Tempo, seu filho da mãe

A lista de coisas que hei-de escrever um dia não pára de crescer. Tento lembrar-me de que isso é uma coisa boa, de que é sinal de que as ideias não me abandonaram, de que a inspiração não me abandonou, de que a vida é melhor quando a inspiração anda connosco. Mas não deixo de sentir uma certa ansiedadezinha ao olhar para a lista que não pára de crescer: ela cresce, mas eu não lhe estou a tirar nada porque não tenho tempo ou não consigo ter tempo ou não sei ter tempo.

Estou a entrar na época de entregas de trabalhos. Começam esta semana: uma apresentação, um texto de portefólio, um ensaio. Em Janeiro há mais: um teste, um portefólio revisto, três trabalhos. Tento não pensar que estou muito atrasada em dois desses trabalhos, que num deles ainda nem sequer sei o ângulo que vou dar à escrita. É engraçado porque isto só está a acontecer porque eu disse que tinha tempo para fazer tudo com calma. Afinal tinha tempo ou conseguia ter tempo ou sabia ter tempo.

Quando decidi que agora era altura de vir fazer um mestrado sabia que era uma decisão arriscada. Vir fazer um mestrado que funciona em regime diurno era um risco a correr. Todos os meses em que senti que não tinha tempo porque trabalhava tantas horas iam culminar em ter tempo (e dinheiro, vá, sejamos honestos) para estudar. E agora, na falta de tempo, sinto falta do outro tempo em que não tinha tempo.

E, no meio disto tudo, sinto o tempo correr e compreendo o início do tick, tick… BOOM! a um nível maior do que imaginava. Mas ainda resta algum tempo, certo? Talvez seja o tempo para a aceitar que nunca voltarei a ter tempo como já tive, que para ter tempo é sempre preciso deixar algo de lado, que só saberás ter tempo se souberes priorizar e que, por vezes, isso significa que só mais tarde percebes que tens uma tonelada de roupa por lavar ou que não sabes realmente escrever ensaios académicos porque o que aprendeste a escrever foi outro tipo de textos.

E talvez a lista não pare de aumentar, e talvez não escreva nem metade daquilo, e talvez já vá tarde para voltar a dar relevo ao meu instagram, e talvez já devesse ter feito mais vídeos, e talvez já devesse ter mais textos publicados, mais livros publicados, mais objetivos alcançados. Mas o tempo, esse filho da mãe, ainda não deu para tudo. Nunca vai dar para tudo. Se calhar devia aceitar essa condição do tempo.

P.S.: Não é que tive tempo para escrever estas 400 palavras? E para ver histórias da Raquel Vareda, que motivaram todo este texto.

2 Replies to “Tempo, seu filho da mãe”

  1. O tempo consegue ser mesmo o nosso maior aliado ou uma autêntica pedra no sapato. Porque, por mais que priorizemos, por mais que tentemos racionalizar e focar no essencial, parece que há um momento em que nos foge do controlo.

    Tu consegues <3

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