“Pensamento Positivo” e a necessidade de falar de saúde mental durante todo o ano

Temos de parar de falar de saúde mental quando morre alguém.

Desculpa começar assim, mas acho que cada vez mais se torna imperativo falar de saúde mental fora dos dias em que morre alguém por suicídio. A saúde mental é necessária e importante todos os dias, não é só em determinados dias. Claro que há dias em que é mais importante saber mais sobre o assunto, mas não será mais fácil educar para a saúde mental de uma forma constante e regular, ao longo do ano, do que despejar toda a informação num só dia?

Admito já que este é um assunto que mexe comigo e se calhar não consigo ser tão objectiva por causa disso, mas, tal como já contei por aqui algumas vezes, aos 11 anos tive de aprender o que era uma depressão e dez anos depois tive de re-aprender. Uma das pessoas que mais admirava morreu por suicídio e eu andei semanas a passar mal à conta disso. Já para não falar de que fiz psicoterapia no ano passado porque passei meses a lidar com muito mais do que podia. Portanto claro que não consigo ser isenta no que digo, mas sei bem o que é lidar com saúde mental. É por isso que acho que precisamos de falar mais dela.

Pensamento positivo e outras coisas que me irritam

Quando alguém é diagnosticado com depressão há uma tendência para dizer uma série de coisas absolutamente erradas. A primeira delas e a que mais vezes ouvi (dita a mim ou a outros): tens de ter pensamento positivo. A esta consigo juntar: mas tens uma família que gosta de ti; mas tens um trabalho; isso são só coisas da tua cabeça; não penses mais sobre isso… e a lista podia continuar.

Não sei se é a necessidade de saber sempre o que dizer, se é o desconhecimento ou a desvalorização do assunto, mas não é correcto dizer isto. Porque sim, são coisas da nossa cabeça, mas e depois? Não são válidas? E não, não se resolvem só com pensamento positivo.

A ideia do pensamento positivo começou a encher-nos os dias de uma forma absurda com as redes sociais, em que muitos proclamam que a única coisa necessária para nos sentirmos bem é pensamento positivo. Não é. Não só há alturas em que não conseguimos realmente pensar positivo, mas também há casos onde o pensar positivo não serve.

Às vezes é preciso ficarmos calados e ouvirmos apenas. Não temos de saber o que dizer em todas as situações. Não temos de falar para sermos empáticos. Às vezes só precisamos de ouvir e fazer a outra pessoa perceber que não há problema em se sentir assim e que estamos ali para ouvir e não para apresentar receitas milagrosas.

Acredito que ainda há um caminho muito longo (para todos) na educação para a saúde mental e temos de começar nas pequenas coisas, mas também na forma como falamos de saúde mental. Uma dessas formas é a forma como a comunicação social fala de casos de suicídio, com um desrespeito profundo pelo luto da família e até pela pessoa que morreu.

Precisamos de passar mais tempo ao longo do ano a falar de saúde mental, de linhas de apoio, de como a psicoterapia é importante e de como não é só dizer para ter pensamento positivo. E precisamos de o fazer urgentemente.

3 Replies to ““Pensamento Positivo” e a necessidade de falar de saúde mental durante todo o ano”

  1. Sou muito adepta do pensar positivo, mas há limites para utilizarmos essa expressão. Porque a saúde mental é um mundo muito mais complexo, que temos que aprender a respeitar e a cuidar. Não é assim tão simples, caso contrário, não teríamos um historial tão regular de depressões e suicídios.
    É urgente educarmo-nos neste sentido

  2. É tão isto, Sofia! As pessoas no geral só se lembram de falar disto quando morre alguém, quando somos apanhados de surpresa. E é necessário falar-se sobre a saúde mental, durante todo o ano como referes, precisamos de saber com o que lidamos, cada vez mais.

    E a questão do pensamento positivo, eh pá, é bom termos esse tipo de pensamento, mas lá está, simplesmente não dá às vezes e não tem mal. Devemos ter mais cuidado com o que dizemos. «Às vezes é preciso ficarmos calados e ouvirmos apenas. Não temos de saber o que dizer em todas as situações. Não temos de falar para sermos empáticos.» Às vezes, basta só estarmos lá, mais nada!

  3. A saúde mental é também algo muito presente na minha vida, em mim (transtorno da ansiedade) e em mais duas pessoas que conheço e que me são muito próximas (que já sofreram de depressão). Uma delas, quando a conheci, contou-me que já sofrera de depressão e, mais tarde, agradeceu-me imenso porque, ao contrário dos outros, eu limitei-me apenas a ouvir em vez de dizer frases dessas. Acho que é mesmo isso que disseste, mais do que tentar ser empáticos dessas formas erradas, o importante é ouvir e estar sempre lá para apoiar, não só quando algo mau acontece.
    Beijinhos
    Blog: Life of Cherry

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