A Ansiedade nos Nossos Dias: Psicoterapia, ansiedade e saúde mental

Uma pessoa em cada quatro irá sofrer de algum tipo de doença mental ou neurológica a determinado ponto da vida. Pelo menos, é isto que a Organização Mundial de Saúde diz. Se há uns anos, não muitos, havia preconceito e até vergonha em falar de doenças mentais, hoje em dia cada vez mais pessoas tentam combater os estereótipos e falam abertamente sobre saúde mental. E ainda bem!

Em Outubro, tive a minha primeira sessão de psicoterapia. Coincidiu com um tema curioso do The Bibliophile Club: livros para enfrentar medos. Podia ter lido sobre sapos, mas decidi ir por um medo ainda maior: o medo de não conseguir controlar a minha mente.

O medo de não controlar a mente

Há uma coisa curiosa na nossa mente. Nós tentamos controlá-la, mas não conseguimos. Eu sempre achei que conseguia controlar a minha mente. Ocultar pensamentos negativos, fingir que estava tudo bem, fingir que não me preocupava com a carga negativa que acumulava, muitas vezes sem saber como ou porquê. Claro que sempre soube que um dia isto se ia descontrolar e não ia conseguir evitá-lo para sempre. Faltava só saber qual seria o gatilho. 

Comecei Outubro com consultas de psicoterapia, depois de várias situações acumuladas, com uma dose extraordinária e maluca de horas de trabalho e défice de horas de sono. A dose extraordinária parou, eu estive quase a cancelar a primeira consulta porque achei que já não era preciso (lá estava eu a fingir que estava tudo bem) e de repente um gatilho. Aquela faísca pequena mas suficiente para incendiar um mundo regado a gasolina. E tudo ficou em chamas. Lá fui à consulta. Foi assim que escolhi o livro para o The Bibliophile Club: A Ansiedade nos Nossos Dias, do Diogo Telles Correia.


A leitura deste livro não dispensa o diagnóstico profissional.

A Ansiedade nos Nossos dias: um livro-resumo sobre ansiedade

A Ansiedade nos Nossos Dias está dividido em oito capítulos, sete deles dedicados a uma patologia e um último, que funciona como uma espécie de conclusão. Em cada capítulo, o autor opta por abordar a patologia seguindo uma estrutura semelhante: contexto, explicação da patologia, causas, como se manifesta, como se diagnostica, tratamento e ainda casos reais, com identidade protegida.

O primeiro capítulo é dedicado à ansiedade por si só, o medo do medo. Depois seguem-se: a ansiedade social, a perturbação do pânico, a ansiedade generalizada, o stress pós-traumático, a perturbação obsessiva-compulsiva e a perturbação de somatização.

Cada parte é explicada de forma simples e resumida, sem que falte a informação mais importante. Achei o livro mais completo do que inicialmente pensaria ser e senti que cumpriu o propósito a que se propôs.

Em que é que o livro me ajudou?

Por um lado, acho que quando estudamos em demasia alguma patologia podemos correr o risco de começar a ver em nós algum tipo de sintoma ou atitude que nos faça auto-diagnosticar algo que não seja totalmente verdade. Mas, por outro lado, eu gosto de perceber um bocadinho das coisas porque me sinto um mais calma se souber o que me pode estar a acontecer. É preciso nunca esquecer que um livro não é um profissional de saúde.

Neste caso, o livro deu-me uma pequena sensação de controlo entre consultas. A parte sobre o tratamento falava tanto de psicoterapia que eu sentia que estava a fazer algo nesse sentido e, ao mesmo tempo, ao ler sobre ansiedade sentia que estava mais perto de a poder controlar.

É uma sensação que não é totalmente real, claro. Não é por saber mais sobre algo que o evito, mas é por saber que consigo reconhecer quando algo está absolutamente errado. Esse foi, para mim, o principal: aprender, para me poder manter informada e protegida e para saber quando e como pedir ajuda caso seja necessário fazê-lo.

Algumas conclusões sobre a leitura deste livro

Apesar de ter gostado do livro, acho necessário fazer algumas ressalvas. Em primeiro lugar, é um livro e, como tal, não serve de possível diagnóstico para o que podes estar a sentir. Pode, isso sim, ajudar-te a reconhecer sintomas em ti ou nos outros. Desta forma podes estar mais atento e pedir ajuda ou incentivar os outros a fazê-lo.

Em segundo lugar, se sofres de ansiedade e já sabes alguma coisa sobre o teu tipo de ansiedade, não acho que este livro te traga muitas novidades. No entanto, ficas a conhecer outros tipos de ansiedade e, claro, conhecimento nunca existe em demasia.

Por fim, em caso de dúvida ou, melhor dizendo, caso te sintas mais ansioso, confuso, stressado ou triste, consulta um psiquiatra ou psicólogo. No sistema de saúde pública podes ter de esperar algum tempo pela consulta, infelizmente. No meu caso, optei por fazer psicoterapia numa clínica privada porque não queria esperar meses por uma consulta no sistema público e não sentia que o caso fosse grave o suficiente para exigir uma consulta imediata.

A ajuda da psicoterapia

Foi um esforço financeiro complicado. Felizmente, tive ajuda da minha mãe. Mas senti, mais do que nunca, que é necessário fazer alguma coisa. Eu consegui, a ganhar 534 euros líquidos por mês, pagar renda, passe e consultas, embora com ajuda da minha mãe. Mas quase não o conseguia fazer. Quantas pessoas haverá a precisar de ajuda que não podem optar por isto porque simplesmente não têm alguém que as possa ajudar?

Ainda assim, apesar do esforço financeiro que fez com que não conseguisse fazer grandes poupanças, a psicoterapia salvou-me. Fiz a última sessão em Dezembro, dois dias antes de sair de Lisboa. Por enquanto ainda não voltei à psicoterapia, mas no futuro pretendo voltar porque vi o quanto aqueles 50 minutos me fizeram bem.

O momento que estamos a viver, com uma pandemia e isolamento social, pode ser o teu gatilho. Precisas de estar atento. Pede ajuda. Se não puderes pagar consultas privadas opta pelas públicas e faz barulho de forma a conseguires ter a ajuda de que precisas. A grande conclusão que tirei do livro é que, na maioria dos casos, o tratamento contínuo se faz com recurso a medicação, sim, mas acima de tudo com terapia. Não é nada que não soubesse, mas é sempre importante lembrá-lo. Tal como é sempre importante lembrar que deves estar atento à tua saúde, física e mental, e promover bons hábitos que te permitam mantê-la.

Título original: A Ansiedade nos Nossos Dias
Autora: Diogo Telles Correia
Ano: 2018

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2 Replies to “A Ansiedade nos Nossos Dias: Psicoterapia, ansiedade e saúde mental”

  1. Mais do que nunca, temos que estar atentos à nossa saúde mental. Informarmo-nos e procurarmos ajuda. Felizmente, o preconceito é menor – ainda que o caminho continuo a ser longe. Mas, que se lixe o que os outros pensem, desde que consigamos lutar por nós.
    Não conhecia o livro, mas vou tê-lo em conta. Obrigada pela sugestão <3

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