BLOGS (IM)PERFEITOS

blogs reais ou blogs perfeitos
A blogosfera mudou muito desde a primeira vez que me cruzei com ela. Dissemos adeus aos blogs com fundo de mil e uma cores, aos blogs sem cuidados estéticos, aos blogs-quase-diários. Na realidade, ainda bem que o fizemos. Os blogs estão mais bonitos agora que temos mais preocupações com o aspecto deles. E não é realmente agradável chegar a um blog e ele ser bonito e harmonioso?
Mas a blogosfera também mudou para pior, em alguns casos. No texto que publiquei no início da semana, disse algo que motivou algumas mensagens e, por isso, decidi esclarecer algumas coisas. Não tinha de o fazer, mas este texto estava começado há umas semanas, por isso algum dia teria de ver a luz do dia. O que eu disse foi o seguinte:
Agora a moda é ter blogs onde só se fala do lado bom da vida, onde as vidas são perfeitinhas e tudo corre tão bem que acabamos por nos sentir na merda por não termos uma vida tão agradável e desafogada de preocupação. No entanto, por mais filtros que coloquemos naquilo que publicamos, tenho cada vez menos paciência para estas vidas blogosféricas perfeitas.

Isto não caiu bem a algumas pessoas, mas vou passar a explicar-me. Não acho mau termos filtros no nosso blog, no sentido de não termos a nossa vida totalmente decalcada nos nossos espaços. Aliás, acho que um blog não deve ter a nossa vida toda. Um blog é um espaço onde depositamos alguns dos nossos pensamentos. Ninguém sabe nem tem de saber as discussões que temos com família, amigos(as) ou namorado(a). Ninguém sabe nem tem de saber os nossos problemas na escola, universidade, trabalho, em casa. Ninguém sabe nem tem de saber tudo o que se passa na nossa vida, tudo o que fazemos ou não fazemos, tudo o que pensamos ou não pensamos. Ou seja: um blog nunca será um reflexo total da nossa vida, mas sim da parte da nossa vida que queremos e podemos partilhar. E eu sei do que falo, porque já tive muito da minha vida exposto num blog.

Posto isto, é óbvio que vamos escolher partilhar as melhores coisas da nossa vida e deixar de lado as piores. É ÓBVIO! Não acho isso um problema, porque é normal fazê-lo. Se eu falasse de todos os meus problemas no blog não tinha espaço para muito mais! Muitas vezes optamos por falar de algo negativo mas com o objectivo de deixar uma mensagem mais positiva e não de encher o nosso blog de problemas. No entanto, desculpem se isto vos ofende, há blogs que são autênticos poços de felicidade e perfeição… tanta felicidade e perfeição que nós sabemos que não podem ser reais.

Refiro-me a blogs que tentam realmente transparecer vidas perfeitas, sem problemas, sem coisas tristes, onde tudo é um mar de rosas. Claro que não têm de escarrapachar tudo no blog. Já o disse ali em cima e repito: um blog nunca será um reflexo total da nossa vida, mas sim da parte da nossa vida que queremos e podemos partilhar. Ninguém quer chegar a um blog e sentir-se automaticamente deprimido. Mas também ninguém quer chegar a um blog e achar que aquela vida soa demasiado perfeita para ser real.
Percebam que podem ter momentos de tristeza na vossa vida. Não têm de falar sobre eles se não fizer sentido para vocês fazê-lo. Mas não precisam de fingir ter uma vida perfeita. Sintam a vossa dor, não a mascarem. Partilhem aquilo que faz sentido partilharem, aquilo que vos faz sentir bem quando partilham, mas não criem uma vida que não têm e não se proíbam de sentir os piores momentos.
Não partilhei o que partilhei sobre a morte de um dos meus ídolos ou, for that matter, sobre a morte da minha cadela, em Outubro, para que sintam a minha dor. Não preciso de que a sintam. Aliás, espero que não a sintam (nem por mim nem por vocês ou pelas pessoas que vos são próximas)! Partilhei-o porque quero que o meu blog guarde memórias e momentos e mostre que sou alguém de carne e osso, com direito a dias péssimos, com cicatrizes que nunca vão sarar – e ninguém sabe quantas cicatrizes são essas só por ler o meu blog. Quero que o meu blog tenha espaço para as coisas tristes assim como tem para as felizes, mesmo que prefira partilhar as felizes.
Não temos de partilhar as nossas dores para fazer os outros sentir-se mal ou para que tenham pena de nós. Mas também não temos de as esconder para que nos achem perfeitos. Encontrem o vosso equilíbrio. Se escrever sobre um problema vos faz bem, escrevam! Talvez encontrem alguém que esteja a passar ou tenha passado pelo mesmo e talvez se ajudem mutuamente. Não finjam, nos vossos blogs, ser o que não são. Não finjam uma vida que não têm. Não se obriguem a encobrir os momentos maus fingindo ter momentos bons a toda a hora. Não adaptem a vossa vida ao blog; adaptem o blog à vossa vida.

4 Replies to “BLOGS (IM)PERFEITOS”

  1. acho que devemos olhar mais para o lado positivo das coisas e talvez seja por isso que se vêem posts mais positivos por aqui mas percebo o que estás a dizer: não é só no blog, e em todo o lado, há certas pessoas que se esforçam demasiado para dar uma imagem perfeita, o que não é nada saudável
    mesmo assim, pelo menos na blogosfera ainda não senti muito isso 🙂
    obrigada pela partilha querida
    beijinhos

    http://umacolherdearroz.blogspot.pt/

  2. Confesso que já pensei várias vezes nisto que partilhaste nesta publicação, sobretudo em relação ao meu blog. Concordo que devemos fazer um filtro entre o que se passa e o que nós passamos, mas acredito que às vezes esse filtro se perde um pouco e, das duas uma: ou partilhamos demasiado e acabamos por expor em demasia a nossa vida ou, pelo contrário, transmitimos uma imagem irreal daquilo que somos.

    With love, Miss Melfe

  3. "Muitas vezes optamos por falar de algo negativo mas com o objectivo de deixar uma mensagem mais positiva" e é mesmo isto. Não consigo inserir o meu blog numa única categoria, falo daquilo que acho pertinente ou gosto, mas quando decido falar da minha vida pessoal é assim que o escolho fazer por achar que para além de ser o que me faz melhor, é a forma de o fazer que me faz sentir mais protegida.

    E overall gostei mesmo muito deste texto, obrigada!

  4. Um blog deve ter 50/50, isto é a minha opinião. Devemos partilhar coisas boas, pensamentos bons que tenhamos, mas também devemos fazer (como dizes e bem) um ~recorte~ de memórias que queremos ver guardadas. Eu falei da morte do meu cão, porque achei que era importante passar uma mensagem aos outros, não da dor que eu estava a sentir (e que tu sabes bem como custa), mas do porquê daquilo ter acontecido e que devem ficar atentos aos patudos. Por isso é que eu deixo de ver e seguir alguns blogs, porque vidas perfeitas não há e seguir pessoas que só partilham esse tipo de "vida" não é para mim.
    O meu blog não tem uma categoria especifica, porque eu falo do que gosto e do que me acontece no dia-a-dia. Não é um blog pessoal (ou talvez seja), mas é um misto de muita coisa. E o que mais vejo por aí é gente a falar de make-up, a falar de viagens, a falar disto e daquilo e a maior parte do tempo eu pergunto-me se essas pessoas têm uma vida normal e pobrezinha como a minha eheh xD
    Mas o teu texto diz tudo e que se danem os "sempre certinhos" e as opiniões de guerra que só dão na internet.

    let's do nothing today

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