É inevitável. A partir deste momento a forma correcta de dizer a minha idade é vinte e tal. Já não são vinte e poucos, já não são vinte e cinco: são vinte e tal. Pronto, são vinte e seis. É muito estranho dizer isto. Talvez ainda mais estranho porque, apesar de este texto sair no dia 8 de Novembro às 20h30 (a hora exacta a que nasci), estou a escrever isto umas horas antes do meu aniversário e umas horas depois de se saber que Joe Biden venceu as eleições dos Estados Unidos. As eleições não têm uma relação directa com o meu aniversário, mas o sentimento de esperança e de calma que veio com o esperado fim da era Tr*mp é o mesmo que sinto com o fim da era dos vinte e cinco e o início da era dos vinte e tal.
Foi um ano estranho. Como podia não ser? Mas, entre uma pandemia e uma crise socio-económica on the making, sinto mesmo que consigo retirar algo bom deste último ano. Talvez a parte mais importante do que aprendi esteja aí: aprendi a realçar o melhor de mim mesmo em períodos imprósperos, o que é uma vitória minha e da psicoterapia, que comecei semanas antes do fim dos 24 e que me deu ferramentas incríveis para o início dos 25… e do resto da vida. Com isto aprendi a refugiar-me no que me faz bem… e em quem me faz bem. Aprendi o que é sentir liberdade no fim de uma relação tóxica… e aprendi que as relações tóxicas não são só amorosas, mas também podem ser de amizade ou mesmo a relação que mantemos com o nosso trabalho. Não é que eu achasse que não havia outro tipo de relações tóxicas, só achava que não havia relações tóxicas na minha vida: mas havia.
Também aprendi que até gosto de poesia… pelo menos da poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen, com grandes expectativas para experimentar outros poetas. Também foi o ano em que realmente aprendi a gostar da companhia dos podcasts e a tornar essa companhia regular: em caminhadas, no carro, no banho. Aprendi a ir sozinha à descoberta de novos locais e perder-me, mesmo com GPS.
Reaprendi a gostar de exercício, mas ainda não aprendi a incluí-lo em rotinas diferentes. Hei-de lá chegar e voltar a fazer os vídeos de dança da Pamela Reif, mas até lá… Aprendi a respeitar o período de tempo de adaptação a uma nova rotina. Noutras alturas senti-me frustrada, irritada e desmotivada, mas finalmente consegui aprender a dar a volta a esses sentimentos negativos e a abraçar novas rotinas com paciência, calma e algum sono.
Aos 25 aprendi também várias coisas úteis para o resto da vida. Ora atenta: aprendi a fazer bolo de côco (e é tão bom!). Aprendi dezenas de palavras em italiano e umas quantas em alemão também. Hei-de continuar o italiano ao longo dos 26. Aprendi a fazer focaccia. Aprendi (com o resto do mundo) a viver numa pandemia… e que aprendizagem tem sido esta! Aprendi a fotografar cometas, embora tenha falhado muito e as fotografias não tenham ficado tão bonitas quanto eu queria (culpa da falta de tripé e de experiência).
Aprendi que planeamento é tudo, mas só quando sabemos adaptar-nos. Acho que adaptação vai ser a minha palavra do ano. Aprendi que até gosto de trabalhar em atendimento ao público, embora ainda esteja a tentar descobrir como é que tal é possível. Comecei a aprender, de forma inesperada, coisas novas sobre medicina veterinária. E reforcei a certeza de que, mesmo sem grandes problemas entre as ciências exactas, sou mesmo pessoas das ciências sociais e das letras.
Aprendi a ligar para o 112. Sim, eu sei que é só carregar nos números e colocar a chamar, mas também é mais do que isso. É saber dar informações precisas, é saber manter a calma, é saber que aquela chamada pode salvar vidas. Aprendi a tomar o pequeno-almoço todos os dias, antes de sair de casa. Aprendi a voltar a dar um lugar de destaque à sopa e agora praticamente todos os meus dias incluem um prato (ou dois) de sopa. Aprendi a arrumar gavetas com o método da Marie Kondo… e, sem querer evangelizar, melhorou muito a minha vida.
Aprendi a reforçar a minha posição social e política, que é como quem diz: aprendi a dedicar o meu tempo a estudar, a ouvir, a observar e a manifestar-me por aquilo em que acredito. Aprendi o tipo de promoção literária que não quero fazer: não quero ser aquela pessoa amargurada que só tem palavras negativas a dizer sobre os outros leitores ou sobre os outros autores. Aprendi que, por vezes, superamos mesmo livros/filmes/séries que achávamos que íamos admirar durante muito tempo. Umas vezes porque encontramos géneros com que nos identificamos mais, outras vezes porque os autores nos desiludem a tal ponto que não há volta a dar, mas também por vezes em que simplesmente crescemos.
Aprendi quando não vale a pena tentar mais: quando não vale a pena responder àquela ofensa na internet, quando não vale a pena mandar mais mensagens sem resposta, quando não vale a pena tentar comer mais favas. E, ao mesmo tempo, aprendi quando vale a pena tentar mais: quando vale a pena aguentar até ao fim do exercício de abdominais, quando vale a pena procurar informações para o futuro, quando vale a pena tentar aprender, quando vale a pena pensar, programar e executar.
Estaria a mentir se dissesse que não tenho coisas pensadas para os 26. Tenho muitas coisas pensadas para os 26 e todas elas rodeadas de esperança, calma e receio. No entanto a única coisa que quero pedir aos 26 é saúde. Haja saúde e tudo o resto se há-de compor. E que daqui a um ano esteja a escrever sobre este ano com a mesma leveza no coração.
Quando o nosso caminho é virado do avesso, temos sempre duas opções: ou ficar no chão ou tentar retirar de cada contrariedade um novo mecanismo de defesa. Por isso, acho sempre importante olharmos para o que nos aconteceu e definir o que pode vir de bom. Porque vai-nos preparando para o futuro.
Que aprendizagens maravilhosas! Espero mesmo que, daqui para a frente, consigas reunir outras tantas. E tenho a certeza que sim
P.S. Feliz aniversário <3
E que esses 26 tragam muiiiitas surpresas boas! Estarei por aqui a aplaudir contigo, a dar-te abraços virtuais (e quem sabe, partilhar lanches como há muito merecemos!), a apoiar-te… Acima de tudo, a desejar o teu bem! ??