An American Marriage esteve no meu Kindle um ano antes de eu decidir lê-lo. Não me lembro se vi alguém a lê-lo ou se foi só uma sugestão aleatória do Goodreads, mas foi um livro que me interessou logo, apesar de saber que não o iria ler no imediato. Foi o que aconteceu. Só peguei nele no final de Janeiro e deixei que me acompanhasse durante vários dias, para uma leitura nada aconchegante antes de dormir.
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Trigger warning:
racismo e discriminação
Many people have run-ins with the law and they don't live to tell the tale.
Apesar de ser um livro de ficção, An American Marriage podia perfeitamente ser um livro factual. Celestial e Roy acabaram de casar e têm um futuro promissor pela frente. Ela é artista, ele é executivo. Está tudo a correr bem até que, uma noite, Roy é preso e condenado a uma pena de 12 anos, por um crime que Celestial sabe que ele não cometeu. Se calhar, se Roy fosse branco o resultado não seria o mesmo, mas Roy é negro.
Uncle Banks is preparing the first appeal. He reminds me that it could be worse. Many people have run-ins with the law and they don’t live to tell the tale.
O livro vai alternando entre a vida de Roy na prisão, a vida de Celestial e ainda a perspectiva de Andre, o melhor amigo de Celestial, que acaba por ter um papel ainda mais importante na vida dela depois de Roy ser preso… que Roy só descobre quando sai da prisão após a pena ser reduzida para cinco anos.
But home isn’t where you land; home is where you launch. You can’t pick your home any more than you can choose your family. In poker, you get five cards. Three of them you can swap out, but two are yours to keep: family and native land.
A complexidade das relações humanas
Não é uma história de prisão, mas uma história de vidas. Fascinou-me particularmente porque é uma história muito honesta. Não há floreados. O Roy é preso e vê-se sozinho a lidar com tudo isso porque, a certo ponto, a Celestial o abandona, sem explicações. É de partir o coração porque, no fundo, não esconde o egoísmo humano, apesar de, ao mesmo tempo, não deixar de realçar o altruísmo que vive em cada personagem. Cheio de contradições: é tão verdadeiro. A certo ponto ambos estão a magoar-se profundamente um ao outro, ainda que nenhum deles tenha realmente culpa de o estar a fazer.
No início do ano disse que queria ler mais livros escritos por autores negros. Não tenho cumprido, mas hei-de lá chegar. Este foi um bom começo. Confrontou-me com questões raciais, mas não só. Claro que é impossível ler um livro sobre um negro que é preso sem provas e não ficar a pensar nisso e em quantos milhares de negros não passaram já por isso.
Lembro-me de ver alguém no Goodreads dizer que é um livro sobre a injustiça da vida e a confusão das relações humanas, mesmo sem ser um livro melancólico, porque há crescimento e esperança. Acho que concordo. Achei meio frustrante a forma como ele é preso e condenado, mas acho que o livro, por não ser sobre esse aspecto em particular, consegue ser muito maior do que um negro que é preso. É mesmo um livro sobre a confusão das relações humanas, todas elas. E é aí que reside a beleza do livro.
Título original: An American Marriage
Título em português: [ainda sem edição em Portugal]
Autor: Tayari Jones
Ano: 2018
Comprar*: Wook – em inglês
*ao comprares através destes links eu ganho uma comissão
A tua análise, em parte, fez-me recordar Se Esta Rua Falasse. Embora acabem por divergir em muitos aspetos. Vou querer lê-lo, vai já para a lista!
Tenho Se Esta Rua Falasse na lista de espera, para breve, espero!
Interessante. Desconhecia, mas tendo também a missão de ler mais autores negros, e vindo de ti a crítica, vou guardar para, num dia, o explorar!
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