Pormenores da vida a norte

O Porto tem sido tema de conversa recorrente nos últimos meses. Depois de me verem tantos anos em Lisboa, sinto que muitas pessoas têm uma curiosidade genuína sobre como é a vida a norte e sobre como me tenho adaptado a ela. Confesso que muitas vezes dou respostas vagas porque não penso muito sobre como está a ser a experiência e sobre o que aproxima ou afasta Lisboa e o Porto no geral e na minha vida.

Na verdade, quando vim para cá precisei de fazer um exercício de gestão de expectativas. Há tanto tempo que queria mudar-me para o Porto que sabia que precisava de controlar as expectativas e assumir que, tal como muitos outros lugares do mundo, possivelmente viver aqui nunca seria tão apelativo quando era quando se tratava apenas de passar cá uns dias. Além disso, existe ainda a diferença: eu vivo em Vila Nova de Gaia, não no Porto, o que tem todo um impacto diferente. Talvez possa ser comparado a viver na Margem Sul e não em Lisboa, mas, mesmo assim, acho que não é bem a mesma coisa. Por isso, quando comecei a pensar em escrever sobre a vida a norte, não sabia qual a perspectiva que havia de seguir.

É difícil fugir à comparação entre Lisboa e Porto, mesmo que injusta e redutora, mas também é impossível escapar a algumas suposições e ideias pré-concebidas sobre o que a vida a norte pode ser. Ficam alguns pormenores da vida a norte, provavelmente muito enviesados e nada originais.

Pormenores da vida a norte

Vida de autocarros

Saiu-me recentemente, em conversa com a minha mãe, a frase que provavelmente não esperava dizer: já tenho saudades de andar de comboio. Não era nada bom lidar com os atrasos do intercidades Lisboa-Guarda nem com os suburbanos suprimidos nas horas mais inconvenientes, mas agora tenho de lidar com autocarros e crescem as saudades de metros e comboios. Tanto para vir para o Porto como para me movimentar por cá, o autocarro é o meio de transporte preferencial, porque vivo longe do metro e tenho uma paragem de autocarro à porta. Para aí uma vez por mês ando de metro.

Os autocarros saturam-me. Para viagens longas não são muito confortáveis. Para viagens curtas… chateio-me tanto com os atrasos dos autocarros de Gaia e, claro, há algo com que nunca tinha lidado anteriormente: os horários restritos. Lembro-me de ter amigos que viviam na Margem Sul e que tinham sempre horários restritos para ir para casa se utilizassem transportes. Para mim, havia metro até à uma da manhã e era perfeito, com frequências relativamente boas. Comboio também havia até tarde, embora ao fim-de-semana os horários fossem menos frequentes. Agora… dia útil ou não, a maior parte do dia é feita com autocarros de meia em meia hora, a terminar ao início da noite. É chato e frustrante, mas é o que temos.

O frio do Porto é real… e húmido para caraças

Foram poucas as vezes em que, em Lisboa, senti frio. Provavelmente por estar habituada a temperaturas mais baixas e porque me tornei mais friorenta depois. No entanto, por aqui o frio é diferente. É tudo muito húmido, incluindo dentro de casa, e eu nunca tinha lidado com frio assim. Como sinto que nos últimos dois ou três anos me tornei muito friorenta, não sei se é uma sensação exagerada, mas acredita quanto te disserem que faz frio no Porto. Porque faz.

A facilidade com que se come uma boa francesinha… que maravilha!

Não sei se sabes isto sobre mim, mas um dos meus pratos preferidos é francesinha. O outro é carne de porco à alentejana, mas esse nunca comi no Alentejo. Durante anos, eu arriscava com as francesinhas que tinha à minha disposição: comi uma muito boa na Régua, algumas aldrabadas em Trancoso e algumas decentes, mas que deixam a desejar, em Lisboa. Agora facilmente encontro um lugar onde comer uma boa francesinha (ou onde pedir para levarem a casa), sem precisar de uma pesquisa intensiva. É uma das sete maravilhas do mundo.

Parece estar tudo em obras

Não foi uma boa altura para vir para aqui — tudo nestas terras parece estar em obras. Com a expansão da rede de metro, há algumas zonas centrais do Porto que estão em obras e que acabam por complicar trajectos, dando a sensação de estar tudo em obras.

Até em Gaia, onde a linha do metro também vai crescer, há essa sensação junto a Santo Ovídio. Vai ser excelente quando a acessibilidade aos transportes estiver concluída, mas, para já, é só a sensação constante de tudo em obras, sem a certeza de qual será o caminho mais simples a seguir.

Será que o Porto e Trancoso podem dividir o título de Capital do Nevoeiro?

Dependendo do contexto, os nossos sentimentos perante algo podem mudar. Se estivermos atrasados para algo importante, o trânsito vai chatear-nos. Mas, se estivermos a ter a conversa mais interessante de sempre com a pessoa mais interessante de sempre, o trânsito não te vai importar porque é mais um bocadinho que passas nessa conversa, com essa pessoa. É assim o nevoeiro no Porto.

Acordar e ver o Porto envolto em nevoeiro cerrado é algo comum. Aliás, dizer que vejo o Porto é exagero: sei que ele está lá, ou espero que esteja, mas não o vejo. Só mesmo nevoeiro. Vejo aquele nevoeiro e imediatamente penso nos dias de nevoeiro de Trancoso, onde às vezes passam dias e dias sem que o nevoeiro desapareça, sem um raio de sol, sem nuvens, nada. Só nevoeiro. Em Trancoso é desesperante, no Porto é mágico. Bem, quer dizer… nem sempre. Se for para estar em casa sem necessidade de sair, é sempre mágico, místico. Se for para sair de casa, é sempre desesperante.

Isto vai soar muito aborrecido, mas realmente não há muito mais da minha vida por aqui que seja digno de publicação. Não saio muito da rotina habitual e, quando saio, não o faço em programas assim tão marcantes. No entanto, vou partilhando algumas coisas no Instagram (@asofiaworld). Como tenho finalmente escrito mais por aqui, vou tentar partilhar também por aqui mais coisas da vida nortenha.

4 Replies to “Pormenores da vida a norte”

  1. Gaia também tem coisas bonitas para te oferecer 🙂 Aproveita agora a vinda dos dias de sol mais amenos para passear na marginal de Gaia (e consegues também almoçar uma boa francesinha com vista para o mar) e podes vir de comboio! :p

  2. Frio e nevoeiro sao o que fazem Porto e Londres irmãs ❤️ Ah e as obras! Como assim as obras ainda nao acabaram aí no Porto numa decada?

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