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a primeira e única vez que comprei castanhas assadas na rua foi no outono de 2014, àquela vendedora que estava sempre na rua 1.º de dezembro, naquele largozito por onde se segue para a rua do Carmo. na verdade, não fui eu que comprei, mas vamos fingir que sim para o propósito deste texto. as castanhas não me souberam ao mesmo.
a primeira vez e única vez que comi castanhas assadas daquelas congeladas que há nos supermercados foi há dois anos. não me souberam ao mesmo.
posso adorar o cheirinho que os assadores deixam e odiar o fumo todo com que levo na cara, mas não consigo comprar-lhes castanhas. nem é pelo preço inflacionado. é porque não é a mesma coisa. não sabem ao mesmo.
eu ainda me lembro de como os magustos eram feitos com grandes fogueiras de caruma e as castanhas lá dentro. as mãos a tornarem-se pretas enquanto tentávamos descascá-las. essas eram as minhas castanhas assadas.
as outras não são as minhas castanhas assadas. aquelas que deixam as mãos com uma textura diferente enquanto as preparamos e fazemos um cortezinho na base. não há instrumentos modernos, é com uma faca simples. aquelas que em tempos via assar à fogueira, num assador de barro. não, também nunca metemos as castanhas em água antes de as assar. é castanhas e sal num tabuleiro e já está.
espreito para os sacos de castanhas dos assadores e reconheço logo várias estragadas. este ano muitas estão assim. dizem-me que podia comprar castanhas a estes assadores e por incrível que pareça não é o facto de serem caras que me faz dizer que não. é que aquelas não são as minhas castanhas.
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