Como acreditar em mim às seis da manhã?

Já vou para duas semanas a acordar uma hora mais cedo do que era o meu habitual. Para muitos, acordar às seis da manhã até pode nem ser algo propriamente especial, porque acordam mais cedo ou porque acordam à mesma hora há muito tempo. Mas, para mim, é algo que posso caracterizar como excepcional. A minha hora de acordar normal era às 8h. Com o trabalho passou a ser às 7h. Com o caos de trabalho teve de passar a ser às 6h.

Talvez não se lembrem, mas em Janeiro escrevi sobre me estar a tornar uma pessoa de manhãs. Deixei de acordar entre as 7h30 e as 8h para passear a Lady B e ter manhãs produtivas, é certo. Toda a minha rotina se alterou e aquilo que eu dizia sobre não querer acordar às seis da matina porque não era para mim, teve de ser mudado. Estou há duas semanas a acordar às seis da manhã (às oito ao fim-de-semana, porque não tenho de me preparar e fazer viagem até ao trabalho), a dormir o mais cedo possível e a perguntar-me que raio de vida é esta que estou a viver.

Deixem-me contextualizar

Muitos sabem que estive mais de um ano desempregada. Embora fizesse muitas coisas nesse tempo, houve várias bocas que tive de ouvir. E houve muitas opiniões partilhadas por esse mundo negro chamado redes sociais que me afectavam profundamente. Eram sempre coisas do género não trabalham porque não querem. Deixei de seguir várias pessoas por causa de opiniões do género, incluindo pessoas que seguia há anos, pela blogosfera e afins. Cada um tem direito à sua opinião, obviamente, mas também temos direito a deixar de seguir quando essas opiniões nos fazem sentir mal. Agora as opiniões, pelo menos do meu lado, são opostas: só trabalhas tanto porque queres. Nope. Trabalho tanto porque preciso de o fazer.

Tenho um trabalho a tempo inteiro, de pelo menos oito horas diárias. Tenho um trabalho freelancer, cujo tempo diário que lhe dedico varia de acordo com os projectos que tenho. Neste momento é um artigo de cerca de duas mil palavras por semana, para o qual preciso de pesquisar primeiro e só depois estruturar, escrever e por fim optimizar. Não sou a única pessoa do mundo que trabalha assim e tenho procurado pessoas que percebam o que é isto de ter dois trabalhos para me ajudar a organizar, motivar e, acima de tudo, acreditar.

Estou tão cansada que só me apetece chorar…

Eu achava que a primeira semana do mês estava controlada. Já andava um bocado cansada, é certo, mas achei que estava tudo controlado. No entanto, a semana foi caótica. Tinha um artigo para entregar, sobre fontes de imóveis para investimento, que demorou mais a ser entregue por causa do caos que surgiu, mas no trabalho estava tudo controlado. Ou assim achava eu. De repente, caiu-me em cima uma quantidade inacreditável de trabalho e eu só soube o que me tinha atingido quando já não havia salvação possível.

No final dessa semana, na sexta-feira, cheguei ao trabalho às 8h20, pedi um café e um pastel de nata, sentei-me e senti-me tão cansada, mas tão cansada, que só me apetecia chorar. Chorar? Sim, chorar de cansaço. Chegou um colega, sentou-se ao pé de mim e eu disse-lhe exactamente isto: estou tão cansada que só me apetece chorar. Ele deu-me um mini-discurso motivacional, eu deixei cair umas lágrimas e depois fiquei só cansada. A vontade de chorar acabou por passar. O cansaço ficou.

A semana passada foi menos caótica e consegui até tirar umas horas para meter a conversa em dia com a Lyne, escrevi um micro-conto, voltei a ler e os sonhos com ficheiros Excel já não são tão frequentes*. No entanto, já sei que esta semana vai voltar ao caos. Por mais organizada que a tenha deixado, vai ser caótica. Vão ser muitas horas de trabalho, poucas horas de sono, muito cansaço acumulado. Mas tem de ser.

Eu não estou a queixar-me de trabalhar

Deixou-me muito triste ter ouvido, recentemente, alguém dizer que não devia queixar-me de trabalhar, porque muitos não tinham trabalho. Deixou-me mesmo triste. Porra, eu sei o que é querer trabalhar e não ter como. Não é por me queixar do cansaço que quero dizer que preferia não trabalhar a ter tanto trabalho. Também já me disseram que podia abandonar o freelancer, mas gosto demasiado do que estou a fazer e aquele rendimento extra é tudo para quem vive em Lisboa e deixa metade do ordenado na renda do quarto.

Acordar às seis da manhã tem sido a solução para ter uma hora produtiva de manhã e adiantar trabalho ou escrever para o blog. Não é propriamente a minha coisa preferida do mundo, mas já está a ficar meio entranhado. Sei que se acordar às seis da manhã consigo ser mais produtiva naquela hora do que se tentar fazer o mesmo à noite, depois do trabalho. Mas todos os dias, quando o despertador toca às 6h, dou por mim a perguntar-me: quanto tempo irei aguentar este ritmo? Será que vou ter o retorno que espero ter? Será que vale tudo a pena? Estou a queimar a vela demasiado rápido? Qual vai ser a gota de água?

Não sei como acreditar em mim às seis da manhã…

Não sei bem como acreditar em mim às seis da manhã. Sei que estou orgulhosa por estar a tentar. Tenho-me esforçado para me alimentar minimamente de forma decente (se não houvesse refeitório na empresa acredito que andaria a alimentar-me a lasanhas e outras comidas pré-feitas do Lidl porque mal tenho cozinhado). O jantar tem sido o mais difícil de equilibrar. Tenho também feito um esforço para me desligar durante uns minutos e não pensar em nada. É um esforço. Não sei manter a mente sã quando a cada segundo me lembro de algo que preciso de fazer ou que devia fazer.

Moral da história

Bem, não sei qual é, em conclusão, a moral da história. Sei que queria explicar um bocadinho do que tem acontecido na minha vida para escrever tão pouco aqui. Estou a tentar mudar isso. E queria também dizer que não faz mal estar cansado. Que não faz mal mudar ou adaptar rotinas quando tem de ser. Eu passei a almoçar (e pequeno-almoçar, por vezes) no refeitório da empresa para não ter de me preocupar com preparar o almoço. Estava preocupada com isso, para ser sincera, porque ia ter de me juntar a um grupo de pessoas diferente e eu tenho um certo nível de ansiedade social quando se trata de me inserir em grupos novos.

Sei que preciso de ouvir o meu corpo e a minha mente, mas às vezes ignoro. Também sei que não posso exagerar no ritmo que quero ter porque a probabilidade de perder o controlo e me espetar contra uma parede é grande. Mas também sei que não vou conseguir cumprir o meu objectivo para 2020 se não mostrar o que valho. Tudo isto tem um propósito. Só preciso de me lembrar dele.

Mantra para a semana que hoje começa:
É uma semana caótica, mas pelo menos depois vou passar cinco dias a casa e fingir que Lisboa não existe.


*A tarefa que motivou todo o caos deste mês exige que eu trabalhe com Excel, mais numa perspectiva de inserir dados do que de usar fórmulas. Ora, a lista de dados a inserir é tão grande e morosa que eu tenho sonhado muitas vezes com Excel. É só dos sonhos mais estúpidos que uma pessoa pode ter, mas não me sinto nada descansada quando passa a noite a sonhar com Excel.

5 Replies to “Como acreditar em mim às seis da manhã?”

  1. Pode parecer mínimo, mas quando estou numa fase assim mais delicada, em que parece que tudo se acumula e que são mais os nervos do que a paz de espírito, procuro, primeiro, pensar que não vou ficar naquele dia para sempre. Tudo passa e não há mesmo mal em estarmos cansados, ansiosos, o que for. Mas, ainda assim, vamos com tudo, porque somos capazes de superar. Depois, ajuda-me pensar nessas metas. Na semana passada, integrei uma formação de curta duração e estava nervosa com o que se ia passar [tudo era novidade neste contexto], mas, antes de sair de casa, mentalizei-me de que, quando regressasse, ia ter um jantar com os meus afilhados. Por isso, independentemente de tudo o que pudesse acontecer, ia ter esse colo. Não sei explicar o motivo, mas sinto que acalma mais se tivermos estas pequenas luzes no nosso horizonte.
    Há uma enorme pressão associada a toda essa questão do emprego e das mil coisas que não podemos descurar enquanto seres sociais e com paixões por determinadas áreas. E acredito que existam dias em que o esforço para sair da casa seja hercúleo. Contudo, só podes estar orgulhosa do teu percurso. Porque estás a dar o máximo de ti e a procurar alternativas. E vais conseguir brilhar!
    Se puder ajudar, estou aqui ❤

  2. Acordar todos os dias Às 6h permite-me organizar melhor o meu dia e faz render o meu trabalho. É bom saber que o fazes por ti, e não porque é moda 😀

  3. Pensa nesse caos como meio caminho andado para o lugar onde queres estar, de momento. Pensa nesse cansaço como sendo uma carta necessária para todo este jogo que é a vida. O corpo não se aguenta se a cabeça não estiver sã e, no dia em que escrevo isto, sei que já tomaste as providências necessárias para controlares, com mestria, toda a tua rotina e os teus passo-a-passo. Mais do que teres amigos e familiares a acreditarem em ti, tu tens de o saber fazer. No entanto, reforço o facto de eu acreditar em ti e todas as tarefas que tens por realizar! Sempre acreditei e não vejo porque isso haveria de mudar! Dá-lhe com tudo, Sofia! Quando menos esperares, a tua recompensa chegará! ♥

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