2022: o ano da montanha-russa

Não podia chamar a 2022 o ano do caos porque deixei essa definição reservada a 2019, quase lhe quis chamar o ano do quanto mais alto sobes maior é a queda, mas houve quedas que não vieram da altura. 2022 foi um ano emocionalmente caótico, sim, em que aconteceu muita coisa e em que fui obrigada a conhecer novas versões de mim — umas boas, outras nem por isso. Tive dias incríveis e dias em que não sabia como ia levantar-me. Tomei muitas decisões que mudaram a minha vida. Arrependi-me de algumas. Parti o coração de uma forma brutal e juro que ainda não sei como é que tudo se tornou tão doloroso e assustador.

2022 foi o ano da montanha-russa. Dos altos e baixos. Dos medos e dos confrontos com esses medos. Não era suposto ser assim. Comecei o ano tão focada nos trabalhos do mestrado que tudo parecia encaminhado, mas a verdade é que eu não sabia muito bem o que esperar deste ano e… não sei, mas havia de início uma aura de caos a querer entrar no meu ano e eu deixei. Tudo o que de bom e de mau aconteceu no meu ano veio dessa aura de caos que me fez instalar o Tinder numa terça-feira aleatória de fevereiro. O resto… o resto é história.

Este ano, à semelhança do que acontece desde 2019, voltei a gravar um segundo de cada dia. Estes segundos de 2022 têm tanto e tão pouco dos meus dias. Parece meio redutor definir um ano a 365 segundos… mas também o é em fotografias e até nestas palavras. Ainda assim, também são memórias a que gosto de voltar. Ainda há umas semanas revi os vídeos dos outros anos. Estou ansiosa para ver o vídeo de 2023!

Como disse, comecei o ano focada nos trabalhos. Estabeleci uma data para ter tudo concluído e poder descansar e cumpri. Durante semanas, mantive uma rotina de trabalho pouco flexível, mas que me permitiu bons resultados. Quem me dera que o segundo semestre tivesse tido menos influências exteriores a perturbar-me. Passei janeiro em casa, como tanto gosto. Apesar de ser um mês tipicamente frio, janeiro é um mês que gosto de passar em casa. Não sei como vou conseguir suportar um mês de janeiro sem estar lá.

Aproveitei o melhor que pude o tempo com a Lady, com muita brincadeira, muitos passeios e muito colo. Tentei sempre aproveitar bem cada bocadinho em que me era permitido estar com a minha família, porque elas são e serão sempre o mais importante da vida. Tudo o resto é acessório.

Votei, mais uma vez. Se o ano parecia trazer alguma esperança em finalmente haver uma recuperação pós-pandemia, a guerra mudou isso tudo. Este foi um ano em que pensei muito em tudo o que a minha geração já teve de passar desde a chegada à idade adulta. Vejo os 30 cada vez mais perto e nada parece ser como era suposto — nem em mim nem no mundo. Em mim tudo bem, mas no mundo… torna-se desmoralizante.

Foi um ano em que sinto que precisava de desafiar as minhas ideias para poder perceber onde quero chegar. Só que apenas consigo compreender isso agora, no final do ano. Permiti-me falar com muitas pessoas e permiti-me também deixar de falar com muitas pessoas. É a vida.

 

Em 2022 gostei de escrever…

 

2022 foi o ano em que conheci a Margaret Atwood, em que celebrei um campeonato do FC Porto no Porto, em que tive Covid, em que comecei realmente a gostar de ler poesia. Foi o ano em que comecei a escrever um livro novo depois de anos. Em que voltei aos livros antigos. Em que recuperei os direitos dos meus livros. Foi o ano em que senti que me tinha perdido tanto da minha escrita que precisava de decidir realmente o que queria fazer dela… até ao dia em que percebi que estava a falhar-lhe por completo porque dava mais a pessoas que não me davam o que quer que fosse em vez de dar tudo ao amor da minha vida — a escrita.

Acho que 2022 foi o ano em que percebi que tinha feito as pazes com o meu corpo. E mesmo naquelas longas semanas em que tudo era difícil, obrigava-me a tomar o pequeno-almoço com a consciência de que tinha de o fazer e de que não podia tratar-me mal dessa forma. Talvez por isso voltar às caminhadas regulares fora da vida da Lady tenha sido tão fácil — sendo algo que me faz bem ao corpo, também ajuda muito a mente.

A mente, aliás, foi aquilo que menos respeitei. Vivi ansiosa com coisas que não podia controlar, com sensações e sentimentos que outras pessoas projetavam em mim, com contas que tinha de fazer, com coisas que não estava a fazer da maneira que queria ou que devia ou ambas. Mentalmente, passei muitas semanas deste ano na merda. Ou era o stress dos trabalhos, ou era o stress de não saber o que estava a acontecer na situationship em que estava, ou era o stress de perceber que precisar de pagar contas e fazer um mestrado não são duas coisas facilmente compatíveis. Talvez tenha sido um erro tentar fazer estas duas coisas ao mesmo tempo — vamos descobrir em 2023 — mas também foi (e é) uma necessidade. Crescer também é isto.

 

Em 2022 gostei de escrever…

 

Li 65 livros. Vi quase tantos filmes. Fui ao cinema mais vezes do que em todos os anos em que vivi em Lisboa. Quero continuar a investir no cinema. Saí para dançar. Aprendi a gostar de vinho verde. Comi algumas francesinhas. Queria ter comido mais. Fiz um PPR. Fiz a primeira tatuagem. Quero fazer outra em 2023. Comecei a usar sombra de olhos e agora não quero outra coisa. Li na praia. Voltei duas vezes à Miss Pavlova. Fui finalmente ao Diplomata. Aprendi a fazer gin tónico. Não concluí o nível 2 de italiano no Duolingo, mas aprendi muitas palavras na mesma.

Mudei-me para a Maia. Quase me arrependi de me mudar para a Maia. Arranjei trabalho. Arrependi-me de arranjar trabalho. Comecei livros que não terminei. Terminei um curso de Copywriting. Tive férias. Saudades de ter férias. Montei móveis do IKEA. Fiz muitos auto-testes de Covid. Comprei muitos livros. Mais do que devia, provavelmente. Iniciei-me devidamente no Marvel Cinematic Universe. Fiz um curso de crónicas literárias. Cortei o cabelo num dia aleatório em casa, só porque sim. Deixei pessoas entrar na minha vida e magoei-me. Acho que magoei outras pessoas pelo caminho também. 

Passei muitas horas em autocarros. E entre cá, lá e nenhures o tempo foi passando. Li vários livros da Biblioteca Municipal do Porto. Comprei um Macbook. Terminei a minha coleção de CDs da Taylor — apenas com todos aqueles dos quais ela é realmente dona. Tive esperança nele. Perdi toda a confiança nele. Tenho a certeza de que não teria sobrevivido a metade dos meus dias sem o Diogo. Tenho saudades dele todos os dias. Às vezes tenho vontade de desistir de tudo e pedir-lhe que me acolha outra vez. Quase decidi fazer doutoramento. Desisti da ideia.

Percebi que estou pronta para coisas que (ainda) não sei como vou ter. Fui uma das intervenientes numa reportagem da Maria. Conversei durante horas com a Susana. Partilhei muitos medos e dúvidas com a Catarina. Finalmente conheci a Andreia. Nunca tive tantas amigas. Tive saudades do Joel, do Jota, da Lyne. Tomei decisões difíceis. Sonhei decorações para a casa da minha mãe. Celebrei o meu aniversário sem família (de sangue ou de escolha) pela primeira vez. Apaixonei-me por muitos pores-do-sol. Também me apaixonei sem ser pelo pôr-do-sol. Mas pronto.

 

Em 2022 gostei de escrever…

 

2022 foi um ano confuso, caótico, de momentos divertidos e de momentos de merda. De noites sem dormir e de manhãs sem querer sair da cama. Quero muito de 2023, mas sei que tenho de trabalhar muito neste novo ano e sei que preciso de tomar conta de mim. Quero que as coisas tóxicas e que me fizeram mal fiquem em 2022. Há muita coisa que tem de ficar neste ano. Mas quero levar para 2023 tudo o que me fez feliz. Quero ter em 2023 um ano de concretizações — há muita coisa a concretizar. E quero ter menos medo.

Sei que saio deste ano um bocado estragada, ainda a recuperar da queda do topo da montanha-russa, menos crente em muita coisa, mais insegura em tantas outras. Mas também sei que, pela primeira vez, saio de um ano a sentir verdadeiramente que mereço melhor. Que não vou continuar a contentar-me com menos do que dou. Espero várias coisas de 2023, mas falamos delas depois. Agora é hora de despedida deste ano que deu tanto e tirou tanto.

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