TBC: Como a colecção Uma Aventura moldou a minha vida

Sempre que escolhemos os temas do The Bibliophile Club tento logo pensar em uma ou duas opções de livros que tenham a ver com o tema. No entanto, Março chegou sem que eu soubesse o que ia ler para o tema do mês: livros infantis ou infanto-juvenis. A certo ponto quase decidi não ler. Depois desafiámos os participantes a fazer uma maratona e foi assim que me lembrei de voltar a algo a que não voltava há anos: a colecção Uma Aventura.

Sobre ler 50 livros de uma coleção

A maioria das pessoas que conheço que lêem muito começaram a fazê-lo quando eram pequenas. Para mim, começou com a minha mãe a ler-me histórias da Rua Sésamo e prolongou-se com a colecção portuguesa da autoria da Ana Maria Magalhães e da Isabel Alçada. À semelhança de muitos antes e depois de mim, Uma Aventura fez parte do meu crescimento enquanto pessoa e enquanto leitora. Não podendo comprar todos, adorava quando chegava o dia da carrinha da biblioteca vir à escola dar-nos a possibilidade de requisitar mais livros. Até ao número 50, que saiu em 2008, li todos. Depois fiquei por ali. Já me apetecia ler livros mais adultos. Talvez tenha voltado às minhas aventuras preferidas depois, não sei ao certo, mas já me achava demasiado crescida para aquilo. Como estava errada!

Não sei se é necessário muito contexto antes de prosseguir, mas vou fazê-lo de qualquer forma: a colecção Uma Aventura é uma espécie de Os Cinco da literatura portuguesa. Cada volume acompanha um grupo de cinco amigos numa qualquer peripécia. O grupo, composto pelas gémeas Teresa e Luísa, o Pedro, o Chico e João, sem esquecer os cães Caracol e Faial, mete-se em muitas alhadas, mas consegue sempre resolver os mistérios que surgem. Os livros foram adaptados para televisão e até para cinema. Apesar de ter visto muitos os episódios não era a mesma coisa. Nunca é.

Ler os mesmos livros vezes sem conta e um estímulo à imaginação

Para o TBC comecei por ler Uma Aventura no Portoque é o meu volume preferido. É um livro, tal como os outros, para ler em para aí duas horas, e deu-me vontade de voltar a ler toda a colecção. Como não tenho todos os volumes não é assim tão fácil fazê-lo, por isso li apenas os primeiros três. O primeiro, Uma Aventura na Cidade, é um dos que tenho e os dois seguinte, nas Férias do Natal na Falésia, li em ebook… uma experiência completamente diferente.

É impossível saber quantas vezes li os volumes que tenho. Como não tinha muitos livros, acabava por ler muitas vezes os mesmos. Agora leio em variedade, mas antes lia muito porque lia muitas vezes os mesmos livros. Já sabia de cor as histórias, claro, mas era através delas que ficava a conhecer vários locais. O meu primeiro contacto com o Porto, por exemplo, foi através da aventura por lá passada.

Não é por acaso que aquela frase feita sobre os livros permitirem viajar sem sair do mesmo sítio é verdade. Acima de tudo, quando somos mais novos, os livros são um excelente estímulo para a imaginação. Cada detalhe de Uma Aventura era vivido por nós de uma forma excepcional, fazendo-nos sentir que estávamos lá também. Mais tarde, depois de ter começado a tentar escrever ficção, cheguei a participar num dos concursos literários deles, com uma colega de turma. Já não sei o que escrevemos, mas sei que depois disso ainda tentámos escrever uma história. Nunca terminámos. Mas, mais uma vez, fomos estimuladas a escrever, a pensar, a imaginar.

Ler Uma Aventura aos 25 anos

É difícil dizer com certezas como teria sido a minha vida de leitora e de escritora se não tivesse começado por Uma Aventura. Não sei, honestamente, se me teria tornado grande leitora sem aquela influência da Ana Maria Magalhães e da Isabel Alçada. Eu praticamente só lia aquilo e é de pequenos que criamos alguns hábitos absolutamente importantes para o futuro. Talvez descobrisse a leitura depois, mais tarde, mas não seria a mesma coisa e certamente não me aventuraria a escrever sobre livros se não tivesse uma relação com eles de tantos anos.

Para o que der e vier, hei-de sempre considerar estes livros como o início de tudo. Talvez por isso me tenha sabido tão bem voltar a eles agora. É diferente, claro, ler os livros em adulta e ler em criança. No entanto senti que saboreei as histórias com a mesma vontade e felicidade com que o fazia na altura. Não foi por acaso que fiquei com vontade de ler tudo, até além do número 50. Se, ao longo do resto do ano, me vires a ler esta colecção não estranhes. É que ser crescido e ler livros de crescidos é excelente, mas ser crescido e ainda saber ler livros de crianças é do caraças.

Títulos: #1 Uma Aventura na Cidade | #2 Uma Aventura nas Férias do Natal | #3 Uma Aventura na Falésia | #13 Uma Aventura no Porto
Autoras: Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Anos (1.ª edição): 1982 | 1983 | 1983 | 1985

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3 Replies to “TBC: Como a colecção Uma Aventura moldou a minha vida”

  1. Os primeiros livros que li nas férias de Verão quando não saía de casa em Benfica. Ainda hoje leio, de vez em quando quando apanho um que ainda não tenha lido ?

  2. Este livro terá sempre um lugar no meu coração! E, agora, deixaste-me cheia de vontade de o reler. Mas acabei por oferecer o meu, pois achei que daria uma bela companhia à pessoa em questão 🙂

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