Onde é que ficámos? Ah, sim! Criámos perfil no Tinder, dissemos que adoramos atividades ao ar livre embora odiemos, escolhemos umas fotos giras e demos os nossos primeiros swipe right. Eles podem demorar mais ou menos, mas chegaram os matches!
Vou ser-te sincera: não sei quão rápido consegues ter um match. Tanto podes conseguir nas primeiras horas como precisar de uns dias. Sinto, no entanto, que eu, enquanto mulher, consigo mais facilmente um match do que se for um amigo meu, homem. Sinto… é como quem diz: sempre consegui chegar a matches mais rápido do que os meus amigos homens e heterossexuais. Não sei se são as mulheres que são mais seletivas a dar swipe right ou se sou eu que tenho mais pontaria, no entanto aconteceu sempre assim.
Enquanto esperas por um match acho importante que não desesperes porque isso não diz nada sobre ti ou sobre a tua capacidade de atração. Vai vendo mais perfis, lê um livrinho, procura feitiçaria no TikTok para atraíres amor para a tua vida e tudo vai ficar bem. A notificação a dizer que tem um match vai chegar.
Tiveste um match e agora?
Fácil: agora só tens de conversar!
Okay, se calhar não é assim tão fácil. Não há um meio termo nisto de meter conversa com desconhecidos: ou é a coisa mais fácil do mundo ou é a coisa mais difícil do mundo.
Nos primeiros matches que tive esperei sempre que fossem eles a meter conversa. Não importa se era eu a corresponder ou se o match vinha do outro lado. Eles que metessem conversa, que isto de achar que o primeiro passo é de quem o quiser dar era eu em 2016*.
Problema: se ficas à espera de que a outra pessoa meta conversa podes bem ter de esperar sentadinha. E confortável, de preferência. Porque isso pode simplesmente não acontecer. Agora podes perguntar: então qual é o sentido de ter matches acumulados se depois não se conversa com eles? Não sei, juro que não sei, mas pode acontecer. Talvez estejam à espera de que a outra pessoa meta conversa?
Claro que há uma tendência maior para ser o homem a meter conversa. No entanto, a certo ponto decidi mudar a estratégia. Se fosse eu a ter o match eu metia conversa, se fosse ele… ele que metesse conversa.
Também houve um dia qualquer em que decidi que ia dizer olá a todos os matches que ainda não tinham metido conversa, só para ver o que acontecia. Uns não responderam, outros disseram olá de volta. Foi um acesso de aborrecimento que resultou em ter vontade de ser a pessoa que mete conversa em vez de ser a pessoa que espera que os outros o façam.
Agora… é pior meter conversa ou fazer conversa?
Meter conversa nem é assim tão difícil, vistas bem as coisas. Dizes olá e já está. Resolvido. Se quiseres dar um toque pessoal podes dizer logo o nome da pessoa. Torna tudo muito mais íntimo. Tipo o Carlitos. Ele não meteu conversa com um olá solitário. Não, não. O Carlitos foi para o olá, Sofia!, que é bem mais personalizado. Também pode ser uma forma de descobrires se as pessoas sabem usar vírgula no vocativo ou não. O Carlitos não sabia.
O olá é uma forma simples e eficaz de meter conversa. No entanto voltamos a algo do episódio anterior**: as biografias e as fotografias. Se quiseres realmente meter conversa de forma única e não com um olá estas são as melhores fontes de informação. As biografias podem ter alguma informação interessante ou as fotografias podem revelar algo que dê para uma pergunta ou outra.
Vamos a exemplos:
Exemplo 1: Quando uma das minhas fotografias do Ok Cupid era eu ler.
No pouco tempo em que usei o Ok Cupid usei uma fotografia minha a ler Crónica de uma Morte Anunciada. Na foto só se via a contracapa, com a fotografia do García Márquez. Não era uma foto espetacular, mas eu só estava mesmo a testar a aplicação e já estava com a sensação de que não estaria lá durante muito tempo. Como já expliquei, no Ok Cupid é possível enviar uma mensagem curta antes de haver match. Foi o que este rapaz fez. Vamos chamar-lhe Corey***.
O Corey não faz bem o meu género de rapaz. Quando vi o perfil dele não achei que fosse colocar gosto. No entanto, ele, super querido, perguntou qual era o livro que eu estava a ler e já se sabe que eu aproveito qualquer oportunidade para falar sobre o García Márquez. Foi assim que eu aceitei e dei continuidade à conversa. O Corey é simpático, inteligente e sedento de experiências de vida. Mas não faz o meu género. Ficámos amigos.
Exemplo 2: Quando um rapaz tinha Taylor Swift na secção de recentemente tocadas no Spotify.
Esta não resultou muito bem para mim, mas pronto. Eu disse que ia falar dos falhanços portanto vou falar dos falhanços. Há a possibilidade, no Tinder, de fazer uma ligação ao Spotify e mostrar os artistas recentemente tocados na aplicação. Eu estava no Tinder há um dia, já tinha os meus primeiros matches e todos tinham metido conversa comigo — o Carlitos, o Warren e outro qualquer. Já chegaremos ao Warren Buffet. Para já, apresento-vos o Joãozinho.
Adorei o perfil do Joãozinho assim que o vi. Era fotógrafo e numa das fotografias mostrava uma bela Canon. Não me lembro se a biografia era interessante, mas havia algo intrigante no perfil dele: a secção de artistas recentemente tocados. Era muito… variada. Havia Tribalistas, Coldplay e Taylor Swift. Fiquei curiosa e decidi meter conversa partindo precisamente daí. Perguntei algo tipo ouves mesmo Taylor Swift?, ele respondeu que não. Eu puxei o assunto para a fotografia. Parámos de falar dois dias depois. Estava a ser demasiado cansativo tentar manter a conversa viva.
Exemplo 3: Quando o Cristiano decidiu transformar conversa em jogo porque achava que era o melhor jogador do mundo.
Vou já admitir: a abordagem do Cristiano foi uma das mais originais. O perfil do Cristiano tinha, na biografia, uma série de emojis. Quando ele meteu conversa desafiou-me para um jogo: ele tentava adivinhar algo sobre mim e se acertasse eu tinha de responder a uma pergunta.
Claro que é um jogo um bocadinho unilateral, por isso eu aproveitava sempre para saber as respostas dele também. Muitos dos factos sobre mim que ele apresentava eram básicos, meio estereotipados, mas acabava por ser um jogo engraçado para conhecer alguém. Depois, havia então a questão dos emojis no perfil dele. Desafiou-me a tentar adivinhar o significado de todos. Uns eram óbvios, outros deixaram-me confusa.
No fundo, o que o Cristiano fez aqui foi pegar numa forma engraçada e diferente de fazer conversa que permite realmente conhecer a outra pessoa. Pontos bónus!
Voltaremos ao Cristiano mais tarde. Para já vamos ao…
Exemplo 4: Discutir monogamias (e não-monogamias) com um match do Tinder,recomendar Sally Rooney e receber um conto erótico.
Caríssimos, apresento-vos o Warren Buffett. Pronto, não o verdadeiro, mas eu fiz a minha pesquisa e o Warren Buffett, o milionário, tem uma história de amor curiosa: era casado e, a certo ponto, ele e a mulher introduziram um terceiro elemento no casal. Reza a história que assinavam os cartões de Natal a três e tudo. Quando a mulher morreu, casou com o terceiro elemento e tudo. Ora, como vais perceber eu tinha de chamar Warren a este match. Apresento-te o match do Tinder que mais desconfortável me deixou: o Warren.
Então vamos lá ao contexto. Primeira semana no Tinder. A minha biografia diz: provavelmente vou escrever sobre isto. Faço swipe right num perfil apenas por curiosidade de tentar descobrir algo sobre um pormenor da biografia do Warren: in a non-monogamous ethical relationship. Sim, sim, o Warren dizia logo que estava numa relação ética não-monogâmica. Claro que a minha curiosidade ia falar mais alto. Foi um swipe correspondido e ele meteu conversa.
Admiti logo que estava curiosa em relação à não-monogamia porque não conhecia ninguém numa relação assim. Interpretei a resposta dele como algum um pouco condescendente: não sabes o que é monogamia? Expliquei-me melhor: sei o que é monogamia, estou curiosa para perceber como funciona realmente, na prática, isso da não-monogamia.
Aqui fui totalmente eu e a seguir saiu-me um: Conheces a Sally Rooney? Ela tem um livro chamado Conversations with Friends, onde fala mais ou menos sobre o assunto, mas muito ao de leve… Sim, eu recomendei livros no Tinder. Se isto não é a cena mais Sofia de sempre…
Ele revelou-me que tanto ele como a namorada eram poliamorosos — mais uma novidade, porque não conhecia ninguém poliamoroso. Honestamente, nem sabia ao certo o que raio era isso. Pedi-lhe para me explicar ao certo o processo de funcionamento da relação dele.
E lá foi ele dizer que nenhum é propriedade do outro — certo, mas isso é em qualquer relação. E que não temos de ser tudo do outro — certo novamente, mas, também novamente, isso é em qualquer relação.
Por fim revelou aquilo que eu queria saber: ambos gostam de ter experiências fora da relação e, por vezes, juntos também. Sim, é mesmo isso que estás a pensar. E veio acompanhado daquele emojizinho do diabinho a rir.
O Warren era todo um mundo à parte. Perguntou-me que tipo de coisas escrevia. Disse-lhe que escrevo ficção contemporânea e que tenho um blog. Ele pede o link. E eis que a conversa dá outra volta. Alguma vez escreveste literatura erótica?, pergunta ele. Não, respondo. Não sei para onde isto vai. Eu tenho um, queres ver? Fico intrigada: escreveste um conto erótico?, pergunto. Ele diz que não foi bem escrever um conto erótico, mas que uma espécie de sexting com uma grande construção de imaginação.
Não vou partilhar a história que ele me enviou, mas digamos que, a certo ponto, envolvia BDSM. Alerta, Mr. Grey will see you now! Ora, eu notei isso mesmo: que havia ali umas partes um bocado hardcore. Foi quando a conversa descambou por completo.
Primeiro, nunca tinha sentido alguém ser tão condescendente com outra pessoa… expliquei que não é algo que me interesse, que havia ali uma série de coisas que não me interessavam, principalmente tudo o que envolvia alguma potencialidade de dor. Beeeeeem… fica a dica: nunca digam a palavra dor quando estiverem a falar sobre BDSM. Tinha corrido melhor se eu tivesse gritado bomba no metro.
O Warren decidiu explicar-me, como se eu fosse muito burra, que aquilo não é uma questão de dor, é uma questão de prazer, e yada yada yada. A certo ponto só disse que não era mesmo algo que me interessasse. A conversa morreu pouco depois. Meio que dei ghost.
Foi uma conversa desconfortável. Todos temos direito a gostar ou não gostar de algo e a querer ou não querer experimentar algo. O que não significa que, por eu adorar algo, toda a gente tem obrigatoriamente de adorar também. Neste caso, a forma como o Warren falou comigo deixou-me muito desconfortável porque não acho que todos tenhamos de gostar das mesmas coisas — no geral e no sexo — e, neste caso, a insistência dele só me afastou.
Mas pronto, ficou uma história para contar… e uma série de prints no meu telemóvel, com o tal conto erótico. Ah, e espero que ele tenha lido a Sally.
Algumas dicas fixes para meter conversa e fazer conversa
Vamos à parte prática. Meter conversa não é assim tão difícil, okay?
- Podes ir pelo caminho seguro e dizer olá;
- Podes pegar em algo da biografia da outra pessoa;
- Podes pegar em algo das fotografias da outra pessoa;
- Podes tentar uma frase à Barney Stinson;
- Podes ir para um piropo qualquer (com respeito).
A parte difícil vem depois: fazer conversa.
Obviamente, estás a conhecer alguém portanto tens tudo por descobrir e, mesmo assim, às vezes parece chato perguntar coisas como: em que trabalhas? o que estudas? de que clube és? Mas, mesmo assim, pensa: são perguntas perfeitamente legítimas e podem levar a outros temas. Por exemplo, voltemos ao Joãozinho. Ao perceber que ele era fotógrafo surgem muitas coisas a perguntar:
- Quais são os teus fotógrafos preferidos?
- Que tipo de fotografia mais gostas de fazer?
- Qual é a tua fotografia preferida tirada por ti?
Perguntar por hobbies também é interessante. Se a pessoa gosta de cinema podes perguntar por filmes preferidos, pedir recomendações ou até sugerir uma ida ao cinema. Se a pessoa gosta de viajar podes perguntar quais os destinos de que mais gostou, as histórias mais caricatas ou as viagens que ainda quer fazer.
Agora… claro que convém que a outra parte também se mantenha na conversa. Há sempre uma altura em que percebemos que a outra pessoa não está muito empenhada ou que só gosta de falar dela mesma. Nesses casos, podes dizer adieu, adiós, auf wiedersehen, goodbye.
Se, pelo contrário, a conversa estiver a correr bem, então acho que está na altura de dar o próximo passo. E é para lá que vamos… vamos ao nosso primeiro date!!!
* Publicação referida sobre dar o primeiro passo para ler aqui.
** Revisita o Episódio 1 aqui.
*** Corey… as in Corey Todd Taylor, dos Slipknot
Se quiseres aprofundar o tema não-monogamia, recomendo espreitar o podcast Rambóia com Moderação, porque o tema é mais complexo do que aquilo que eu apresento aqui e porque eu não tenho qualquer lugar de fala neste assunto.