Se eu tivesse um euro por cada vez que alguém me disse coisas como: também gostava de escrever um livro, se soubesse escrevia um livro, se tivesse jeito isto dava para escrever um livro… bem, provavelmente não dava para me reformar, mas certamente teria umas largas centenas de euros extra. Acho que a escrita ainda é vista como algo que apenas alguns conseguem fazer, embora pareça, a quem escreve, que é algo tão mundano e corriqueiro quanto chegar a uma livraria e ver centenas de livros de pessoas que não seriam consideradas escritoras.
Há uns meses escrevi aqui que tenho uma certa relação tóxica com livros sobre escrita, porque sei que os posso ler todos e que isso não me fará melhor escritora por isso não preciso de querer ler todos, mas, mesmo assim, quero ler todos. Ora, como é óbvio, quando vi este livro no Kobo Plus soube que ia ler. Este Ano Escrevo um Livro deixou-me curiosa quando saiu, em 2017, mas nunca o tinha lido porque não sabia se iria, de facto, ser uma mais-valia para mim. Desta vez a curiosidade falou mais alto (e a facilidade em o ler também ajudou). Se foi uma mais-valia? Nem por isso, mas já lá chegamos.
Este Ano Escrevo um Livro é o guia completo de criação literária, pelo menos de acordo com a Agência das Letras, que o fez. O livro aborda o processo de criação de um livro desde a escrita ao envio para uma editora, com algumas sugestões práticas. Por exemplo, a certo ponto sugerem que, para começar a escrever, se escreva apenas a ideia inicial. Primeiro uma frase ou um parágrafo e depois desenvolver a partir daí, como se estivesse a ser contada a um amigo, de forma resumida, e a partir daí ir repetindo o processo, acrescentando algumas frases.
Por um lado, sinto que é um guia que vai mesmo ao patamar mais baixo e explica tudo de início, o que certamente será útil a quem nunca escreveu um livro e não sabe bem como começar, como estruturar a história ou como a resumir. Por outro lado, sinto que o livro peca por ser claramente enviesado (é escrito por uma agência portanto o papel dos agentes literários surge aqui como se fosse algo muito comum e utilizado no mercado português — e não é. Não era em 2017 e não é agora) e por tentar mecanizar processos na escrita que se calhar conseguem ser mais simples ou que se calhar não são tão simples quanto tentam passar.
É algo transversal a vários livros deste género, mas acho que esta é a forma mais honesta de descrever: é levar cada conselho com uma boa dose de bom-senso e sentido crítico. Nem tudo vai ser útil, nem tudo vai fazer sentido. Haverá coisas interessantes e outras desnecessárias. É pegar no lado positivo e aproveitá-lo. É não esperar milagres e vai correr tudo bem.
Título original: Este Ano Escrevo um Livro
Autores: Agência das Letras
Ano: 2017
Lido em: 17 e 18 de agosto de 2024