a cura para a solidão

Um dos meus versos preferidos em adolescente sempre foi «we’re just two lost souls swimming in a fishbowl». A ideia que mais me agradava era a de duas almas perdidas terem um lugar só delas. Nadar num aquário já não me cativava, mas duas almas perdidas juntas era algo que eu conseguia compreender.

Claro que, como boa adolescente apaixonada e dramática, torcia para encontrar a segunda alma perdida para o meu aquário. Encontrei algumas almas perdidas, mas cada um de nós vivia no seu aquário e nunca mais pensei nesta ideia bela de duas almas perdidas juntas num lugar só delas. Nunca mais, vá… nunca mais até hoje.

Muitas vezes ao longo dos últimos anos senti-me perdida de uma forma que parecia que não acontecia a mais ninguém. Parecia que só eu é que passava por certas coisas, só eu é que sentia certas coisas. Eu sei, soa dramático e egocêntrico. Obviamente, não sou a única a passar nada, não sou a única a sentir nada. Não sou a única a olhar o céu. Mas às vezes parecia que era.

Aquilo que mais dói na vida adulta é a solidão. Crescemos a ver os nossos amigos quase todos os dias. A internet parece aproximar-nos. Mas na vida adulta passamos semanas, às vezes meses, sem ver os nossos amigos. Começamos a sentir uma urgência em aproveitar cada bocadinho com a nossa família como se cada bocadinho com eles acalmasse os bocadinhos sem eles. Enchemo-nos de hobbies, tentamos ocupar a mente com livros e, mesmo assim, há sempre aquele momento em que a solidão se abate sobre nós.

Conheci-o numa noite de final de verão e agora percebo que reconheci logo nele algo que tinha procurado durante toda a adolescência e não tinha encontrado: ele era a outra alma perdida. Talvez não tão perdido quanto eu, mas bastaram dois ou três encontros para eu constatar que ele me percebia de uma forma diferente porque ele era como eu. Ele estava tão perdido nos pensamentos dele como eu me perdia nos meus. Era insuportavelmente reconfortante estar no mesmo aquário do que ele.

Acho que decidimos que precisávamos de mais do que um aquário. Tínhamos os nossos próprios aquários e depois havia um terceiro, partilhado só por nós. Tínhamos o nosso mundo e depois tínhamos o nosso refúgio da solidão. Era insuportavelmente reconfortante sentir que ele talvez sentisse a mesma solidão que se abatia sobre mim e me fazia dormir na diagonal sem saber como mandar sinais de fumo para ser encontrada.

Fui percebendo ao longo do tempo — e principalmente no último ano — que a solidão se abate sobre todos, das mais variadas formas. Encontrei muitos solitários como eu, mas nem todos tinham as mesmas ambições e o mesmo compromisso para acabar com a solidão. Acho que alguns nem percebiam que estavam sozinhos. Mas nós… nós queríamos apaziguar a solidão. Nunca o dissemos, claro, mas é disso que se trata, não é? Apaziguar a solidão.

Nem sempre ele consegue evitar que eu fique perdida nos meus pensamentos tal como eu não consigo evitar o mesmo para ele, mas com ele parece que a solidão é menor. Com ele parece possível que um dia a solidão não venha mais e dê para boiar só em pensamentos.

Talvez seja o problema de pessoas como nós, almas perdidas que só querem encontrar outras almas perdidas com quem partilhar um bocado. Mas que mais podemos fazer além de procurar remédios temporários para a solidão enquanto torcemos pelo dia em que a cura para a solidão chegue e ela deixe de ser uma epidemia crónica?

Running over the same old ground, what have we found?
The same old fears, wish you were here

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