27 coisas que aprendi aos 27*

Chegar aos 27 anos foi a cena mais estranha de sempre. Quando escrevi sobre o meu aniversário em 2021 disse que talvez viesse a descobrir que era a cena mais fixe de sempre, mas, naquele momento, era só a cena mais estranha de sempre. Um ano depois, não sei se diria que foi a cena mais fixe de sempre, mas foi uma viagem interessante, complexa e que, definitivamente, me mudou.

Os 27 foram um ano cheio de conhecimento — maioritariamente autoconhecimento. Foi um ano de muitas inseguranças, de muitos medos e de muitas dúvidas. Também foi um ano de muito vinho, de muitas pessoas e de muita necessidade de experimentar, de tentar, de desafiar conceitos e de simplesmente querer perceber o que fazia ou não sentido.

Aprendi que até gosto de poesia e, por isso, li mais poesia do que alguma vez tinha feito. Continuo a não ser especialista em poesia e a preferir ler apenas por gosto e sem grandes análises, mas, aos poucos, tem sido interessante introduzir este género nas minhas leituras. Acredito que o mestrado me moldou e ensinou muito ao longo deste ano, porque me fez questionar algumas vertentes da leitura e da escrita em que não tinha pensado — tanto quando escrevi sobre o documentário Meeting The Man como quando escrevi o meu ensaio preferido, sobre o Em Viagem pela Europa de LestePensei muito sobre livros, carreiras académicas e sobre como ter um interesse real num tema me facilita muito a escrita… principalmente académica.

Talvez por tudo o que pensei sobre literatura, comecei a pensar o tipo de escrita que quero na minha vida e fiz algo que devia ter feito há muitos anos: recuperei os direitos de autor dos meus livros — e estes deixaram de estar publicados. A escrita é a minha vida. Cada vez mais. Em níveis de prioridades, vem logo depois da minha família. Por isso tenho-a respeitado cada vez mais e tenho-me esforçado por lhe mostrar esse respeito. Mesmo que, por vezes, seja ela que parece sofrer mais com os problemas da vida.

Foi um ano em que aprendi a fazer testes de Covid e, para ter uma experiência mais completa, tive mesmo Covid e fiquei fechada em casa durante uma semana — algo que me custou para caraças. Foi um ano em que saí mais de casa. Saí à noite, bebi, fui a uma festa até de manhã — só mesmo a Taylor Party conseguiria tal coisa de mim.

Neste ano aprendi que gosto de usar sombra de olhos em modo quase diário, aprendi a fazer gin tónico (forte, disse ele) e quase aprendi a andar de skate. Quase. Descobri que gosto (muito) de vinho verde. Continuo a não gostar realmente de vinho tinto. Aprendi a conduzir no meio da confusão. Ainda estou a aprender, vá. Aprendi a definir prioridades, mesmo quando é difícil, e a reconhecer que quando não organizo trabalho não lido bem com o caos. E, por isso, aprendi que odeio mesmo fazer coisas em cima da hora.

Sinto que foi o ano em que melhor aproveitei o tempo com a minha mãe e com a Lady, mesmo que tenha sido pouco. Elas são a minha prioridade. Também aprendi que não vale a pena me forçar a ver filmes, mas há filmes que valem a pena — tipo o American History X. Foi um ano em que, de um mês para o outro, me sentia tão diferente que parecia que havia coisas que deixavam de me servir. Talvez tenha sido a maior e mais real crise de identidade desta década.

Este foi o ano em que finalmente celebrei um campeonato do Porto no Porto, como sempre quis, em que fiz uma tatuagem que me irá lembrar para sempre deste ano — e que me deu vontade de fazer já outras. Aprendi o significado de tomar decisões difíceis só porque é a coisa adulta a fazer e fui trabalhar ao mesmo tempo que quero fazer a tese. Percebi que aquilo que quero aprender agora é literacia financeira e finanças pessoais e comecei a tratar do meu fundo de emergência (que, felizmente, já estava começado) ao mesmo tempo que fiz um PPR.

Esforcei-me por conhecer pessoas e conheci muitas pessoas diferentes, com ideias, gostos e ambições diferentes. Umas vou esquecer certamente, outras talvez me deixem uma marca impossível de ignorar. Ao longo dos 27 senti-me muitas vezes feliz, livre, confusa e sozinha, por vezes ao mesmo tempo. Em poucos meses, decidi que queria mudar-me, mudei-me e quase me arrependi, até ao dia em que, numa caminhada, me emocionei a ver o pôr-do-sol no meio de árvores outonais e percebi que me sinto aqui em casa de uma forma como só me sinto em Fiães.

Mas acho que aquilo que aprendi de mais importante — e que certamente me marcará para sempre — foi tudo o que aprendi por, no dia 25 de fevereiro, ter permitido que um gajo muito alto e moreno entrasse na minha vida. Aprendi que às vezes é preciso deixar entrar as pessoas, mesmo com medos, mesmo com inseguranças, mesmo com a possibilidade de irem embora. Até porque quando elas querem entrar elas entram e pronto. E quando querem sair elas saem e pronto. Aprendi muito sobre amor — vários tipos de amor. Aprendi que aceitamos mesmo o amor que achamos que merecemos… e damos o amor que achamos que a outra pessoa merece. Aprendi que sexo é bom, mas a ligação que criamos com essas pessoas além do sexo torna-no sempre melhor.

O ano dos 27 foi o ano em que, sem nada o fazer prever, me apaixonei de uma forma absurda, sem qualquer paraquedas, aviso ou intenção. Num dia a vida era tranquila, sem dramas, e no outro ele era tudo o que eu podia querer. Tudo o que partilhámos tornou o meu ano muito mais bonito, intenso e especial. Vou sempre agradecer aquela manhã de fevereiro em que me pagou um café — mesmo que tenha sido para aí o último café que bebi — porque foi aquela manhã que me mudou por completo e que fez todo o meu ano ser aquilo que foi. Só que o ano dos 27 também foi o ano em que parti o coração de uma forma absurda. Queimei-me, mas pelo menos fomos eletrizantes.

Não esperava nada disto dos 27. Não esperava chegar aos 28 a viver na Maia, depois de viver tudo o que vivi este ano. Não esperava chegar aos 28 e fazer tanta coisa por sentido de responsabilidade. Não esperava chegar aos 28 e às vezes continuar sem saber se estou a seguir o caminho certo ou se estou a fazer a coisa certa ou simplesmente não saber como continuar a lidar com a vida. Sei, isso sim, que há uma série de coisas que gostava de fazer no próximo ano, mas sei lá o que me reservam os astros para os próximos 12 meses.

* acho que não são mesmo 27, mas o que conta é a intenção.

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