Body Positivity? Sim, mas…

Pensei muito sobre este texto. Por um lado, não queria continuar calada. Por outro lado, sei que é um assunto sensível portanto precisava de pensar bem sobre ele. Decidi escrever, como acontece quase sempre. Nos últimos anos começámos a ver o termo body positivity surgir com cada vez mais força. Esta positividade corporal é necessária há décadas e vê-la surgir é um passo importante.

Este movimento tem como principal objectivo ajudar a que todos, seja de que género forem, se sintam confortáveis e felizes com o corpo que têm, seja ele qual for, como for. Isto é importante porque se vamos viver décadas neste corpo acho que o mínimo que podemos fazer é tratá-lo bem e gostar dele.

Claro que é um trabalho longo e, por vezes, complicado. Criamos demasiados complexos, comparamos muito e esquecemo-nos de que body positivity não é só para quem tem quilos a mais ou mais curvas: é para todos. Com ou sem curvas, de mamas grandes ou pequenas, de peso a mais ou a menos. E não é só respeitar o nosso corpo. É respeitar o corpo dos outros.

É aqui que entra a questão de que quero falar: quantas pessoas não dizem ser a favor do body positivity ou detestam que falam do corpo delas, mas depois vão e fazem comentários negativos e destrutivos sobre o corpo dos outros? Isto tem de acabar.

O problema do corpo dos outros

Como alguém que lidou com complexos e com comentários sobre o corpo durante toda a vida, conheço bem os efeitos que ouvir muitas vezes a mesma coisa podem ter. Isto não acontece apenas para quem é mais gordo e chateia-me que haja pessoas que sentem necessidade de escrutinar e partilhar opiniões sobre o corpo dos outros.

Se a pessoa tem mais peso então dizem logo que não é saudável, que é feia, que devia fechar a boca, que devia mexer-se mais, que tem as mamas muito grandes, que fica mal assim. Se engordou é porque se desleixou, porque não fecha a boca, e coitada da pessoa porque vai ficar sozinha para sempre, está mesmo a ficar feia.

Se a pessoa tem menos peso então também não é saudável, de certeza que passa fome, deve ter alguma doença, ui que não tem mamas, fica mesmo mal assim. Se emagreceu é porque deixou de comer, deve vomitar ou chupar cubos de gelo e coitada porque quer ser pele e osso como as modelos.

Não há descanso. Não importa quando pesem, qual o aspecto do corpo, o que comem, o que fazem. Não importa se não conseguem engordar ou emagrecer, se estão completamente saudáveis e só querem um corpo mais tonificado ou se simplesmente não se preocupam com uns quilos a mais.

Lamento, mas body positivity não é uma estrada de um só sentido. Não é só o nosso corpo que tem de ser respeitado. Dizer que gostamos do nosso corpo e que não o queremos mudar é completamente válido. Mas também é válido que alguém queira melhorar o seu corpo e o faça dentro dos limites do saudável e, por isso, é óbvio que além de respeitar o nosso temos de respeitar o corpo dos outros.

Isto também se aprende e se trabalha e, infelizmente, há muita gente que precisa ainda de o fazer. Já chega de pessoas a mandar bitaites sobre como o nosso corpo devia ou não ser, sobre o que devíamos fazer, sobre o que fazemos. Se precisamos de ajuda para melhorar o nosso corpo essa ajuda deve vir de médicos, nutricionistas e outros profissionais de áreas nutricionais ou de exercício físico. Não é com profissionais em comentários maldosos nas redes sociais.

Fica o exercício para hoje: olha-te ao espelho e, em vez de veres os defeitos, observa as qualidades e aprecia-as. De certeza que sairás mais feliz.

2 Replies to “Body Positivity? Sim, mas…”

  1. Sei que não me estás a ver, mas, neste momento, estou a fazer-te uma vénia! E há pessoas que deviam ter este texto colado no espelho, no teto, onde for, que é para ver se a mentalidade muda e fica mais empática!
    Chega mesmo de apontarmos o dedo ao nosso corpo e ao corpo dos outros. Embora possamos saber o que se passa com o nosso, não sabemos a luta de quem nos rodeia. E comentários maldosos ou, simplesmente, desnecessários não vão ajudar.

  2. A importância que tem falarmos disto, exatamente como fizeste! Este movimento é válido para todos os lados! Há pessoas que não têm o psicológico para suportar comentários maldosos, o que acaba por despoletar reações inversas às que se “desejam”. E a questão do corpo é tão mais complexa do que dão a entender… Falta de empatia é o que mas anda por aí… E pessoas que não têm o mínimo de escrutínio também. Talvez, devêssemos aconselhar fechar-se a boca não à comida, mas sim às opiniões que não se pedem! Ainda temos muito que trabalhar no que toca a este tema, mas também é da responsabilidade de cada um de nós criar as bases para essa mudança de mentalidade!

    Beijocas,
    LYNE, IMPERIUM BLOG // CONGRESSO BOTÂNICO – PODCAST

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