéns quando fiz anos. Quando senti que estava pronta para ser cordial convidei-o para um café e disse que estava pronta para tentarmos ser amigos. Estava a começar a sair regularmente com o Franquito sem sentir o fantasma do Carlitos na minha vida. Estava pronta para ser cordial. Ele disse-me que não tinha tempo. Não lhe respondi. Tencionava nunca mais lhe falar até que…

Capítulo 11: And you call me up again just to break me like a promise…

No Natal recebi uma mensagem dele. Tinha passado a semana a lembrar-me dele, mas sabia que não lhe ia dizer nada. Não me apetecia voltar àquilo. Mas ele mandou mensagem e eu retribuí o feliz Natal. Ele começa a fazer conversa. Um comentário estúpido sobre uma das minhas colegas de casa. Um e que tens feito? E eu, sem vontade para jogos, respondo que estou a sair com uma pessoa. Não importa os termos em que estamos a sair. Ele diz ainda bem e mais nada.

No dia seguinte percebo que ele deixou de me seguir e me tirou dos seguidores dele. Sim, ele tem 33 anos. Pergunto-lhe porquê. Ele diz porque sim. Again: ele tem 33 anos. Pergunto novamente porquê. Sabes o que é que ele disse?

Carlitos: Já não temos aquela confiança, tu “acabaste” comigo, tipo não percebi isso. Não somos amigos, é melhor assim, tu choraste, gostaste de mim. A sério, eu não queria isso. Dizias sempre não te preocupes. “Acabas comigo”, não sei o quê, passado dois meses dizes que choraste e agora estás com um gajo.

Eu vou ser sincera, ter a pessoa que quebrou a confiança a queixar-se de não haver confiança foi muito engraçado. Menos engraçado foi ter a pessoa que se envolveu com pelo menos duas pessoas nas minhas costas dizer “e agora estás com um gajo” como se, dois meses depois de acabar uma situationship, eu não pudesse estar a sair com outra pessoa. A parte curiosa é que no início, quando eu comecei a falar com o Franquito, houve uns dias em que não falámos e eu estava disposta a não sair mais com ele. E foi o Carlitos a dizer-me para ir na mesma. Sempre foi o Carlitos a incentivar-me a falar com outros. Numa altura ele até entrou no meu Tinder e distribuiu likes e olás (red flag, red flag, red flag). No entanto agora que eu estava a sair com alguém isso era um problema?

Sabes o que não foi um problema? Eu dizer o que pensava.

Sofia: não temos confiança porque tu a quebraste no verão quando me deixaste semanas sem resposta e afinal estiveste com a rapariga e com a tua ex e o caraças. Coisas que podias dizer-me e não disseste. E quando eu estava a começar a ganhar confiança em ti outra vez voltaste a deixar-me sem resposta. E sim “acabei” porque eu não queria gostar de ti. Achas que queria gostar de um gajo que não está disponível? Não sou assim tão masoquista.

Desculpa se dizer-te que estou a sair com alguém ou que chorei depois de acabar te faz sentir mal. Não era o objetivo. Só queria que soubesses que se houvesse outras intenções do teu lado eu não queria porque estou a conhecer outra pessoa.

Ele diz: tu tens um caminho e eu tenho outro.

Eu apago a conversa. Ele podia ter-me deixado ficar. Podia ter ficado calado. Mas não. Porque era muito melhor atacar-me por ter tido sentimentos por ele. Por ter arranjado alguém que não ele. Por não ter qualquer vontade de o voltar a ver.

E doeu. O meu Natal já ia ser merdoso, mas ele tinha aquela prenda embrulhada especialmente para mim.

Capítulo 12: Os sentimentos vão, as cicatrizes ficam

A merda de ter o coração partido numa relação casual é que vai sempre haver alguém a dizer-te que não acabaste nada porque aquilo nunca foi nada e não podes propriamente acabar se não tiveste nada. Tudo bem.

E vai sempre haver alguém a dizer-te que não faz sentido estares de coração partido porque aquilo não era uma relação.

Mas eu estava de coração partido. Eu confiei numa pessoa que me usou, me mentiu e ainda decidiu despedaçar-me quando eu já estava a seguir em frente. Tinha todo o direito a estar de coração partido e já nem era por aquilo que tivemos, pelos filmes que vimos, pelas músicas que partilhámos, pelos segredos que contámos. Era porque tinha mesmo acreditado que ele não ia esconder-me coisas, que ele nunca me magoaria de propósito.

Capítulo 13: Sobre aprender a respirar novamente

Comecei a fugir de red flags mais depressa. Comecei a explicar muito bem, detalhadamente, as coisas que não tolero e as coisas que quero. Ainda não consigo lidar quando me deixam a falar sozinha sem qualquer motivo. Vi o Carlitos há umas semanas e ele não me viu mas eu tive uma crise de ansiedade.

Eu não sei o momento em que deixei de gostar dele. Acho que foi antes de descobrir as mentiras, mas tinha esperança de que ainda houvesse ali qualquer coisa.

Também não sei exatamente o que me fez conseguir contar esta história (resumida) sem chorar, mas acredito que o tempo, o espaço e pessoas melhores ajudaram.

Não há um segredo para curar corações partidos. Entre o fim de outubro e o início de novembro chorei todos os dias durante duas semanas. Senti-me profundamente sozinha, ainda mais do que em agosto, quando não conhecia ninguém na Maia. Tive tanta vontade de simplesmente pegar nas minhas coisas e ir chorar para a minha cama real, com a Lady ao lado. Mas não fui. Não podia. Não sei como continuei a levantar-me todos os dias e a ir trabalhar. Não faço ideia quando voltei a comprar iogurtes com pedaços quando tinha deixado de o fazer porque ele não gostava. Não sei quando me esqueci de como é que a voz dele soa.

Eu achei que nunca ia conseguir escrever todo o Desengatados porque achei que ia doer ter de lembrar a existência dele semanalmente, mas a verdade é que já não me importa. Se ele chegar aqui e ouvir isto tudo eu não quero saber. Não faço ideia como é que ele dorme à noite e às vezes posso ter dito que espero que ele não durma. Mas já não sinto nada, és como água passada…

A verdade é que esta história estava destinada a correr mal. Nada podia mudar isso. Mas nem todas as histórias têm de correr mal. Nem todas as histórias vão correr mal. Acredita: nem todas as histórias vão correr mal. Nem todas as relações casuais vão acabar em sentimentos. E mesmo que acabem, nem todos vão ser o Carlitos. E se desconfiares que é o Carlitos… foge.

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