- Quando: 4 a 6 de março de 2024
- Gatilhos: guerra, violência, luto, saúde mental.
A capa atraiu-me e a sinopse interessou-me. Adicionei-o logo à lista, sem saber que a Inês e a Carolina o escolheriam como livro de março no The Characters Club. Como queria mesmo lê-lo não podia falhar esta leitura conjunta, ainda por cima tinha sido a ver a Inês lê-lo que tinha ficado ainda mais interessada em As Long As The Lemon Trees Grow, ou, em português, Onde Crescem os Limoeiros.
Apesar de não ser um género que leia tanto, gosto muito de livros de ficção histórica que se passem entre o século XX e XXI. Onde Crescem os Limoeiros é um desses casos, uma vez que se passa na Síria, no início dos anos de 2010, pós-Primavera Árabe. Este período histórico tem algo de próximo porque lembro-me perfeitamente de acompanhar no telejornal a Primavera Árabe e consequentes revoluções. E, claro, penso que todos temos bem presente na memória a crise de refugiados que daí adveio, com a imagem de barcos sem condições cheios de pessoas que tentavam fugir à morte certa indo por caminhos incertos, muitos deles sem conseguirem chegar ao destino vivos.
Em Onde Crescem os Limoeiros, conhecemos Salama, uma rapariga de 18 anos que estava a estudar Farmácia quando o conflito começou e que agora se vê obrigada a trabalhar no hospital de Homs, onde chegam os casos mais horrendos e devastadores. Antes, ela tinha uma família feliz, adorava os pais, o irmão mais velho tinha acabado de casar com a sua melhor amiga e até havia um rapaz com quem tinha encontro marcado para falar de casamento. Depois veio a guerra. Os pais morreram. O irmão também. E tudo o que lhe resta é Layla, a cunhada, grávida, e a promessa que fez ao irmão de que a protegeria sempre.
A solução é sair do país, mas Salama tem um grande sentido humanitário e está numa espécie de encruzilhada em que não quer abandonar o seu país e as pessoas que precisam dela, mas também não pode arriscar colocar a vida da cunhada ainda mais em risco. Claro que, no meio de tudo isto, surge algo que complica ainda mais a decisão: Kenan, um rapaz de 19 anos, que não quer deixar a Síria porque acredita que o seu dever é mostrar o que ali se passa.
— E havemos de voltar — afirmo, com a voz pouco firme. — Insh’Allah, havemos de voltar para casa. Plantaremos novos limoeiros. Reconstruiremos as nossas cidades e seremos livres.
Onde Crescem os Limoeiros é um livro para um público mais jovem adulto e isso nota-se na forma como a narrativa é construída. Adorei as personagens — temi por elas como se fossem reais, porque outras como elas ainda estão lá — e admirei a beleza e dureza com que a autora conta a história da revolução síria. No entanto, não gostei de algumas concretizações, sendo um dos exemplos o arco narrativo da Layla — expectável, mas com pouco impacto quando é revelado — e até o epílogo, porque admito que muita da parte romântica da relação entre o Kenan e a Salama não me interessou (acho que simplesmente não estava tão interessada no romance como estava na Síria).
Sinto, ainda assim, que este é um livro que guardarei com carinho porque sempre me perguntei se era possível ter esperança quando se assiste à destruição da nossa casa, do nosso país, das nossas pessoas. E, no fundo, este é um livro mais de esperança do que de destruição. E bem se sabe que às vezes precisamos de esperança…
Título original: As Long as the Lemon Trees Grow
Título em português: Onde Crescem os Limoeiros
Autora: Zoulfa Katouh
Ano: 2022 (PT: 2023)
Não conhecia, mas aprece interessante. 🙂