polina [bastien vivès]

Sempre que um professor recomenda um livro em aula, apenas por recomendar e não por termos de o ler obrigatoriamente para a disciplina, sigo o mesmo processo: procuro o livro online, pesquiso um bocadinho sobre ele e decido se quero lê-lo na mesma ou não. Foi esse o processo que segui com Polina, uma novela gráfica de Bastien Vivès. Polina foi um estudo de caso de uma aula de Literatura e Estudos Interartes e a história pareceu interessante. Depois de uma pesquisa rápida decidi que ia dar uma oportunidade ao livro. E cá estamos a falar sobre ele.

 

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Polina: da Rússia à Alemanha

Vou ser muito sincera: talvez não seja a melhor pessoa para falar sobre desenho, mas realmente não achei a parte gráfica nada de extraordinário. Provavelmente, o problema sou eu e a minha falta de sensibilidade visual. Ainda assim, aquilo que me fez escolher Polina foi a história e essa foi uma boa surpresa, superando completamente as minhas expectativas.

A história foca-se em Polina Oulinov, uma menina talentosa a quem é dada a oportunidade de estudar numa academia de ballet, na Rússia, onde o rigoroso (e meio assustador) professor Bojinsky a acolhe. Bojinsky é mesmo muito rigoroso — é aquele tipo de professor para quem dar 100% não chega e, por isso, Polina tem de se esforçar ainda mais para mostrar que merece estar ali e que pode vir a ser tão boa quanto Bojinsky pensa que ela virá a ser. Quando cresce, Polina vai para uma escola de teatro, onde parece que tem de reaprender tudo aquilo que devia saber sobre dança e sobre métodos de trabalho. As coisas acabam por não correr tão bem e ela decide mudar-se para Berlim, numa atitude de auto-descoberta e de tentativa de redescoberta da dança.

Dance is an art. It cannot be learned.

A dança, a arte e as expectativas que temos para a nossa arte

Se não estragasse por completo a experiência de leitura, podia detalhar-te todo o percurso de Polina e tudo o que fui pensado ao longo do mesmo, no entanto perdia a piada se fosses ler a seguir. Atraiu-me muito a ideia da dança ser o tema principal porque a dança sempre foi algo de que gostei e, desde pequena, aqueles filmes que se focavam em dança ganhavam logo a minha atenção. Mais do que a dança, acabei por me identificar de uma forma muito particular com a jornada de auto-descoberta e de redescoberta da arte pela qual a Polina passa. Sinto que estou nessa mesma jornada com a minha escrita, a descobrir uma nova forma de amor, paixão e compromisso com a minha arte.

O período de tempo que o livro acompanha é muito extenso, desde a infância até à idade adulta, por isso é normal e expectável que a Polina passe por vários altos e baixos na sua relação com a dança e até com aquilo que ela acha que a sua dança tem de ser e eu gostei muito de ver isso no livro, de perceber as dúvidas e os problemas dela, de sentir que aquela história podia perfeitamente ser de alguém real.

No caso dela, Polina tem uma formação clássica e rigorosa e vê-se obrigada a reaprender aquilo que a dança pode ser e aquilo que ela própria pode ser. Foi o que mais me disse na história: aquela ideia de reinvenção e de ultrapassar os limites que o nosso caminho nos parece ter imposto. Agora que estou a escrever sobre o livro percebo que gostei ainda mais do livro do que pensava, por isso, se arriscares lê-lo também, espero que tenhas uma sensação semelhante.

Outros livros do autor

Esta foi a minha primeira experiência com a obra do autor, portanto ficam outros dois títulos traduzidos para português: Corto Maltese – Oceano NegroUma Irmã.

Se gostaste deste, vais gostar de...

Estás com vontade de ler novelas gráficas com personagens femininas espectaculares? Persepolis, de Marjane Satrapi, é uma novela gráfica autobiográfica de que gostei muito. Se quiseres, podes ler o texto que lhe dediquei.

Título original: Polina
Título em português: Polina
Autor: Bastien Vivès
Ano: 2011 (PT: 2017)

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Este livro interessa-te?

3 Replies to “polina [bastien vivès]”

  1. Não sei se é a mesma história, mas há uns anos vi um filme chamado Polina e parecia ter uma premissa muito semelhante (terá sido uma adaptação?). É um filme bem parado (a ironia!!!), mas na altura gostei precisamente dessa viagem de auto-descoberta, de teres treinado, desejado e construído uma identidade tão sólida em torno de um só elemento de uma arte (neste caso, a dança e o ballet) que, quando te desafiam a explorar outros contornos dessa arte, não te sobra elasticidade para o fazer. Se for a mesma história, também gostei muito 🙂

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