O mundo recolheu-se, mas não parou. Ao contrário do que algumas pessoas dizem, o mundo não parou, a vida não parou. Os dias continuam a passar, a Terra continua a girar e as polémicas de redes sociais continuam a rebentar.
Quando comecei a quarentena, a meio de Março, decidi que ia aproveitar para fazer algo produtivo, mas também para não ser produtiva. Arrumei coisas que precisavam de ser arrumadas há algum tempo, fiz uma limpeza no armário e actualizei-me nas séries em atraso. Em Março não escrevi tanto, mas quis aproveitar o facto de haver mais disponibilidade para conteúdos na internet e decidi que em Abril ia tentar as 5 publicações por semana.
Produtividade vs. Criatividade
Pode parecer que a quarentena me fez muito produtiva, mas sinto o contrário. Estes dias fizeram-me mais criativa. A lista de 20 ideias que apontei nestas semanas mostra isso mesmo. Tenho tido muitas ideias, incluindo de histórias, mas sinto-me menos produtiva ou, pelo menos, mais lenta na produtividade.
Normalmente, costumava fazer publicações de véspera ou com 2 ou 3 dias de antecedência. Agora dou por mim a terminá-las no dia de publicação, porque no dia antes passei horas desconcentrada, a fazer não sei bem o quê. Eu abro o Pinterest, eu vejo se há novidades no Feedly mais vezes do que o normal, eu vou ao Twitter, eu tento passar níveis no Candy Crush, eu vou ver as novidades no Instagram. Já dei por mim a ir ao Goodreads só ver o que os outros andam a ler. Isto tudo enquanto devia estar a escrever. No entanto, não me martirizo. As publicações são escritas, mais depressa ou mais devagar. Se não saem às 8h saem às 12h, às 15h ou às 19h.
A verdade é que produtividade e criatividade nem sempre andam de mãos dadas e aquilo que tenho feito é respeitar a diminuição de produtividade com estratégias para tentar fazer o melhor que consigo. Mudo de local de escrita, escolho bandas sonoras diferentes e esforço-me. Tenho feito muito conteúdo do qual me orgulho e o foco mantém-se aí.
A produtividade dos outros
Aquilo que tenho notado é que muita gente está mais comichosa com o que os outros mostram. Se alguém parece estar a ter uma quarentena produtiva, criticam. Se alguém parece estar a passar a quarentena apenas no sofá, criticam. Acho que precisam todos de relaxar um bocadinho. Cada um está a lidar com esta situação da forma que pode.
O maior exemplo disto são os treinos. Vi muita gente criticar as pessoas que partilhavam treinos e achei piada. Aquilo que pode servir de motivação e inspiração para uns pode não servir para outros, mas é assim tão mau alguém treinar e dizer que treinou, mostrar que tem feito o esforço de se manter activo quando pode fazê-lo? Se a Helena Coelho e o Paulo Teixeira não tivessem partilhado os treinos deles eu muito dificilmente tinha decidido voltar a treinar e ainda mais dificilmente o estava a fazer 6 vezes por semana. No sábado passado, por exemplo, não houve treino e eu calcei as sapatilhas e fui fazer um treino que tinha guardado.
A questão aqui é que a fuga à normalidade nos leva a agir e reagir de formas diferentes. Para mim era importante arranjar algo que compensasse o facto de não sair tanto e arranjei os treinos. Para ti pode ser importante dedicares-te à cozinha, às arrumações, aos livros, às séries. Sei lá.
Actividades de quarentena
Como sabes, cá em casa temos a Lady. A Lady sempre foi duas vezes por dia à rua. Não passámos a passeá-la cerca de 376 vezes por dia e optámos por manter os horários normais de passeio. O que acontece é que a minha mãe é quem sai mais vezes com a Lady, em vez de sairmos as duas. Isto é importante porque a minha mãe é muito mais de sair de casa do que eu. Para mim, estar em casa e não cumprimentar pessoas é quase um sonho de infância finalmente realizado.
O facto de passear menos com a Lady teve um impacto em mim, claro. Tinha pelo menos dias por semana em que saía sozinha com ela e usava esse tempo para ouvir podcasts. Agora ouço enquanto faço alguma tarefa doméstica. Tenho muitos episódios em atraso. Ao perceber que ia passear menos percebi que ia precisar de tentar ser mais saudável com as restrições que temos. Voltei a treinar, bebo litro e meio de água por dia e tento compensar mesmo quando como alguma coisa mais calórica.
Tenho escrito diariamente, muito por causa de querer fazer mais conteúdo, mas tenho lido menos. No entanto, andamos muito fortes nas séries: vimos as sete temporadas de Gilmore Girls e os quatro episódios especiais num mês. No início do mês começámos Brooklyn Nine-Nine e já vamos a meio da sexta temporada, com previsão de terminar esta semana.
Se queria fazer outras coisas? Claro! Queria já ter feito uma roadtrip em família da qual ando a falar desde Dezembro, queria já ter voltado ao Porto, queria que o concerto do Harry Styles fosse este ano e que a Taylor Swift ainda viesse ao Alive. Mas quando sinto o ambiente favorável consigo adaptar-me facilmente.
Nestes dois meses aconteceu muita coisa e é curioso perceber quem é que se preocupa connosco, quem é que continua a dar desculpas de não ter tempo, quem é que se esforça para manter algum contacto e saber como está a vida. Mas também tem sido interessante perceber o que gostamos de fazer, o que queremos fazer e como nos conseguimos reinventar.
No fundo, vamos arranjando-nos conforme podemos. Umas vezes com vontade de não sair da cama até isto passar, outras vezes com energia capaz de mover montanhas. É a vida como ela é.
Também comecei a ver Brooklyn Nine-Nine na quarentena e estou a adorar 🙂
Adorei a série! É muito boa!
Há pessoas para as quais nada está bem, por isso, tudo é motivo para crítica. E eu tenho zero paciência. Porque cada um ocupa o seu tempo como bem entender. Se alguém quer estar sempre em atividade desde que acorda, até voltar a deitar-se, qual é o mal? Se há quem queira fazer bolha, qual é o mal? Acho que já devíamos ter compreendido que não reagimos todos da mesma forma e está tudo bem.
Eu tenho aproveitado para ler e escrever mais, para ver séries que deixei para mais tarde e para escolher mais vezes o cinema. Também tenho aproveitado para treinar e para experimentar pequenas receitas que vou encontrando. E vou gerindo isso nos intervalos das explicações de português. Mas, claro, também há dias em que só me apetece estar a existir :p
Desde que as pessoas sintam que estão bem e que esse entusiasmo ou falta dele não é para compensar ou boicotar algo delas, é deixar rolar.
Pela primeira vez em 4 anos estou a ter tempo para mim e para me relembrar do que gosto e do que é parar e respirar. Está a ser optimo!
Isso é muito bom!