Quando, no final de 2017, comecei a preparar-me para sair de Lisboa, surpreendi-me ao perceber que não me estava a ser difícil despedir da cidade. Claro que eu já sabia o motivo disso: estava preparada para novos lugares, novas pessoas, novos ares. Estava na hora de executar aquele plano que andava a ser adiado por receio ou por estupidez.
Ainda estava em Lisboa e já estava a enviar currículos para um novo sítio. Achei, honestamente, que ia ser um processo de poucos meses em casa e depois seguia. Mas passou um ano e meio e as respostas foram poucas. Sim, a taxa de desemprego diminuiu, mas não se deixem enganar por números que não contam a história toda.
Honestamente, quando saí de Lisboa já estava completamente farta da cidade e ainda estou um bocado assim. Tão farta que excluí a cidade de todos os planos futuros. E apesar de estar novamente cá continuo a excluí-la. Se me perguntarem onde me vejo daqui a 5 anos eu até posso dizer-vos que não sei, porque não quero amaldiçoar a situação, mas sei perfeitamente onde me vejo, onde quero estar e não é em Lisboa nem perto dela.
Talvez seja boa ideia fazer uma pausa aqui e explicar que eu não odeio a capital. Até gosto bastante da oferta cultural e de lazer que ela proporciona a quem vive cá ou perto. Vou ter sempre um lugar especial guardado para Lisboa, por tudo o que quatro anos lá me ensinaram e me mudaram. Mas gostar da cidade e querer viver nela (principalmente durante anos) são coisas muito distintas.
Talvez não me acompanhem há tanto tempo, mas já durante o último ano de licenciatura eu divagava sobre viver noutras partes do mundo. Então, perguntam vocês, mas se não queres viver em Lisboa por que carga de água foste para lá agora?
Passar umas semanas ou poucos meses desempregado é uma coisa. Passar um ano e meio deu para pensar em muita coisa, deu para ouvir muita coisa, deu para cair num poço tão fundo que no dia em que aceitei vir a uma entrevista para trabalhar na Bertrand não tive só de aceitar a entrevista mas tive de aceitar também as repercussões dessa entrevista. Precisava de trabalhar, precisava de experiência, precisava de dinheiro. E vim, consciente de que ia precisar de lidar com várias coisas ao tomar essa decisão.
Quando vim já sabia que tinha garantido, para o período mínimo de um ano, um contracto para escrever como freelancer para uma empresa no ramo imobiliário. Aliás, acho que vou falar melhor sobre tudo isto numa publicação separada. Este rendimento extra é essencial quando não se vai ganhar muito e ainda por cima tem de se pagar uma renda numa Lisboa cada vez mais ridiculamente cara. Quando aceitei este trabalho soube que era apenas um início, mais um desvio. E vim.
Rotinas, rotinas...
Claro que parece mais simples do que realmente é. Estive duas semanas sem conseguir encontrar um quarto cujo preço não fosse um absurdo. Depois encontrei um numa casa onde vive imensa gente (neste momento somos seis, para terem noção do que quero dizer com imensa gente) e bem mais longe do trabalho do que eu queria. Tive de esperar mais uma semana para fazer a mudança. Três semanas em que criei uma rotina temporária para não continuar no caos completo.
Agora estou a tentar criar uma nova rotina, mais permanente. Não estou a gostar de chegar a casa tarde e ainda ter de preparar comida e trabalhar noutras coisas porque quero deitar-me cedo e acordar cedo, mas às vezes deito-me tarde para acordar cedo e só quero que tudo entre nos eixos para parar de sentir que o tempo não chega para viver.
Mal tenho escrito. Aliás, o ponto alto da semana foi ter um artigo freelance para entregar porque, apesar de não dominar o tema, pude escrever. No trabalho também escrevi um artigo, mas escrevo tão pouco lá quem nem dá para tirar o gosto e sentir que escrevi realmente alguma coisa. As publicações no blog da Bertrand não são assinadas (política da empresa), mas eu às vezes partilho o que escrevo lá no Twitter ou no Instagram, por isso, se quiserem saber quando escrever lá, é só estarem atent@s por lá. Além de guardar tudo no portefólio.
Claro que, neste momento, ainda não tenho propriamente noção de qual é realmente a minha função ali: faço tanta coisa diferente que só isso justifica o facto de o cargo se chamar assistente comercial e de site porque só mesmo algo tão abrangente ia obrigar a tanta coisa diferente… e que nem compreendo. Soube bem receber ordenado e ainda mal lhe mexi porque quero ver se consigo poupar algum dinheiro agora que já gastei imenso dinheiro em renda, caução, roupa, óculos e numa ida à farmácia (uma pequena aventura: ganhei um infecção na pálpebra, graças a uma picada, e esta porcaria inchou imenso. Não estava fácil, mas já está a melhorar).
O caos
Com tudo isto acumularam-se episódios por ver e publicações por escrever. E esqueci-me de terminar o conto de Junho. Trabalhei nele no dia 27 de Junho e só dia 5 de Julho voltei a lembrar-me de que não o tinha terminado. Vêem o que digo sobre não ter vida? Ainda bem que comprei uma agenda e já estou a apontar tudo lá porque nunca me tinha esquecido de histórias e senti-me realmente péssima. No entanto, não é só o conto que está atrasadíssimo. Tenho publicações e artigos por terminar, novos episódios de séries por ver, quarto por acabar de arrumar, livro do Uma Dúzia de Livros de Junho por acabar.
Entretanto Mercúrio ficou retrógrado e só isso consegue justificar a segunda-feira péssima que tive. Mas, ao fim da noite, já a suplicar por dormir, consegui terminar este texto completamente aleatório sobre a vida, que comecei na sexta-feira à noite, na viagem até casa. Agora é aguentar mais umas semanas. E esperar pelo próximo fim-de-semana para tentar adiantar alguma coisa. Até porque sábado é um dia especial por estes lados!
Têm sido tempos bastante intensos e acredito que não esteja a ser fácil gerir todas as mudanças e particularidades. Mas vais ver que, pouco a pouco, a rotina tranquiliza e és capaz de te dedicar a tudo o que te faz bem!
Do que tens partilhado, estou a adorar os artigos *-*
Vida de adulto é tramada