A entrada na universidade é um momento de grande mudança. Aguardamos com expectativa os resultados e, com sorte, conseguimos aquele resultado que tanto queremos. No entanto, às vezes há outros planos reservados para nós e é preciso pensar em alternativas à universidade.
No fim-de-semana, a vida de milhares de jovens vai mudar. Aqui em Portugal, os resultados da 1.ª fase de candidaturas à Universidade saem este fim-de-semana. É provável que sábado à noite já saibas qual a instituição que te vai acolher (não te fies na conversa de que só à meia-noite de domingo para segunda é que há resultados). Esta semana é, por isso, um tanto dolorosa para quem está na expectativa.
A melhor forma de ultrapassar os nervos, principalmente nas últimas 24 horas, é tentares ocupar-te: ler, ver filmes, ir passear… É difícil, eu sei. Passei três vezes pelo nervoso das colocações mas, numa delas, estava com tão pouca esperança que o dia passou mais calmamente. Adorava ter dicas milagrosas sobre como acalmar antes de saírem os resultados, mas eu não fui a pessoa mais calma na minha época… principalmente na primeira.
Como Setembro de 2012 mudou a minha vida
Durante mais de um ano e meio, questionei-me sobre o mês de Setembro de 2012. Não percebia e não aceitava o facto de o dia 8 daquele mês ter mudado a minha vida… de uma forma pela qual não esperava. Aquele devia ser o dia em que eu entrava numa instituição em Lisboa ou, no limite, no Porto e eu ficava ultra-feliz. Não foi.
Quando me candidatei, escolhi seis pares Instituição/Curso: três em Lisboa, um no Porto, outro em Braga e, por fim, um na Covilhã. Lisboa porque era onde queria estar; Porto porque sempre quis viver lá; Braga porque tenho curiosidade em relação à cidade; Covilhã porque… fui burra, cedi a pressões e fui burra. A sério. Nunca devia ter posto Covilhã. Principalmente porque acreditava que nunca iria entrar na última opção. Silly me. Foi exactamente nessa opção que entrei.
Ora, depois de quase uma hora a chorar com o resultado, a soluçar eu não quero ir, agarrada à minha cadela e com vontade de desaparecer, parei. (…) Ainda hoje, três anos depois, sinto lágrimas só de pensar na dor que foi aquele dia e os seguintes. Eu não queria ir para a Covilhã. Não tenho nada contra a cidade, a sério. Aliás, a minha melhor amiga da altura entrou lá, nesse ano, e, caso tivesse ido, teria o apoio dela lá.
No entanto, quando vi aquele resultado, senti os meus sonhos morrer. Todos. Como poderia eu seguir um caminho quando sentia que os meus sonhos tinham morrido e a culpa era minha?
Escolhi esperar
Conversei com a minha mãe, que percebeu ao primeiro não acompanhado de lágrimas convulsivas que eu nunca iria para a Covilhã, e disse-lhe que não ia para a Covilhã. Passei mais de metade da noite acordada, a pensar na minha decisão.
A probabilidade de entrar na 2.ª fase era baixa mas decidi que tentaria. Também decidi que não iria mesmo matricular-me na Covilhã. Ninguém, além da minha mãe, me viu naquele dia, mas eu sei que, com aquela reacção, eu nunca iria dar uma oportunidade à Covilhã só porque ia sempre ver a Covilhã como o fim dos meus sonhos. Mesmo que eu pudesse ganhar novos sonhos.
Nestes três anos, acho que nunca disse a ninguém tudo aquilo que me fez ficar em casa um ano. Também ninguém perguntou, tal como ninguém percebeu por completo. Nem hoje sei se toda a gente que disse apoiar a minha decisão o fez realmente. Nem importa. Continuando.
Naquela noite fiz muitas contas. Contas mesmo. Sabia o dinheiro que tinha no banco e fiz contas para saber se conseguiria ir para a Covilhã um ano e depois mudar-me para Lisboa para mais três anos. Fiz contas por cima, claro, supondo sempre que em todos os anos iria pagar uma renda. Não dava. Nunca teria dinheiro para quatro anos. Claro que sobrava algum dinheiro mas, caso houvesse alguma emergência (como houve no ano passado) ou acontecesse algo grave, eu ficaria sem qualquer dinheiro.
Depois pensei em três anos na Covilhã e doeu tanto que juro que sentia a dor fisicamente. A Covilhã é uma cidade bonita, é a cerca de uma hora e pouco de casa e tinha uma amiga que ia estar lá. No entanto, eu não queria ir para lá. E eu sei que, quando faço algo contrariada, nunca dou realmente oportunidades àquilo que faço. Além disso, não queria entrar numa situação psicológica complicada e preocupar ainda mais a minha mãe.
O que eu fiz
Concorri à 2.ª fase. Soube, desde o momento em que submeti a candidatura, que não ia entrar. Sentia-o. Doía, claro, mas tentei ver o lado positivo de ficar em casa um ano e procurei alternativas ao que ia fazer. Não entrei, tal como na 1.ª fase, na ESCS, por cinco fucking centésimas. 0,05. Meia décima. Autch.
Decidi tirar a carta e assisti a aulas de 11.º e 12.º para fazer os exames novamente, em Junho. Não doía tanto continuar cá quanto doía pensar na Covilhã. Quando soube que não tinha entrado na 2.ª fase não chorei. Aliás, até me ri. Naquele momento soube que em Setembro de 2013 iria ter a minha desforra, que ia conseguir Lisboa, que ia conseguir a ESCS.
Fiquei um ano em casa. Tirei a carta, fiz exame de Filosofia, apaixonei-me ainda mais pelo rapaz de quem gostava (burrice da época, mas pronto, qué-que-se-há-de-fazer?), descobri-me, escrevi e publiquei um livro, aprendi a lutar pelos meus sonhos como nunca tinha feito, percebi que nós fazemos o nosso destino e eu estava a fazer o meu. Se sofri? Não imaginas quanto!
Alternativas à universidade
Não estou a dizer para desistires do teu lugar só por não ser a primeira opção. Estou a dizer-te para ouvires o teu coração. A mim, o coração disse-me para ficar. Não pelos outros, por mim. A ti pode até dizer-te para não te candidatares à universidade. Sei que não é fácil explicar o porquê de decidires algo assim — eu esquivei-me das perguntas das pessoas muitas vezes só porque sabia que há quem não perceba e quem não queira perceber.
Eu decidi estudar sem estar matriculada (só se tiveres uma disciplina em atraso é que te podes matricular) e estudei mais do que tinha estudado da primeira vez que assisti àquelas aulas. Mas há outras opções.
#1 - Podes optar por trabalhar
Porque não entraste, porque só tens uma disciplina por fazer e muito tempo livro, ou mesmo porque simplesmente preferes trabalhar primeiro e depois pensar na universidade. Trabalhar pode dar-te um dinheirinho extra e ajudar-te a ocupar o tempo e a não estares em casa todos os dias. Se estiveres a estudar e quiseres outra ocupação, podes optar por procurar algum tipo de estágio.
No entanto, há que ver que em algumas zonas do país não é propriamente fácil encontrar trabalhos em part-time ou estágios, infelizmente, mas não custará tentar.
#2 - Podes fazer um gap year
São cada vez mais comuns, mas exigem alguma preparação. Os gap years são uma espécie de ano sabático em que podes optar por viajar durante uns meses no estrangeiro ou mesmo dentro do país, mas não só: podes escolher fazer do teu gap year um ano de voluntariado. Neste caso, convém perceberes se tens dinheiro para conseguires dar esse sentido ao teu ano.
#3 - Podes investir em cursos online
Há muitas hipóteses, gratuitas, para assistir a aulas online. O Coursera e o Iversity são duas das opções, mas há mais. Para assistires só precisas de te inscrever no site e escolher as disciplinas a que queres assistir. As aulas são em vídeo e incluem muitas vezes material complementar. Apesar de ser mais comum as aulas serem dadas em inglês, costuma haver legendas.
Se tens disciplinas em atraso
Se não conseguiste concorrer à universidade por teres disciplinas em atraso tens mais três hipóteses (pelo menos foi as que eu encontrei), além da matrícula normal.
#1 - CET
O CET é um curso de curta duração (um a dois anos) com o qual se obtém um certificado de habilitações. Há em muitas universidades e, depois de completo, podes concorrer a um curso superior normalmente, caso assim o desejes.
#2 - Ano Zero
Algumas universidades permitem que se frequente um determinado número de cadeiras da universidade, ao mesmo tempo que fazes as disciplinas que te faltam. Se passares às disciplinas do Secundário que tens por fazer, os créditos das cadeiras ser-te-ão atribuídos.
Há que ter em atenção que nem todas as instituições permitem isto, assim como nem todos os cursos poderão ter esta política. E, claro, tens de pagar (não se pagam as propinas normais mas sim um valor consoante o número de créditos).
#3 - Ensino não presencial
Neste tipo de ensino não tens de ir a todas as aulas e as disciplinas são feitas por módulos, o que pode facilitar-te a vida.
Em conclusão...
Há que dizer que tenho sorte com a minha mãe, porque ela aceitou ouvir-me e apoiou a minha decisão. Talvez nem todos os pais sejam assim, mas deviam.
Depois, é importante que tomes a tua decisão consciente de que vais ouvir opiniões alheias mesmo sem as pedir, mas só a ti diz respeito o que decides. Por isso também é importante que consigas lidar bem com o que decidires. Faças o que fizeres não fiques um ano fechado em casa, a fingir que não existe mundo. E, se precisares de ajuda para te orientar, procura-a.
Muitos parabéns por esta publicação! *clap clap*
Adorei. Muito completo e detalhado, com informações precisas e com um toque pessoal muito teu. 🙂
Obrigada, obrigada! *vénia*
Gostei da tua sinceridade e como se diz as coisas acontecem por alguma razão… o teu livro é a prova disso, há coisas que veem por bem 😀 Oh moça tenho que te mandar um e-mail sobre o 2º livro
É verdade, acontece tudo por uma razão 🙂
Adorei a publicação!
Obrigada :p
Gostei muito da mensagem que tentaste transmitir com esta publicação. O importante é mesmo não desistir 🙂
Obrigada 🙂 É mesmo!
Gostei muito do post e por mim podes continuar a fazer mais do género! Este mês começo o meu 12º ano e estou decidida a fazer melhoria aos dois exames que fiz este ano porque não tive as notas que desejava. A maior parte das pessoas acha que endoideci porque terei que fazer quatro exames e será o dobro (ou mais do dobro) do trabalho, mas eu sei que é isto que quero e sei que vou conseguir. Acho que é o melhor para mim e quem tem o poder para decidir isso sou eu. Sinceramente não sei como ficaria se estivesse na tua situação. No início ia andar doida, completamente deprimida, mas sei que passado um tempo iria arranjar forças para me levantar e tentar outra vez porque se há coisa que me define é o facto de eu não desistir daquilo que quero e no qual acredito. Parabéns por teres feito o mesmo (sei que é difícil) e por teres conseguido o que ambicionavas.
Obrigada 🙂
Conheço várias pessoas que passaram pela mesma situação pela qual vais passar e conseguiram. Sim, dá trabalho mas é possível e tenho a certeza de que, se te concentrares, vais conseguir fazer os quatro exames e ter boas notas!
Eu também dei em doida… muito! Mas tive de me recompor e safei-me bem 🙂
Adorei esta publicação! Ainda bem que não desististe em setembro de 2012, porque hoje estás onde sempre quiseste estar! (: És uma lutadora, e uma vencedora, como eu costumo dizer!
Beijinho*
Muito obrigada, Ju! 🙂
Parabéns! É bom ver estes depoimentos 😀
Quando saíram os meus resultados há 4 anos, entrei na minha primeira opção, Évora, mas não sei porquê eu queria mudar para a segunda, Beja, porque a cidade era longe, porque não conhecia ninguém, porque estava insegura de mim, do curso e do que ia encontrar a partir dali. Felizmente não mudei de ideias, aquilo passou-me e tive num bom curso, numa boa universidade, numa excelente cidade e aprendi e conheci muita coisa nova. 😀 Acho que quando nos inscrevemos, devemos ponderar bem no que queremos e para onde queremos ir. Há quem preencha aquilo tudo com cursos aleatórios, aqui e ali e nunca pense que pode mesmo sair para lá. Há quem leve o resultado das colocações tão a sério, que fica naquele curso, porque foi o que saiu e não pode perder um ano de vida. É estúpido, mas pronto.
Acho que fizeste mesmo muito bem em ponderar a tua decisão. 🙂
http://nuagesdansmoncafe.blogs.sapo.pt
Obrigada!
Sim, o problema é esse: há que pensar muito bem em cada opção que colocamos.
Depois se quiseres, posso partilhar no blogue a tua feira dos livros 😉