Ui, bloqueios criativos! Se pudesse escrevia uma tese de mestrado sobre eles! Acredito que este seja o maior receio de quem tem trabalhos criativos: lidar com um bloqueio não é tarefa fácil, principalmente para quem precisa de alguma criatividade para trabalhar.
Quando vi este tema no 642 things to write about decidi que o ia incluir neste projecto porque acredito que os bloqueios são sentidos de forma diferente por cada um, tal como cada um terá uma forma diferente de lidar com eles.
Como é ter um bloqueio de escritor?
Nem sempre ter um bloqueio significa o vazio. Já significou, muitas vezes, noutros tempos. Mas, para mim, hoje em dias os bloqueios não vêm do vazio, do sentimento de que não há mais a escrever, não há palavras para dizer. Não. Os últimos bloqueios que tive vieram do caos.
O caos faz-me mais mossa do que o vazio. E às vezes é assim que sinto a minha mente. Tudo desarrumado, uma confusão de palavras, impossível de organizar. Vejo os bloqueios criativos muito mais como bloqueios psicológicos do que criativos. A criatividade está bloqueada porque a mente bloqueou. E isso exige um esforço ainda maior.
Deixa-me contar-te como foi o meu último bloqueio de escritor
Há uns meses, para um trabalho, precisei de fazer um artigo sobre… bem, para não te revelar em que situação e em que local de trabalho aconteceu vamos dizer que o tema do artigo era o Jon Snow, de Game of Thrones. Ora, fiz aquilo que faço sempre: pesquisei sobre o Jon Snow, seleccionei informações importantes e interessantes e escrevi o meu texto sobre o Jon da mesma forma que já tinha escrito ali outros artigos sobre outros temas.
Problema: o artigo não foi publicado. Problema ainda maior: a pessoa responsável contactou-me e disse-me que os meus últimos artigos, incluindo aquele sobre o Jon Snow, não estavam, e passo a citar, grande coisa. A minha mente naquele momento parou abruptamente. Não ficou vazia. Em vez disso todas as palavras e acções começaram a navegar pela minha mente sem direcção ou sentido.
Depois, ainda houve outra frase a juntar a esta que colocou a minha mente num estado de inércia que me fez lembrar uns tempos de fim de adolescência em que as palavras não conseguiam sair porque me tinham aplicado um golpe de krav maga digno de ficar dias em posição fetal, a contorcer-me de dores. A mente simplesmente não conseguia formular qualquer frase porque precisava de lidar com a dor.
Nem sempre o bloqueio vem de um golpe externo
Nem sempre é necessário um golpe externo para bloquear. Se a saúde mental não andar grande coisa é meio caminho para que a criatividade não saia da mesma forma. Ter um bloqueio de escritor é sentir as palavras fugir e ainda não saber como as trazer de volta. É questionar a vida e o mundo. É saber que as palavras voltarão, só temos de as deixar viajar primeiro. É saber que não importa a porrada que nos dão: nós vamos cumprir e fazer e refazer textos até que saia algo de jeito, como eu fiz com o texto do Jon Snow.
Passei horas a olhar para o nome dele e a pensar que desejava que ele nunca tivesse existido, sabendo que isso era a maior das mentiras. Escrevi, apaguei, voltei a escrever. Eventualmente, algum conjunto de palavras resultaria. No final saiu um texto sem grande personalidade, mas que pelos vistos já era muito bom. Às vezes é preciso construir, deitar abaixo e reconstruir. Faz-me lembrar uma música dos Linkin Park, a Burn it Down. Pode demorar mais ou menos tempo a reconstruir, mas voltamos sempre a escrever.
Já que falamos sobre o assunto, há cinco anos escrevi algumas dicas simples sobre lidar com bloqueios criativos:
Lê este e outros textos do Projecto 642.
Outros participantes: Afar | Andreia Moita | As Gavetas da Minha Casa Encantada | By Carolina | Diogo Simões
Acredito que estes bloqueios não deixam de ser um sinal de alerta. Para abrandarmos. Para direcionarmos a nossa atenção noutro sentido. Para pararmos. Ou, simplesmente, para perceber que aquela ideia não tem que ser concretizada já.
Naturalmente, há alturas em que é mais complicado gerir esta questão, sobretudo, se existirem prazos e obrigações associadas. Mas, como referiste e bem, é preciso deixar as palavras voar. Eles, eventualmente, voltam. E aí, sim, podemos fazer aquilo que tanto nos completa.
Por norma, os meus bloqueios também vêm do caos, do excesso de informação/pensamentos que quero abordar. E acho que esses tendem a ser mais frustrantes, porque, à partida, tinhas tudo para escrever o texto.
Os bloqueios criativos já são aceites por aqui. Já não fico ansiosa, porque, tal como dizes, eu sei que as palavras vão voltar. E se não escrever hoje algo que valha a pena, escrevo amanhã. A solução pode passar por escrever ideias soltas, coisas sem sentido, nem que sejam listas, mas eu confesso que muitas vezes opto mesmo por parar. E lá está, continuar amanhã. E olha, vou daqui escrever o meu texto para o projeto 642, sobre o tema, já que as palavras estão a fluir 🙂 É aproveitar!
É muito fucked up quando a nossa mente estagna… E o pior que fazemos é não olhar por ela devidamente! Às vezes, precisamos de uma pausa maior do que aquelas que alguma vez existiram. Outras, é só preciso reinventar. O importante, citando-te, é ir fazendo as vezes que forem necessárias! Dali, sairá alguma coisa!
Beijocas,
LYNE, IMPERIUM BLOG // CONGRESSO BOTÂNICO – PODCAST