11.03.2009

Na verdade, a data está errada. Começou antes, em 2008, mas eu sempre preferi assinalar o 11 de Março de 2009. Fazia mais sentido para mim, tendo em conta que todas as tentativas anteriores acabavam eliminadas e eu não tinha datas certas. Foi no primeiro semestre de 2008, mas o dia e o mês são incógnitas. Fiquei com o 11 de Março de 2009. Foi há dez anos. E o que esta blogosfera viu de mim em dez anos foi tanto e tão pouco.

Acabei o 9.º ano. Recebi uma bolsa de mérito. Fiz o Secundário, em Economia (Ah, mas não preferias Ciências? Não.), sempre com bolsas de mérito no final do ano. Desapaixonei-me. Apaixonei-me. Desapaixonei-me. Apaixonei-me. Desapaixonei-me. Apaixonei-me e quem me dera nunca o ter feito. Escrevi sobre amizade e amor. Demasiado. Nunca falei sobre o bullying de que era vítima regularmente, nunca falei sobre todos os problemas familiares por que passei, nunca falei sobre os problemas financeiros, sobre a falta de auto-estima, sobre a obsessão com o peso que começou depois de deixar de consultar o nutricionista (acho que também nunca falei de nutricionistas). Não entrei na opção que queria na Universidade e decidi não ir para aquela em que tinha ficado. Expliquei-me demasiadas vezes para, em todas as vezes, ter pessoas (até anónimas) a dar opiniões sobre o que eu devia e não devia fazer. Todas pareciam ter uma opinião em comum: nunca vais conseguir a ESCS. Mas eu passei anos a querer. Tirei a carta. Publiquei um livro. Entrei na ESCS. Suck it, haters! E aí tudo mudou.

Fui para Lisboa. Não falei sobre as três semanas em que adormeci a chorar por estar perdida, por me sentir sozinha, por não saber como lidar com tudo. Acho que na ESCS acharam que eu tinha a mania e que era anti-social. Eu só não sabia como fazer amigos e como aguentar tudo. Também não falei de como, quando sentia que estava a começar a integrar-me, me partiram o coração de tal forma que passei mais umas semanas a sentir-me novamente perdida. Fiz amigos. Publiquei outro livro. Comecei a gostar tanto da ESCS como achava que ia gostar. Mudei de casa. E depois a coisa não correu bem e mudei novamente.

Depois de duas paixonetas estranhas (provavelmente nem chegaram aí) consegui ultrapassar o coração partido. Mas as feridas ficaram. Também não falei delas. Sentia-me a crescer diariamente. Deixei de escrever sobre amizade e amor. Deixei de querer falar do que quer que fosse por aqui. Apaixonei-me. Muito. Senti-me perdida, muito perdida. Chumbei a cadeiras. Decidi que estava na hora de cortar com o passado e criei este blog de raiz, com tudo o que tinha aprendido nos últimos anos. Fui para o último ano de faculdade com objectivos para depois, no Porto. Fui à Madeira e, se fosse hoje, talvez tivesse ficado em casa. Desiludi-me. Surpreendi-me. Uma pessoa que me era próxima lutou contra uma depressão e eu nunca falei disso. Cheguei ao último semestre com vontade de ir embora, até perceber que ir embora não era assim tão simples. Chorei. Tive crises de pânico e ansiedade (também não falei delas). Disse a quem tinha de dizer que gostava dele. Ouvi um não. Achei que ia cair para o fundo, mas aguentei-me. Achei que tinha feito amigos para a vida. Tive a minha Bênção e chorei muito. Deixei Lisboa.

Fui para um trabalho que odiei e me fez muito mal mentalmente e nunca falei disso. Deixei o trabalho. A minha cadela morreu. Senti-me na merda, mais uma vez. Mas não falei disso. Fui fazer uma pós-graduação. Gastei metade da minha poupança para me aguentar em Lisboa o máximo que conseguisse. Fui a entrevistas de emprego. Levei muitos nãos. Senti-me na merda. Fiz contas e contas e contas. Organizei um jantar de aniversário sabendo que era uma jantar de despedida (ninguém sabia) e deixei Lisboa, de vez, talvez para sempre, com a certeza de que o meu futuro não ia ser mais ali. Passei meses e meses desempregada, a sentir-me na merda, e não falei sobre isso. Nem vou falar enquanto a situação não mudar.

Comecei e não terminei muitos livros. Duvidei da minha capacidade de escrita muitas vezes. A minha mãe adoptou a Lady. Percebi que os meus amigos são tão poucos e que não dá para confiar mais. Deixei de falar de pessoas, porque estou farta de me desiludir. Aliás, sempre que achar que estou a fazer amigos vou pedir a outra pessoa para avaliar, porque o meu discernimento é péssimo. Comecei com 14 anos. Tenho 24. Mudei tanto que já nem me reconheço nas publicações de há 10 anos. Nem nas de há 4 ou 5. Estou no pior momento da minha quarter-life crisis. Às vezes diziam-me que eu partilhava demasiado da minha vida no blog. Mas na verdade acho que nunca partilhei assim tanto. As coisas mais difíceis não estão cá. As feridas mais difíceis de sarar não se curaram aqui. As feridas que ainda estão abertas, a doer, não estão aqui.

Mas aqui está muito de mim, muitas horas de trabalho, muita frustração e muito orgulho. Estão publicações que não chegam às 50 visualizações e que deviam ter muitas mais. Estão publicações que foram vistas mais de mil vezes e que eu nem sei como. Às vezes penso que queria voltar a 2009, porque me sentia menos perdida e mais esperançosa naquela altura. O que eu esperava da minha vida em 2019 não era nada do que tenho agora. Outras vezes penso que devia ter investido mais no blog nos anos iniciais. Talvez agora fosse uma grande blogger se o tivesse feito. Ou talvez não.

Arrependo-me de todas as pessoas que souberam que gostei delas, excepto da última. Dele não me arrependo. Podia arrepender-me de todos os beijos que houve em dez anos, mas alguns até foram bons. Não me arrependo das vezes em que bebi demasiado, mesmo quando, da última vez, a ressaca durou 3 dias. Não me arrependo das saídas e das vezes em que não saí porque não tinha dinheiro e não tinha coragem de o dizer. Às vezes arrependo-me da influência que muitas pessoas tiveram aqui, das palavras que gastei com elas. Não me arrependo nem um bocadinho de ter esperado pela ESCS. Arrependo-me do gosto de ti que chegou demasiado tarde. Às vezes penso que houve muitos momentos que ficaram aqui, mas outros tantos que não estão cá.

Gosto cada vez mais da ilusão que um blog dá às pessoas, que acham que sabem tudo sobre nós, quando não imaginam nada sobre as mesmas. Se não me tivesse aventurado nisto há dez anos, tenho quase a certeza de que não estava aqui agora. Provavelmente nunca tinha criado um blog. Possivelmente nem tinha publicado livros. Não teria sofrido parte do bullying que sofri. Não teria conhecido algumas pessoas, o que é bom e mau. É por andar por cá há tanto tempo que sei que vou ficar muito mais. A forma de escrever pode mudar, os conteúdos podem mudar, a regularidade pode deixar de existir, as partes más podem aparecer cá, as boas também, mas há uma coisa que me faz continuar cá mesmo quando dizem que adoram que escreva sobre X ou Y e depois essas são as publicações menos vistas. E não é esperar pelos números grandes. Não é esperar pela fama (não espero). Não é querer atenção. Não. É que isto é o que sei fazer e aquilo de que gosto realmente. Gosto demasiado disto. Mesmo quando me afasto, sei que não é duradouro. Gosto demasiado disto.

Aquilo que espero do futuro deste blog é que seja melhor. Que eu seja melhor. Que a minha vida seja melhor. Que um dia possa falar-vos de tudo aquilo por que tenho passado no último ano e meio e conseguir realmente publicar esse texto. Aprendi muito nestes dez anos. E quero que, no futuro, possa falar aqui de tantas coisas que às vezes ficaram por dizer. Quero continuar a encher isto de livros, mesmo que muitos sejam ignorados por quem me lê. Talvez vá voltar a alguns tipos de textos que deixei de escrever.

Quero escrever aqui daqui a dez anos e dizer-vos que em 2009 os Linkin Park já eram a minha banda preferida e que continuam a ser. Quero escrever aqui daqui a dez anos e dizer-vos que foi difícil mas os sonhos e objectivos que agora penso estarem perdidos não estavam assim tão perdidos. Talvez tenha ido a algum lado. Talvez tenho voltado a acreditar nas pessoas e na vida. Quem me dera que sim. Vemo-nos daqui a 10 anos. (vou tentar não pensar na idade que vou ter nessa altura porque juro que a minha crise dos 24-para-os-25 não aguenta).

13 Replies to “11.03.2009”

  1. Adorei! É tudo o que consigo dizer neste momento. É um prazer, mesmo, ler-te desta forma.
    Beijinhos e a mais 10 anos!

  2. Parabéns pelos dez anos de blog, Sofia! Que bom que cheguei até ele e o conheci! É bom estar aqui! Eu gosto!
    E que venham os próximos dez anos! Espero que eu ainda esteja por aqui e com os meus blogs, que têm todos, menos de um ano!!
    Um abraço!

  3. Parabéns, Sofia! Este texto foi uma marca sincera que deixaste para todos os que tiveram coragem de ler estas palavras até ao fim.
    A vida é feita de alto e baixos e tu sentiste-os na pele. Eu própria revi-me nalgumas situações que referiste e ainda me custa pensar nelas. Ou pensar em escrever sobre elas. Mas o tempo ajuda e se tiveres vontade de falar sobre isso, acredito que seja aqui, neste blog, que o irás fazer.
    Muito sinceramente, espero estar deste lado daqui a 10 anos, a continuar a ler o conteúdo que crias e com mais 3 ou 4 livros teus na minha mesa de cabeceira!

    Tens sido uma grande inspiração para mim, Sofia, e desejo-te o melhor!

  4. Foda-se! É a primeira palavra que me vem ao ler este texto, porque, efetivamente, há muito que não conhecemos de quem está do outro lado. E, ainda assim, acreditamos que as sabemos de cor. Foda-se porque sinto que a tua visibilidade deveria ser maior, não por uma questão de número, mas porque há uma verdade impossível de reproduzir. Por isso é que, dez anos depois, por mais altos e baixos, permaneces aqui e com vontade de continuar. «Gosto demasiado disto», e isto diz tudo *-*
    Muitos parabéns, de coração! Parte de mim lamenta não te acompanhar há tanto tempo, mas a outra parte fica contente por ter encontrado o teu cantinho tão especial.
    Nunca mudes ♥

    1. Já disse que me emocionaste, mas digo novamente: fiquei de lágrimas nos olhos! Muito obrigada pelas palavras e por teres sempre uma mensagem a deixar-me, fale lá eu do que falar! Muito obrigada!!!

  5. Já aqui venho com dias de atraso, mas bolas, tu és muito especial, Sofia!! Ver-te a crescer e desenvolver enquanto pessoa, escritora, artista, deixa-me muito orgulhosa, pela proximidade que partilhamos!! É, deveras, com o coração a palpitar que anseio ver-te crescer ainda mais e desejo que nunca percas a força para trabalhares por ti! Não há que ter pressas nem cobranças em escrever sobre tudo e mais alguma coisa, desde que deposites o teu amor, tudo correrá pelo melhor!
    Parabéns, miúda! ???

    LYNE, IMPERIUM BLOG

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