A sustentabilidade é um tema que me interessa e sobre o qual procuro informação regularmente. É algo que importa a todos e que devia ser preocupação de todos. No entanto, há algo que sinto que limita a aproximação de muitas pessoas a este tipo de consciencialização: às vezes parece que a sustentabilidade só funciona para ricos e/ou para pessoas de grandes cidades.
O problema da promoção da sustentabilidade
Acompanho poucos criadores de conteúdo relacionado com sustentabilidade, mas acabo por me cruzar com muitas dicas dentro do assunto e já foram muitas as vezes em que fiquei especada a olhar para as dicas e a pensar: mas estas dicas só funcionam para quem vive numa cidade grande! Ou, pior: mas isto são dicas para toda a gente ou são dicas só para quem recebe ordenados grandes?
É frustrante perceber que a localização geográfica e a classe social podem ser factores determinantes para a sustentabilidade… ou, melhor dizendo, para quem a promove. Claro que isto é resultado da própria experiência de quem partilha e, muitas vezes, ao terem acesso a dados que mostram que os seguidores se encontram maioritariamente na cidade X ou Y há sempre um certo enviesamento.
No entanto, apesar de compreender a parte da experiência de cada um, faz-me muita confusão a ideia de que a sustentabilidade não pode funcionar para pessoas que vivam em meios pequenos ou que tenham de se governar com o ordenado mínimo, porque as sugestões dadas são de difícil ou de impossível aplicação à vida destas pessoas.
Descentralização de dicas
Não quero vir para aqui discutir a centralização, mas é mesmo preciso olhar para o país que existe além de Lisboa. Não há lojas a granel em todo o lado, não há lojas em segunda mão em todos os distritos, nem toda a gente que não vive em Lisboa ou no Porto vive numa casa com jardim.
Depois, claro, nem toda a gente tem facilidade em comprar roupas e calçado a marcas portuguesas, nem toda a gente pode abdicar do carro e andar de transportes públicos, nem toda a gente tem um excedente financeiro mensal que permita optar pelo produto que não vem embalado.
Atenção: não quero dizer que as dicas que são dadas são más. Quero dizer que é preciso dar mais dicas aplicáveis a pessoas que ganham abaixo do ordenado médio nacional ou que vivem em zonas do país onde não há tantas opções.
5 Dicas low cost para uma vida mais sustentável
Depois de tanto remoer neste assunto comecei a pensar em dicas simples e baratas de aplicar para qualquer pessoa, esteja ela em Lisboa, no Porto, ou no Barrocal.
- Começa a usar sacos de plástico mais resistente ou sacos de pano.
Opta por sacos de plástico mais resistente. Apesar de serem um bocadinho mais caros, levam mais coisas e duram mais tempo.
Podes ainda optar por sacos de pano. Se souberes costurar ainda melhor: podes fazer os teus próprios sacos.
E os sacos de plástico que já tens? Continua a utilizá-los até já não dar mais (quando fazes menos compras) ou usa-os para o lixo. Se tiveres sacos de plástico mais fino, de fruta ou legumes, usa-os para apanhar os cocós do teu cão.
- Poupa água enquanto lavas os dentes.
Diz-me: lavas os dentes com a torneira a correr, abres e fechas a torneira de acordo com a necessidade ou usas um copo? Quando era pequena só queria deixar de utilizar o copo e lavar os dentes como gente crescida, no entanto, anos depois, posso dizer-te que tenho uma caneca na casa-de-banho e que a uso sempre que lavo os dentes.
Em vez de ter a torneira a correr ou de a abrir sempre que preciso, encho a caneca (cerca de 250 ml) e é essa a água de uso. Dá para bochechar e para lavar a escova no final. E é a coisa mais simples de fazer.
- Reutiliza os frascos.
Consomes doces e compotas, leguminosas ou outros produtos que vêm em frascos de vidro? Depois de terminares o produto lava os frascos e utiliza-os para guardar massas, sal ou ervas aromáticas. Escusas de comprar novos quando tens ainda vários para aproveitar.
- Reaproveita a água do banho.
Esta dica veio do Instagram da Catarina, do projecto Do Zero, mas é algo que já via a minha mãe fazer há anos. Quando vamos tomar banho e abrimos a torneira temos sempre de esperar algum tempo até a água aquecer. Sabes quantos litros de água gastas nesse tempo de espera?
A Catarina coloca a água num recipiente com torneira e usa para cozinhar ou para beber água depois. A minha mãe costuma encher o balde da esfregona e lava o chão com aquela água. Como é água limpa pode ser facilmente utilizada noutras coisas.
- Sopas com menos desperdício.
São muito escassas as vezes em que não há sopa em minha casa. Não só por ser algo de que gostamos muito, mas também porque é saudável e foi a forma mais eficaz que encontrei para reduzir o consumo de carne: 90% dos meus jantares são sopa. Só sopa. Não, não fico com fome. Sim, só sopa. Às vezes fruta. Já estou tão habituada a este ritmo que, quando como muito mais do que sopa, fico a sentir-me estranha.
Mas voltando à sopa. O desperdício alimentar também é uma realidade e, por vezes, é uma chatice porque nem todos têm compostores ou um jardim. Mas… e se fizesses sopa com legumes com casca? Muitos legumes podem ser cozidos e consumidos com casca e depois a sopa é passada com a varinha mágica, portanto não faz grande diferença.
Concluindo...
A ideia de ser mais sustentável é perfeitamente adaptável à vida de qualquer um e o importante é começar e tentar. Ninguém exige mudanças radicais ou zero desperdício, mas as pequenas mudanças vão fazer toda a diferença. Queres exemplos?
Neste momento acredito que sejam poucas as localidades que não tenham ecopontos, portanto a reciclagem está ao alcance da maioria das pessoas. A tua localidade não tem um ecoponto? Tenta perceber, na Junta de Freguesia ou na Câmara Municipal, o porquê de não ter e percebe se é possível fazer esse pedido. Se tiveres carro, podes juntar mais lixo para separação e ir uma vez por mês ao ecoponto mais próximo. Nós começámos assim. Não havia ecopontos na minha aldeia, mas havia em Trancoso. Juntávamos mais lixo e quando precisávamos de ir a Trancoso levávamos para lá. Neste caso, convém passar as embalagens por água, para não ficarem a cheirar mal ou a acumular fungos e afins.
E quem fala em reciclagem fala noutras decisões. Temos de perceber aquilo que podemos fazer com os recursos que temos. A inspiração dos outros é boa, mas não vale esquecer como é a nossa vida e aquilo que podemos fazer com o que temos. Respondendo à pergunta do título: não, a sustentabilidade não é nem pode ser só para quem vive em grandes cidades ou ganha mais dinheiro.
Acredito que depende de todos tomar decisões mais conscientes e só é preciso começar. Por mais pequeno que seja o gesto, o efeito vai ser grandioso.
Este é um trabalho que exige atenção de parte a parte, precisamente, para se perceber que é necessário descentralizar e adequar as dicas a diferentes contextos e possibilidades financeiras. E, além disso, para que cada pessoa compreenda o que está ao seu alcance.
Eu sei que ainda há muito a tendência de procurarmos mudanças a grande escala. E que, quando «só» alteramos um hábito ou dois não surtirá efeito. Mas a verdade é que se todos mudarmos um comportamento recorrente já vamos estar a ajudar. E, depois, podemos ir gerindo consoante os recursos que vamos conseguindo descobrir
Quando vi o título do post respondi internamente que não. Mas quando entrei percebei inteiramente a tua questão. E concordei. Há, de facto, coisas que parecem não estar ao alcance de todos, ou pelos são de mais dificil acesso. No entanto, tal como sugeres, há coisas muito simples como trocar os sacos ou reutilizar os frascos. Eu já o faço há bastante tempo. Provavelmente não chega. Mas às vezes essa conversa irrita-me um bocado, porque se todos fizessem o que é mais simples, podia até não chegar mas já era alguma coisa. As pessoas, se não for para fazer em grande não fazem e isso é que não ajuda em nada! Bom post, Sofia!
Mas que infográfico tão bonito! *-*
A sustentabilidade é para todos. E, tal como mencionas, tem de estar vinculada às rotinas de cada um! Recentemente, comecei a levar muito mais a sério a questão da reciclagem e, tendo em conta a minha situação, não fico indiferente a certos aspetos da reutilização de materiais ou recursos! Deixa-me deveras satisfeita saber que estou não só a contribuir para o meu bem-estar enquanto ser individual, como também contribuo para um meio ambiente menos poluído!
Esta publicação conseguiu inspirar-me de várias maneiras, pois, há imenso que estou para escrever uma publicação sobre cascas de alimentos!! Muito obrigada, Sofia, por estimulares isto em mim! ??
Beijocas,
LYNE, IMPERIUM BLOG // CONGRESSO BOTÂNICO – PODCAST