noites azuis [joan didion]

Depois de ler O Ano do Pensamento Mágico, acho impossível partir para um qualquer livro da Joan Didion sem expectativas mais elevadas do que o recomendado. No mínimo, esperamos uma escrita exímia. Parti para Noites Azuis a esperar essa tal escrita exímia e um livro tão doloroso quando o primeiro. A escrita cumpriu, a dor — feliz ou infelizmente — não foi tanta.

Quando o marido de Joana Didion morreu, em dezembro de 2003, a filha de ambos, Quintana, estava no hospital. Um ano e meio depois morreu. Noites Azuis surge como reminiscência da morte da filha, mas não da mesma forma que O Ano do Pensamento Mágico existe no luto pela morte do marido. Se n’O Ano do Pensamento Mágico a autora tenta fazer sentido da morte do marido, com uma série de hipóteses científicas, em Noites Azuis ela parece querer fazer sentido da vida: a sua e a da filha.

Noites Azuis não aborda tantos os detalhes da hospitalização de Quintana, talvez por ser publicado com mais distância do acontecimento do que no livro anterior. Em vez disso, encontramos fragmentos. Temos muito sobre o processo de adoção de Quintana e muito sobre o facto inegável de Joan Didion estar a envelhecer e a questionar-se sobre se terá sido uma boa mãe, se terá merecido ser mãe de Quintana.

Este livro foi menos doloroso de ler, mas nem por isso foi menos triste. Há algo na forma como ela está constantemente a voltar à questão da adoção que me deixou de coração apertado. Quase parece que sente alguma culpa por não a ter protegido e, por isso, a ter perdido. Foi muito triste ter esta sensação, mas não deixou de ser muito bonito.

Título original: Blue Nights
Título em português: Noites Azuis
Autora: Joan Didion
Ano: 2011 (PT: 2021)

 

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