yes no maybe so [becky albertalli & aisha saeed]

Tenho de ser sincera: Yes No Maybe So é bom, mas não é muito bom. No entanto achei que o tema merecia ser destacado e percebi que precisava de escrever sobre ele. Yes No Maybe So é para um público jovem-adulto, provavelmente mais jovem do que adulto, mas foca-se em política. Foi esse o factor que mudou tudo.

Yes No Maybe So: os jovens interessam-se por política?

A história deste livro é muito simples. De um lado temos Jamie Goldberg. Jamie é judeu e sonha um dia concorrer ao senado. Só há um problema: é tímido e sente-se desconfortável a falar em público. De momento, é voluntário na campanha do candidato democrático do seu estado.

Do outro lado temos a Maya Rehman. A Maya reúne duas características interessantes: é muçulmana e é negra. A parte muçulmana é a que tem maior impacto na história, mas há uma cena em que ser negra se revela ainda mais difícil. Os pais da Maya estão em processo de separação e ela só queria aproveitar o último Verão da melhor amiga, que vai para a universidade, mas ela está demasiado ocupada para ter tempo para a Maya. (Toda esta situação com a melhor amiga me irritou muito e me deu vontade de gritar com a Maya)

Maya e Jamie começam a passar muito tempo juntos quando a mãe de Maya sugere que ela se voluntarie também na campanha e os dois formam uma das equipas que vai de casa em casa tentar angariar votos. É fácil perceber para onde é que esta proximidade caminha, no entanto há uma contradição na Maya que também não correu muito bem para o livro. 

O livro é, obviamente, democrata. Para mim, que defendo os mesmos valores do livro, não foi um problema, mas acredito que alguém republicano teria problemas em conseguir afastar-se na visão política das autoras. Nunca tinha lido um livro de ficção tão focado em política e devo confessar que foi o melhor desta experiência.

Por um lado, porque mostra que ainda há jovens interessados em política e que se importam com o futuro do país. Por outro lado, porque explica claramente a importância de votar e de perceber que todos os votos contam. Deixou-me a pensar: será que a literatura deve falar de política?

Será que a literatura deve falar de política?

A resposta a esta pergunta não é tão simples quanto parece. Eu diria logo que sim, mas não acredito que seja só assim que funciona. Acho importante que a literatura defenda os nossos valores, mas se defendemos ideais radicais e extremistas (tanto de esquerda como de direita) será que faz assim tão bem criarmos as nossas histórias com esses valores?

Acredito que quem escreve tem de ter consciência do poder da palavra e acredito que há casos em que é preciso usar esse poder através da literatura. O Yes No Maybe So solta o grito da liberdade ao se posicionar claramente contra Donald Trump e contra leis discriminatórias, principalmente perante outras religiões e raças. Eu acho importante dar voz e tempo de antena a estas personagens, a estes problemas. Portanto sim, às vezes é necessário que a literatura e a política se cruzem.

Título original: Yes No Maybe So
Título em português:
Autoras: Becky Albertalli & Aisha Saeed
Ano: 2020

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One Reply to “yes no maybe so [becky albertalli & aisha saeed]”

  1. O meu instinto também seria responder logo a essa questão com um sim, mas, tal como referes, não é tão simples como parece. Porque é necessário não cair em extremismos. E isso talvez não seja assim tão intuitivo, sobretudo, quando estamos a falar dos valores que defendemos

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