29 é uma idade estranha. Ainda podes ter Cartão Jovem, mas toda a gente te fala dos 30. Estás muito longe do que eras e pensavas aos 20, mas também não te sentes próximo do que pensas que devias ser aos 30. Ao fazer 29 sinto-me num limbo estranho que não faço ideia de onde me deve levar.
Nem tudo nos 28 correu como eu queria, mas houve algo que pedi dos 28 e que sinto que cumpri: ter orgulho no percurso que fizesse este ano. E tenho. Acabei o mestrado. Estou a lutar pelo que acho certo para a minha carreira. Estou a resolver-me em terapia. Estou a odiar as dores, mas estou a tratar de ter dentes bonitos e saudáveis. Às vezes tenho medo de me perder outra vez ou de perder os outros por não os saber guardar. Às vezes acho que nunca me vou libertar das minhas próprias teias mentais. Mas cá estamos, a tentar, a lutar, a viver em vez de sobreviver talvez. Isto foi o que aprendi aos 28.
Aprendi que às vezes não vale a pena tentar explicar o nosso ponto de vista a quem não está disposto a pôr-se nos nossos sapatos. Nem todas as pessoas são empáticas e, definitivamente, nem todas as pessoas são feitas para se darem com outras pessoas. Às vezes é mesmo preciso fingir que não importa e ir para outro lugar, um lugar onde possamos explicar as nossas perspetivas.
Também aprendi que não quero escrever por aquilo que vejo ser publicado. Quero escrever por aquilo que sou. Não importa se demora mais a conseguir chegar a algum lado ou se não chega de todo. Os meus descendentes podem sempre fazer o que quiserem com os meus rascunhos.
Constatei que sou mesmo muito agradecida pelas amizades que fiz online e que passaram para a vida real. Aquelas pessoas que passaram de caixas de comentários a mensagens e desabafos.
Aprendi que a saúde está acima de tudo… até dos trabalhos que nos pagam as contas, porque o “eu preciso do dinheiro” nem sempre chega, muito menos quando são mais os dias em que sais do trabalho a chorar do que sem chorar.
Aprendi que self care é mesmo o momento mais tranquilo de qualquer dos meus dias. Seja a tranquilidade de fazer a maquilhagem de manhã ou a tranquilidade de tirar à noite, é o momento da rotina que mais aprecio.
Faz o esforço de voltar para a terapia e desconstruir tudo o que faz de ti quem és. Não queres ser a adulta estragada que vês outros serem.
Dá-lhe oportunidade de ser exatamente o tipo de pessoa que precisas de que ele seja. Sê o mesmo para ele. Ele não vai ser como a pessoa que te partiu em bocadinhos. Não é a mesma pessoa. Dá-lhe uma oportunidade de te mostrar isso.
Aprendi que se cuidar do meu corpo e ele cuidará de mim. Isso inclui às vezes meter a preguiça de lado e fazer comida quando não apetece, perdoar a comida menos saudável e garantir que há sempre sopa em casa. Mas também inclui calçar sapatilhas quando não apetece mesmo ou meter uma música animada e dançar no quarto só para ele gastar alguma energia.
A resposta para qualquer dia mau estará sempre na Let it Be, em Linkin Park e na Taylor Swift.
Aprendi que o problema não é dares muito de ti. O problema é dares muito de ti a quem não te dá nada. Estabelece os teus limites, diz o que queres e não aceites menos do que isso. Mesmo que doa para caraças perceber que em vez de receberes pouco podes simplesmente deixar de receber.
Às vezes demoram e parecem impossíveis, mas essas são as conquistas que sabem melhor. Seja a tese, seja a cozinha.
Aprendi a escrever com estruturas e planos próprios quando me obriguei, durante duas semanas, a seguir uma rotina muito rígida de escrita da tese.
Também aprendi, com a tese, a ser mais permissiva comigo no que a gralhas diz respeito. Li a tese dezenas de vezes, a minha orientadora também, e, ainda assim, ficaram tantas gralhas no ficheiro final. Fiquei chateada, claro, mas não podia fazer nada e surpreendi-me com a forma descontraída como consegui encolher ombros e assumir que gralhas acontecem. Era pior se fossem erros por desconhecimento.
Aprendi que quando os Silence 4 cantaram give yourself a chance to breathe devia tê-los ouvido com mais atenção. Não só me senti tantas vezes culpada por parar para respirar, mas também senti muitas vezes que não podia mesmo parar para respirar quando podia e devia fazê-lo.
Não, pôr gasolina sozinha não é nada do outro mundo. Já estava na hora de o aprender a fazer.
Sim, vais morrer sem leres todos os livros do mundo. O que não significa que tenhas de os comprar. Por isso, compra os livros, sim, mas compra-os com consciência em vez de compulsividade. Vais gostar mais de abordar assim a literatura, vais ver.
Aprendi que massa com feijão e canja de ovo serão sempre uma boa solução para matar saudades de casa. Foram muitas as vezes em que fiz estes pratos este ano.
Aprendi que conduzir é a melhor coisa do mundo. Até aqui. Eu gostava de conduzir, sim, mas conduzir em lugares mais confusos e com mais trânsito causava-me alguma ansiedade e este ano dei a volta a isso. Continua a haver zonas para onde não acho que faça sentido levar o carro e, aí, agradeço o facto de ter sempre tido a proximidade com o metro como prioridade na escolha de casas. No entanto, tenho gostado cada vez mais da tranquilidade com que pego no carro para ir a pontos que, antes, me causariam preocupação. Qual é o pior que pode acontecer? Buzinar a alguém na rotunda da AEP?
Aprendi a lançar balões no São João. E já quero que todos os anos tenham uma ida ao São João.
Aprendi que é possível voltar e ser pré-adolescente por umas horas. Pelo menos é possível voltar a um concerto dos D’ZRT.
Aprendi… quer dizer, descobri que ainda consigo transformar corações partidos e sentimentos em arte. Ou quase arte, vá, sejamos humildes. O Desengatados deu-me imenso. É o meu projeto preferido do ano e algo que, sem dúvida, fez o ano valer a pena.
Aprendi que às vezes a única coisa de que precisamos mesmo na vida é ir de férias com o nosso cão. Desculpem lá qualquer coisinha, mas ter a Lady de férias na Maia foi a minha coisa preferida do ano.
Aprendi a fazer crumble de maçã.
Aprendi a importância de fazer tempo para ler — e o impacto que a falta de tempo e de espaço mental para ler têm na minha saúde mental. Li muito, refugiei-me muito nos livros e foi ótimo. 90 livros em 10 meses que o digam.
Aprendi a estabelecer o limite certo entre “é família” e “ter sanidade mental”.
Aprendi a respeitar e validar o que sinto sem me estar sempre a justificar ou desculpar.
Aprendi que às vezes uns minutos com a pessoa certa fazem milagres até no pior dos nossos dias.
Aprendi que nem sempre vale a pena. Não vale a pena responder, não vale a pena discutir, não vale a pena o esforço. Às vezes não vale a pena. Mas pelo menos tentou-se. Mais vale tentar e falhar.
«29 é uma idade estranha» acho que é a melhor definição! Mas estou deste lado a torcer para que sejam incríveis 💙
Mais uma vez, parabéns! Que os 29 sejam tudo o que desejas e mais!
E não tenhas medo dos 30. Eu falo por mim… Entrei a medo, mas agora sinto que acordei de um coma para vida! 😂