2020 deixou-me saudosista. Não de regimes totalitários e opressores, mas de outros anos.
Às vezes lembro-me de pessoas que fizeram parte do último ano de secundário e pergunto-me como estarão agora. Lembro-me das pessoas com quem deixei de me dar por ter tomado partido de outras pessoas… que, agora, já não fazem parte da minha vida. Passo pelo “corredor” (trancosenses perceberão… os outros podem perguntar) e quase consigo ver todas as pessoas que lá iam sempre fumar. Lembro-me da quantidade absurda de vezes em que almoçava no Espanhol com os meus amigos daquela época ou da quantidade absurda de gomas que por lá foram compradas.
Dou por mim a pensar no quanto a biblioteca da ESGAB foi crucial na minha escrita… e nas minhas amizades. As horas passadas lá a conversar, a estudar, a fingir estudar, a imaginar um futuro em que aquelas pessoas seriam sempre amigas como eram. A sonhar. Quando temos 17 ou 18 anos achamos que sabemos quais são exactamente as voltas que a vida vai dar. Crianças inocentes.
Não lembro só aqueles momentos bons. Dou por mim a pensar em todas as vezes em que chorei agarrada à Dama e a perguntar-me: como é que quem não tem um animal de estimação vive? E depois levo a Lady ao parque e lembro-me da primeira vez que a Dama lá foi. E de repente vêm-me à cabeça as conversas mais profundas que tive ali, os sentimentos confessados e as verdades absolutas que morreram meses depois.
E, mesmo com todo este saudosismo, só voltava para a Dama. Não voltava a viver o secundário (nem o último ano), não voltava para repetir aqueles almoços ou as horas passadas na biblioteca, não voltava para dizer o que ali foi dito, para repetir os abraços que ali foram dados. É a isto que se chama crescer, não é? Ter estes momentos de saudosismo, mas não querer voltar porque se sabe perfeitamente que se é melhor pessoa agora e que, mal por mal, o coração anda menos despedaçado agora, não é tudo o fim do mundo e, felizmente, ainda há muitas memórias a criar.
Há alturas em que dou por mim a recordar uma altura semelhante, mas noutro lugar, com outras pessoas e outras memórias. E nunca deixo de ficar espantada com as voltas que a vida nos reserva, com os caminhos que pensamos conhecer como a palma da nossa mão e com as pessoas que achei que continuariam a caminhar ao meu lado. Hoje, porque já não é uma ferida em aberto, percebo que tinha que ser assim, para me tornar na pessoa que sou. Mas confesso que existem momentos para os quais não me importava de voltar, porque foram do caraças :p
“Ter estes momentos de saudosismo, mas não querer voltar porque se sabe perfeitamente que se é melhor pessoa agora e que, mal por mal, o coração anda menos despedaçado agora, não é tudo o fim do mundo e, felizmente, ainda há muitas memórias a criar. ” – Não diria melhor… Momentos de nostalgia são muito importantes para que nunca nos esqueçamos de onde viemos.., Porém, relembrar que, em excesso, se poderá tornar num veneno. As vezes em que não me apanho a recordar certas coisas, embora seja cada vez menos recorrente. Apesar de tudo, sinto-me bem onde estou, na pele de quem sou, e a única coisa que me estimula é construir uma melhor versão de mim e dos meus projetos para o futuro! Recordar é bom, mas viver é ainda melhor! ♥
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