Este texto foi escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico. Foi escrito para este projecto e é reproduzido aqui com autorização da autora.
Agora, mais do que nunca, a saúde mental tem-se tornado um tema preponderante no nosso quotidiano. Assim, todos os testemunhos e toda a informação adicional sobre esta temática são cada vez mais bem-vindos para que nos possamos educar e contribuir para um maior bem-estar: para nós e para aqueles que nos rodeiam.
Os dados epidemiológicos referem que 1 em cada 5 portugueses pode vir a desenvolver perturbações mentais. No entanto, as idas ao psicólogo ainda são vistas por muitas pessoas como “coisa para malucos”, uma vez que a função do psicólogo ainda não é bem conhecida para todos.
Desmistificando a psicologia…
A Psicologia divide-se em três grandes grupos: clínica e da saúde, educacional e organizacional.
Psicologia Clínica e da Saúde
A psicologia clínica e da saúde trabalha com os indivíduos os seus problemas psicológicos, que surgem no seguimento das suas experiências de vida e da sua perceção dessas mesmas experiências. Realço aqui que o psicólogo não é um conselheiro!
Ao longo do acompanhamento psicológico, o psicólogo procura, sim, trabalhar a vertente emocional, comportamental e relacional dos indivíduos, fomentando a utilização de ferramentas que lhe possam ser úteis à resolução dos seus problemas ou, no caso de não existirem problemas concretos, o psicólogo permite aos seus clientes uma visão mais holística (isto é, global) da sua própria vida, sob um prisma mais alargado.
O psicólogo clínico e da saúde, que podemos encontrar em centros de saúde, hospitais, clínicas privadas, consultórios, lares, etc, pode ajudar em problemáticas como depressão e ansiedade (ou apenas sintomatologia depressiva ou ansiógena), stress, perturbações de pânico e fobias, perturbações
alimentares, comportamentos aditivos ou outras perturbações mentais.
Para a realização de um acompanhamento psicológico é necessário ter em conta diversos aspetos
Em primeiro lugar, cabe ao psicólogo e ao indivíduo trabalharem em conjunto no estabelecimento de uma relação profissional, que deve ser fomentada com uma postura empática e de respeito onde exista confiança de ambas as partes.
Neste seguimento, são desenvolvidos objetivos terapêuticos objetivos e exequíveis que sejam definidos idiossincraticamente, isto é, adequados às particularidades de cada pessoa, os quais vão sendo alcançados e/ou reformulados mediante a realização de tarefas terapêuticas.
O objetivo máximo deste processo passa pela melhoria na qualidade de vida da pessoa e numa postura de autonomia que, na generalidade dos casos, dará origem a uma alta clínica.
Importa ainda frisar que, no momento de procurar um psicólogo para nos ajudar a trabalhar determinada vertente da nossa vida, devemos também considerar a formação de base do profissional.
Existem diversas abordagens teóricas, ou seja, diferentes formas de atuação, de percecionar o indivíduo e as suas vivências, dentro da psicologia. Assim, recomendo aqui a quem queira procurar acompanhamento psicológico que aprofunde também o seu conhecimento nesta área. Diferentes psicólogos identificam-se com diferentes áreas e o mesmo acontece também com os nossos clientes. O que resulta para uma pessoa não tem necessariamente que resultar para outra pessoa, e está tudo bem.
Pessoalmente, trabalho à luz da terapia cognitivo-comportamental (TCC). Contudo, a abordagem psicanalítica e a abordagem humanista fazem também sentido em diversas problemáticas, sendo que as três formas de intervenção apresentam resultados terapêuticos positivos.
Atualmente, vivemos num momento de crise que pode espoletar diversos triggers e a procura por apoio psicológico tende a disparar. Toda a incerteza e receio que a situação pandémica acentua veio trazer alterações profundas na vida de toda a gente, quer ao nível profissional, como pessoal, alterando assim os nossos quotidianos e aumentando significativamente o consumo de antidepressivos e ansiolíticos.
É neste panorama que as perturbações mentais têm vindo a ganhar uma maior visibilidade, nomeadamente na comunicação social. Uma das problemáticas que tem sido alvo dessa visibilidade prende-se com a sintomatologia ansiógena e com as perturbações de ansiedade. Nesta linha, incluo aqui algumas estratégias que podem ser utilizadas por todos e que têm como objetivo a redução dessa mesma sintomatologia. Estas orientações surgem de acordo com os pressupostos da abordagem cognitivo-comportamental.
Estratégias para lidar com sintomatologia ansiógena (de acordo com a TCC)
– Aceitar a ansiedade como parte integrante da vida: toda a gente sente ansiedade em diversos momentos da vida e isso não tem que ser, necessariamente, psicopatológico. Esta aceitação da ansiedade é a forma mais fácil de fazer com que ela reduza.
– Identificação de pensamentos ansiógenos: é fundamental conhecermos os nosso triggers, os gatilhos emocionais que espoletam essa ansiedade. Assim que temos esse ponto de partida, podemos atuar de forma racional sobre esses pensamentos e questioná-los, verificando, em muitos casos, que se trata apenas de exageros da realidade (catastrofizações). Questionar “O que é o pior que me pode acontecer?” ou “O que é que eu posso controlar nesta situação?” pode ajudar a minimizar a ansiedade.
– Fazer a ponte com situações idênticas no passado: recordar o que é que nos ajudou a reduzir a ansiedade noutras situações pode ser um ponto de partida para comportamentos ou atitudes adaptativos/as a utilizar em situações futuras (as nossas estratégias de coping).
– Realizar atividades prazerosas: ao fazermos algo de que gostamos e que nos faz sentir bem, acabamos por nos abstrair das nossas preocupações e por focar a nossa atenção em algo de que gostamos. Aqui podemos incluir leitura, pintura, yoga, caminhadas ou aprender uma língua nova.
– Relaxamento muscular e respiração diafragmática: são duas formas de reduzir a sintomatologia ansiógena que procuram aumentar a autoeficácia e o relaxamento.
É, mais do que nunca, preponderante que nos adaptemos a esta nova realidade de cuidados redobrados onde o distanciamento social (físico) nos é recomendado. Todas estas alterações nos causam uma pressão, nomeadamente psicológica, à qual não estávamos habituados. É importante que nos mantenhamos socialmente ativos e que não percamos os nossos contactos sociais: ligar à/ao amiga/o com quem não falamos há muito tempo, por a conversa em dia com os nossos familiares ou fazer uma reunião de Zoom com o nosso grupo de amigos (ainda que estejamos em período de desconfinamento, há cuidados que não devemos descurar, daí as minhas sugestões serem todas exequíveis à distância).
Além disso, caso sintas que precisas de ajuda profissional, podes procurar apoio psicológico (inclusivamente, existem já muitos psicólogos que têm disponível a possibilidade de consultas online) e podes sempre recorrer à linha de apoio 24 do SNS que tem já disponível também aconselhamento psicológico (808 24 24 24).
Se quiseres saber mais, podes consultar a página da Ordem dos Psicólogos Portugueses (nomeadamente este link) ou seguires o Instagram também da OPP.
Atualmente, são disponibilizados regularmente recursos que poderão ser úteis a todos, nomeadamente relativos ao regresso à rotina, gestão de recursos humanos em tempos de pandemia, intervenção com população sénior em tempo de covid-19, o papel do psicólogo perante este novo vírus, entre outras temáticas mais abrangentes.
Informa-te com fontes fidedignas e mantém-te seguros dentro da tua própria casa: o teu corpo e a tua mente. E procura ajuda sempre que necessário: é normal precisarmos uns dos outros e há sempre alguém pronto a ajudar.
Tenho 25 anos e sou licenciada em Psicologia e mestre em Psicologia Clínica e da Saúde. Estou a realizar o meu ano júnior da Ordem dos Psicólogos Portugueses, no qual trabalho na minha área numa IPSS diretamente junto de adultos e idosos.
Gosto muito de aprender e estou sempre em busca de me enriquecer profissionalmente com mais cursos e formações dentro da minha área. Faço aquilo que gosto e considero-me uma sortuda por ter esse privilégio logo no início do meu percurso. Além disso, encontro-me a realizar uma pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos por ser uma área que considero fascinante.
A nível pessoal, sou apaixonada por livros e sonho em ter a minha própria biblioteca em casa. Sou também apaixonada por pessoas e pela vida em geral. Gosto de ouvir música e de comer pipocas enquanto vejo os meus filmes. Sonho em mudar o mundo e trabalho nisso todos os dias com o impacto positivo que acredito ter no dia das pessoas que me rodeiam. Sou apologista de fazer tudo com um brilho nos olhos e é assim que encaro a vida.
Onde me podes encontrar:
Facebook | Instagram | Bookstagram
Porquê a Dalila e porquê falar sobre saúde mental?
Assim que comecei a pensar em temas para esta série de guest posts soube logo que um tema obrigatório seria a saúde mental. Por muito que consiga dar a minha perspectiva, acredito que não é suficiente e não é, claro, uma perspectiva de especialista. Queria algo mais, principalmente num ano que tem desafiado a saúde mental de toda a gente.
Não soube logo quem convidaria a escrever e até pedi sugestões no Twitter. Felizmente, conheço algumas psicólogas e, por isso, não estava completamente perdida. Uma dessas pessoas é a Dalila, pelo que, quando ela se voluntariou, não precisei de pensar muito antes de a pôr a par da minha ideia. Algo que não sabes é que, em Setembro do ano passado, a Dalila foi a primeira pessoa que notou que algo não estava bem só com base em publicações de redes sociais. Talvez seja treino de psicóloga, talvez seja só atenção, mas é algo que nunca esquecerei porque ela notou o que ninguém próximo de mim quis notar.
Mas que artigo tão rico e esclarecedor!! Que bom que decidiste incluir este tema nos guest posts, Sofia!! Acredito que será um impulso positivo para os que estiverem em busca de motivação para procurar ajuda profissional!
Gostei mesmo muito, Dalila! Desejo-te toda a sorte com o teu trabalho e espero ainda ouvir falar muito sobre ti!
Beijo grande às duas! ?
LYNE, IMPERIUM BLOG // CONGRESSO BOTÂNICO – PODCAST
Nem estes guest posts se faziam sem falar de saúde mental! ?
Sinto que me vou repetir ao longo destas semanas, mas que bela iniciativa. E que tema tão pertinente que procuraste aprofundar com a Dalila. Acredito mesmo que os testemunhos na primeira pessoa fazem uma diferença maior na nossa vida, além de, neste caso concreto, ajudar a desmistificar esta questão: «as idas ao psicólogo ainda são vistas por muitas pessoas como “coisa para malucos”».
Saio daqui muito mais consciente. Não só ao nível do contexto profissional, mas também relativamente a maneiras de atuar.
Obrigada ?
“Saio daqui muito mais consciente” – e assim só tenho a dizer: objectivo cumprido! ?
Trabalho em constante articulação com a área da Dalila (TCC) e quantidade de coisas que já aprendi graças a estes colegas é inestimável. É extraordinário a diferença que fazem na vida de tantas pessoas e lamento profundamente que ainda exista tanto estigma em torno da profissão (e de procurar um). Felizmente, é algo que tem vindo a melhorar e a evoluir.
Dou os meus parabéns a Dalila pelo artigo tão informativo e empenhado. A sua dedicação e gosto na área em que trabalha está espelhado em cada palavra.
É para dar um “empurrãozinho” nesse estigma que este texto também existe!